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Aramis

O mundo profundo de Joseph Conrad

Coube ao [curitibano] Roberto Muggiati, diretor da "Manchete" e um dos mais cultos jornalistas brasileiros, lembrar ao editor Caio Graco, da Brasiliense, da importância da obra de Joseph Conrad (Teodor Józef Konrad Korzeniowski Berditchev, 1857 - Bishosbourne Kent, 1924). Descendente de família aristocrática, emigrado por causa da opressão czarista, tornou-se capitão da marinha Mercante inglesa, que o atraiu pelos valores de coragem e disciplina. Retirado do serviço ativo, começou a escrever em inglês, que ainda não dominava bem, chegando z se um dos maiores escritores da língua inglesa. No Brasil, Conrad é mais conhecido como autor de "romances marítimos " ou " exóticos", quando, na verdade, pode se chamado de "escritor de escritores" - como acentua Muggiati na introdução de "" No Coração das Trevas". Se "Lord Jim", através de sua transposição cinematográfica com Peter O'Toole, dirigida por Richard Brooks, em 1965 (a segunda, já que em 1925 havia tido uma versão muda) lhe deu certa popularidade, foi o fato d o roteiro de John Milius, para "Apocalipse Now!" ter sido "livremente inspirado" em "The heart of darkness" que provocou maior interesse pela obra de Conrad. Coincidentemente, duas diferentes traduções de "The heart of Darkness" apareceram no Brasil: uma, por Marcos Santarita, com o título de "O Coração das Trevas" (Brasiliense) e outra, em tradução de Hamilton Trevisan, com uma pequena diferença no título: "O coração da treva" (Global, coleção Magias). O importante é que se tem, assim, uma das obras mais importantes da literatura inglesa em duas boas traduções. Se a ação de "The heart of darkness" se passa no Congo, na transposição que Francis Coppola fez para o cinema atualizou a ação para a guerra do Vietnã - mas a seriedade da obra foi mantida. Agora, estimulada pelas boas vendagens de " O coração das trevas", a Brasiliense incluiu na coleção Circo de Letras, outra obra de Conrad: "Sob os Olhos do Ocidente" (Under Western Eyes, 1911) - também em tradução de Marco [Santarita] (320 páginas, Cr$ 10.500,00). A ação se passa na Rússia, em 1911, em meio aos extremos de miséria e ostentação do regime czarista. A história parte de um assassinato envolvendo Cirilo Sidorovitch Razumov, configura-se o contexto e o cenário em que Conrad pretende se movimentar ao longo da narrativa: uma Rússia em conflito, torturada por uma luta muito maior que a disputa de classes e interesses. Trata-se de um embate em que os dois lados alimentam visões de uma Rússia santa, redentora da humanidade. Os personagens são burocratas de impessoal crueldade e revolucionários indignados, revoltados e impotentes. O confronto deles chega à beira do misticismo, na fronteira entre o bem e o mal. Segundo o próprio Conrad, "Sob os Olhos do Ocidente" é uma tentativa de transmitir não tanto as condições políticas quanto a psicologia da própria Rússia. Uma tentativa que alcança seu objetivo principalmente quando se observam alguns aspectos da vida de Conrad. Nascido na Polônia Russa em 1857, ele naturalizou-se britânico aos 28 anos. Viajou por diversos continentes, sofreu naufrágios e muitas de suas novelas contam aventuras inspiradas nas experiências como marinheiro. Elas denotam essa relação entre a vida e a obra: trazem sempre o drama do homem europeu perdido no cenário periférico da Ásia e da África. Sua visão, portanto, é a de um observador que se põe entre o Oriente e o Ocidente. "Sob os Olhos do Ocidente" é talvez o melhor exemplo disso. Uma espécie de síntese do pensamento conradiano. LEGENDA FOTO - Conrad: dupla tradução
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
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09/12/1984

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