O mundo mágico de Tihany (I)
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 04 de setembro de 1983
Sexta-feira, após o espetáculo, quando as luzes do Circo Tihany apagaram-se, seus artistas, técnicos e funcionários, reuniram-se numa animada festa no Pinheirão Campestre, no lado oposto da Avenida Victor do Amaral, onde o circo está montado ha duas semanas. Um ambiente de alegria para urna comemoração muito especial: o casamento da bailarina Miriam Teresa Fernandes, argentina de Cordoba, há 5 anos no Corpo de Baile do Circo Tihany, com Fernando Espana, mexicano de Puebla, 28 anos, um dos mais atléticos integrantes do grupo de trapezistas formado com três outros irmãos, uma prima, uma cunhada e uma irmã. O próprio Tihany (Franz Szeisler, 65 anos) - em sua comunicabilidade que lembra Maurice Chevalier, foi uma das testemunhas na cerimônia civil do casamento. Sorridente e feliz. disse:
"Mais urna vez vejo que a minha família aumenta!"
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Um dos maiores orgulhos deste mágico e empresário circense, nascido na pequena cidade de Tihany, na Hungria - que adotou como seu nome seu artístico, é ver artistas que trabalham em sua empresa se unirem em felizes relações. O espírito de família, a amizade entre as centenas de pessoas que desde 21 de abril de 1954 - quando o Circo Tihany teve sua primeira noitada, na cidade de Jacareí no Interior de São Paulo trabalham neste mundo iluminado, colorido e mágico debaixo de imensos toldos -são preocupações de Franz Czeisler fundador e presidente da verdadeira empresa que é o seu circo – o maior da América do Sul e um dos melhores do mundo.
Há muito que as improvisadas lonas verdes que não resistiam as chuvas mais fortes foram substituídas por perfeitas lonas produzidas pela Canobbio, de Milão. Ao invés de perigosas arquibancadas, em madeiras, os quase 4 mil lugares se espalham em confortáveis e seguras poltronas e cadeiras, nas várias seções do circo. Ao invés do picadeiro com serragem, um moderno palco - e que dentro de algumas semanas, quando o circo já estiver cm Montevidéu, será substituído por outro ainda mais moderno, totalmente controlado por computadores - e que Tihany comprou há dais meses, em Sarasota, Flórida por US$ 1.000.000.
O circo, para Tihany, é uma empresa que "precisa ser atualizada e acompanhar o que existe de melhor". Por isto, as atuais instalações foram planejadas pela Officine Construzio Meccaniche Cav Sante, de Veneza, com iluminação e efeitos trazidos da Imel Park Reggio Emilia, refletores fabricados pela Strong Trouper, de Toledo, Ohio. Três operadores de computadores. meia dezena de técnicos de luz e um modernissimo som, comandado por chinês Leung Kam Wah, mostram porque o Tihanv é um circo que deu certo. "Aqui nada se improvisa, tudo se planeja" diz Siegfried Unger, alemão naturalizado brasileiro, encarregado de toda a estrutura e engenharia do complexo Tihany - comandando mais de 100 pessoas, entre técnicos e auxiliares.
Para o menino da cidade de Tihany, na Hungria, de uma família de artistas - um de seus primos foi a ator Peter Lorre (1904-1966), que estreou em Berlim e, a partir de 1935 imigrou para os Estados Unidos - chegar ao ponto de possuir um dos maiores circos do mundo, representou uma longa caminhada. No próximo ano, quando o Circo Tihany completar seus 30 anos, Franz Czeisler estará comemorando seus 55 anos de vida artística. Isto porque muito antes de vir para o Brasil como imigrante, em 1953, já trabalhava nos palcos da Hungria, Rumenia e Checoslováquia, como ator, bailarino e, por último, mágico - atividade que exerce até hoje como uma das muitas atrações de seu espetáculo.
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-"Quando cheguei no Brasil, decidido a formar meu próprio circo, comecei com um espetáculo base na mágica. Tanto é que o nome com que iniciamos era "Circo Mágico Tihany".
Pouco a pouco foi crescendo. Relacionando-se diretamente com os maiores circos do mundo, mantendo agentes no Exterior, preocupando-se sempre em reciclar seus espetáculos. Tihany conseguiu não só fazer a sua companhia prosperar - ao contrário de dezenas de outros circos que desapareceram - mas se qualificar entre os melhores do mundo. Hoje, se divide entre suas atividades no Brasil e permanências em Sarasota, na Flórida - "a cidade dos circos". Lá estão os núcleos dos majores circos do mundo, incluindo o lendário Ringling. Barnum & Bailey (que em 1952 se tornou mundialmente famoso através do filme "O Maior Espetáculo da Terra" e, há 3 anos, foi homenageado com o musical "Barnum", grande sucesso na Broadway, em Nova Iorque). Apesar de seu sucesso no mundo do circo "difícil e altamente competitivo" Tihany admite que no fator humano reside a grande dificuldade:
- "O circo não vai morrer mas está perdendo aos poucos o seu público. A causa é a falta de bons profissionais". E justamente a busca de bons profissionais, "estejam onde estiverem" é uma das
maiores preocupações de Tihany. Anualmente, novos artistas são contratados, "pois é necessário renovar os espetáculos".
Nas últimas semanas, Tony Gander, bailarino e coreógrafo responsável pela beleza visual do balé do circo, supervisionou os ensaios dos novos números que o Tihany estará estreando, oficialmente, em Montevidéu, dentro de duas semanas. Dentro da temática "Do esplendor de Roma antiga á era espacial", alguns quadros deste novo show poderão ser vistos nas apresentações de amanhã e quarta-feira, quando o circo deixa Curitiba.
É um grande ensaio-geral, para testar o funcionamento destes novos quadros".
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Tal como a família Knieps, do poema "O Grande Circo Místico" de Jorge de Lima (1893-1953) - que inspirou ao balé de Chico Buarque e Edu Lobo - a tradição familiar é uma das mais belas constantes de um grande circo. O casamento da bailarina Miriam Teresa e o trapezista Fernando. ocorrido na noite de sexta-feira, é uma prova disto. Miriam, uma loira charmosa, é filha do velho Folco Fernandes, chefe do setor de funilaria (e porteiro quando o movimento aumenta), no qual está há 5 anos, depois de passar por 7 outros circos, na América do Sul. Fernando é da família Fernandes, "trapezistas há 3 gerações . A família Tihany também é sólida em suas tradições, seu filho, Ludwig Creisler Tihanv Jr., é vice-presidente, mágico e diretor artístico da companhia. Seu neto, Alexandro, 23 anos, diretor adjunto, enquanto Ilona Czeisler cuida da produção de manequim, e Carmen Czeisler tem a responsabilidade do imenso guarda-roupa - um dos maiores patrimônios do circo. Só a neta mais moça, Katherine, 9 anos, não viaja com a companhia: estuda nos Estados Unidos. Com a jovialidade de quem sabe que o espetáculo não pode parar. Tihany diz:
- "A minha vida é o circo e só espero Ter forças para nele dar meus últimos suspiros. Quando morrer, quero que isto aconteça neste ambiente em que sempre vivi".
LEGENDA FOTO 1 – Tihany: "faltam profissionais para o circo".
LEGENDA FOTO 2 - Bailarina Myriam Fernandes: casamento circense na sexta-feira.
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