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Aramis

O Nativismo ajuda promover a música

O mais antigo e famoso dos festivais nativistas - o California da Canção, em Uruguaiana, RS, ganhou no último domingo, 6, em sua 17ª edição, a transmissão em cadeia nacional pela televisão de sua finalíssima. Assim como, em 1971 os dirigentes do C.T.G. Sinuelo do Pago, ao idealizarem o evento "destinado a preservar a autêntica música gaúcha" já tiveram o bom senso de, encerrada a promoção, levar os vencedores, a um estúdio de gravação em São Paulo para produzirem um elepê com as 12 finalistas, agora começa nova fase do California: o seu registro em vídeo. A transmissão pela televisão foi apenas um passo - mas poderá ter multiplicações em edições de vídeos, no futuro, o que será uma nova fonte de recursos a promoção - hoje já com uma autonomia administrativa e que a exemplo da maioria dos festivais nativistas acontece praticamente sem ter que recorrer ao poder público. O exemplo da California foi seguido pelas dezenas de eventos nativistas que se sucederam a partir de 1972/73: a valorização da música nativista e, principalmente, a gravação em discos das finalistas. Assim, praticamente todos os festivais que aconteceram no Rio Grande do Sul nestes últimos 15 anos ficaram registrados em elepês (que as emissoras locais fazem questão de programar intensamente e, quase sempre, esgotando edições de 5 a 80 mil cópias. No início, produzidos pelas próprias comissões organizadoras dos Festivais, as gravações passaram a interessar as gravadoras - e especialmente a Continental soube explorar este filão, tanto é que Ayrto dos Anjos, o mais atuante produtor fonográfico do Sul, realizou mais de 300 (entre quase mil) discos que saíram na última década, o que faz com que a produção fonográfica gaúcha, devidamente cadastrada pelo Instituto Gaúcho de Tradição e Folclore aproxime-se hoje da casa dos 10 mil, um número recorde. Dos festivais nativistas surgiram instrumentistas, compositores e especialmente intérpretes - solistas ou em grupos que, pouco a pouco, vão fazendo suas carreiras solos. Nunca é demais repetir que a pujança musical gaúcha é imensa com centenas de profissionais, tanto os que participam ciclicamente dos festivais (cada vez com premiações mais atraentes: em Santa Rosa, o vencedor ganha um Del Rey O Km), como fazendo shows, apresentações em clubes, ginásios e mesmo teatros. Já por três vezes, Airto levou ao Rio de Janeiro grupos de artistas gaúchos para temporadas de sucesso e, no ano passado, o mais respeitado nome do nativismo gaúcho, o pesquisador, compositor, dançarino e cantor Paixão Cortes, acompanhado de um grupo regional, a convite da Varig esteve até na Escócia, divulgando a música de seu Estado. O boom nativista - que há quatro anos já registrávamos numa série de artigos em nossas colunas - só tem crescido. Hoje, etiquetas regionais como a "Quero-Quero", de Gilberto Carvalho (responsável pela gravação do XVº Fercapo, em Cascavel, cujo elepê com as 12 finalistas ainda não saiu), a "Pialo" e, especialmente a "Discoteca", mensalmente fazem lançamentos - seja de discos de festivais, de sanfoneiros, grupos vocais, violeiros ou cantores. No Paraná, como primeiros resultados do crescimento nativista, começam a crescer também as gravações de música regional. Embora ainda timidamente, sem saberem promover suas gravações, grupos e solistas tem feito discos interessantes, de vendagem certa principalmente no Interior. Há alguns meses, o grupo Os Pratas do Sul, de Santo Antonio da Platina, liderado por Dirceu Rocha, fez o elepê "Sempre Rio Grande" (etiqueta Sabiá, Copacabana), que com composições próprias, mostra o vigor deste sexteto formado por Alberto Costa Caetano (acordeom), Derci Marques (violão), Francisco Romeu (baixo), Oscar Alves (violão base), Alcemar Moraes Marques (cavaquinho) e Carlos Oliveira (bateria). Falta muito para o Paraná ter um movimento musical, de raízes, que se aproxime do Rio Grande do Sul - mas os primeiros passos estão acontecendo. E na proporção que eventos musicais forem acontecendo - e tendo registros em discos e fitas - abrir-se-ão perspectivas para que os talentos existentes deixem o anonimato e ganhem o espaço merecido.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
10/12/1987

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