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Aramis

O melhor ficou nas exibições paralelas

Um momento de emoção no FestRio foi quando Mercedes Sosa, que havia chegado ao Rio na manhã de sábado, 30, subiu ao palco para entregar a sua amiga Estela Bravo, o prêmio especial dado ao tape "Ninos Desaparecidos", que aborda a repressão na Argentina. Mercedes foi - ao lado de Fernanda Montenegro - a personalidade mais aplaudida do FestRio. A meia-noite de sábado, ela foi ao Bruni-Ipanema, para encerrar a mostra "Midnight Movies", que ali se realizava (um dos eventos paralelos do FestRio). Com a exibição de "Sera Posible El Sur". Intitulado "Uma viaje por Argentina de la mano de Mercedes Sosa", "Sera Posible El Sur" é um elogiado documentário já mostrado em alguns festivais da Europa e que, infelizmente, até agora, ainda não encontrou nenhum distribuidor no Brasil. No Bruni-Ipanema, cinema pertence ao exibidor Roberto Darze, foram projetados alguns dos filmes de maior sucesso do FestRio, trazidos especialmente para esta mostra: desde o inédito "Falsfatt" , que Orson Welles (1915-1985) realizou entre (1977/75, na Espanha, até o filme gay "Taxi Zum Klo"(Taxi para o banheiro), produção holandesa, autobiografada, sobre um professor homossexual (Frank Ripplot). Com cenas de sexo explícito entre homossexuais, este filme lotou em três sessões, com a fauna gay carioca - e, na fila, até o cantor Ney Matogrosso podia ser visto. Frente a tanto êxito, Jean Gabriel Albicoco, da Gaumont-Alvorada, não teve dúvidas: Taxi Zum Klo", ao lado de "Ram", "Exílio de Gardel" e - se a censura liberar - "Je Vous Salue, Marie"- estará entre os filmes de maior sucesso para lançamentos no Brasil em 1985. OS FILMES EM COMPETIÇÃO - Entusiasmar mesmo, nenhum dos 22 longas e 9 curtas em competição no FestRio, conseguiu. Houve, isto sim, decepções. Por exemplo, respeitado Arthur Penn, 63 anos, que tinha o seu recentíssimo "Target", aguardado como a grande esperança do Festival, mereceu vaias ao final da exibição deste thiller movimentado mas esquemático sobre as trapalhadas de um ex-agente da CIA tentando libertar sua esposa das mãos de um maníaco espião aposentado em Berlim Oriental. Merry Streep, que vem sendo falada como forte candidata a ganhar seu terceiro Oscar (anteriormente já foi premiada por "Kramer x Kramer" e "A Escolha de Sofia") por "Plenty - O Mundo de Uma Mulher" (ao australiano Fred Schpisi, radicado agora nos EUA) também decepcionou - e acabou perdendo o Tucano de Ouro para Glenda Jackson, sempre vigorosa e a desconhecida canadense Christine Pak em "90 Days", filme que chegou atrasado, sem legendas e que poucos viram. A Espanha conseguiu apresentar o pior filme da competição: a chanchada "Se Infiel Y No Mires Com Quien", de Fernando Trueba, que nem a beleza da cantora Ana Belém (ao lado de Carmem Maura) conseguiu salvar. Houve filmes interessantes, bem realizados, mas que provavelmente não chegarão aos circuitos comerciais: o dinamarquês "Os Demónios Voadores", do jovem Anders Refn (sobre o mundo circense); o húngaro "Que Horas São Dr. Despertador" de Peter Bacsó (que teve, ao final, uma menção honrosa do júri); o russo "Como Éramos Jovens" , de Mikjail Belikov (mostrando uma juventude soviética dos anos 50, descontraída, fã de jazz e em problemas amorosos); o checoslavaco "Cuco da Floresta Escura" - a exemplo do filme húngaro e de "Plenty", também tendo a II Guerra Mundial e o nazismo como cenário. Emotivo e bem realizado, "Um Adeus Português", valeu ao jovem João Botelho o tucano de Ouro de melhor diretor. Ecológico e humanista, "Turtle Diary" deu o prêmio de melhor atriz a Glenda Jackson (dividido com a canadense Christine Pak, de "90 Days" uma comédia de comportamento, narrada em linguagem teatral). Entre mortos e feridos, "Tiempo de Morir", produção colombiana, direção de Jorge Ali Triana, com roteiro de Garcia Marquez (com uma estrutura de western) acabou sendo o grande premiado: Tucano de Ouro como melhor filme; prêmio a Gustavo Angarita como melhor ator e dois troféus paralelos - do Centro Internacional do Filmes para infância e Juventude e da Federação Internacional dos Cineclubes. Os filmes brasileiros ganharam apenas premiações paralelas: a OCIC distinguiu "Céu Aberto", documentário de João Batista Andrade sobre a agonia de Tancredo Neves; os cineclubistas premiaram "Tigipió", do cearense Pedro Jorge de Castro e a Associação do Cineastas deu um prêmio especial a Rogério Sganzerla por seu "Nem tudo é Verdade"- semidocumentário, semificção, sobre a passagem de Orson Welles pelo Brasil em 1942. "Braz Cubas", vanguardista visão que Julinho Gressane fez do romance de Machado de Assis, ganhou apenas uma menção especial da OCIC - que também deu uma distinção a "Frida", do mexicano Paul Deluc - que embora exibido hors-concurs, foi, no entender de muitos, o melhor momento do Fest-rio-85. LEGENDA FOTO: "Os Demônios Voadores", filme dinamarquês sobre o mundo do circo.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
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08/12/1985

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