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Aramis

O piano, o vilão e o canto erudito

Como concentrou em 1987 as edições de gravações de música antiga, especialmente com a vinda ao Brasil da Academy of Ancient Music, regida por Christopher Hogwood, o jovem Leonardo Barros, diretor do setor de música erudita e jazz da Polygram vem procurando fazer seleções dos mais caprichadas, atingindo um público que, como não nos cansamos de registrar, tem grana para comprar aquilo que gosta mas é exigentíssimo. Só adquire ainda as gravações convencionais quando não consegue o laser, embora a prensagem da Polygram seja ótima. No pacote erudito de outubro, estão três álbuns da Archiv Produktion com a English Barroque Soloists, sob regência de John Eliot Gardiner e tendo Malcon Bilson como solista, na execução dos concertos para piano de números 12, 14, 16, 17, 18 e 19 de Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791). Em textos diferentes, do musicólogo Nial Zaslaw é explicada a importância destes concertos - que embora com inúmeras gravações, ganharam na versão da English Barroque Soloists e nos teclados de Bilson uma releitura especial. Valorizado também o álbum pela bela capa, com desenho de Maria Aibyla Morian (1680) com designer do artista hamburguês Elke Neuss-Burghoff. Já o pianista Alfred Brendel, 56 anos, checo naturalizado austríaco, discípulo de Feuernemann e Fischer, é considerado hoje um dos maiores intérpretes da obra de Franz Liszt (1811-1886). Um novo volume da série que fez na Philips chega ao Brasil, com a "Sonata em Si Menor", "Legendas" e os dois tempos de "La Lugubre Gondola". Outra virtuose do piano, a argentina Martha Argerich, 46 anos, vencedora do concurso Chopin em Varsóvia há 22 anos, aluna de Michelangelli, é outra artista que tem periodicamente seus discos aqui editados. Desta vez, Leo Barros escolheu a gravação que dividiu com o violinista Gidon Kremer, interpretando as Sonatas nº 1 e 2 de Robert Schumann (1810-1856). Brendel reaparece em duas outras gravações, acompanhando o barítono alemão Dietrich Fischer-Dskau, 72 anos. Um dos grandes intérpretes de nossa época, tendo iniciado sua carreira de concertista há 40 anos com "Um Requiem Alemão", de Brahms, Dreskau cantou e gravou todos os lieder de Franz Schubert (1790-1828) - com os "Winterreise", 24 peças que ocupam um dos elepês agora editados no Brasil. No outro volume, com Brendel também no piano, Fischer-Dieskau interpreta as canções que Robert Schumann criou sobre peças de Heinrich Heine no livro "Dachterliebe" e Joseh von Eichendorf em "Leiderkreis". Dois discos para conesseiurs, exigentes na apreciação das relações voz-piano. Violão/Villa No festival de edições que o centenário de nascimento de Villa-Lobos estimulou, duas preciosas gravações. Ambas com virtuoses espanhóis. Eduardo Fernandez, um artista a ser observado - e que ainda é pouco divulgado no Brasil - executa os cinco prelúdios de Villa-Lobos, e mais os doze estudos que o compositor brasileiro dedicou a Segovia. Completando o álbum, Fernandez escolheu uma "Sonata" de Alberto Ginastera, que na Argentina também tentou estabelecer uma linguagem coesiva que fundisse a música popular e a de concerto. Em 1976, dedicou uma sonata ao violinista brasileiro Carlos Barbosa Lima - que Eduardo Fernandez incluiu neste seu belíssimo álbum, valorizado também pela capa com uma ilustração de John Clementson, que lembra, muito, a arte de outro espanhol genial - Pablo Picasso. Pepe Romero, outro virtuose espanhol, homenageia nosso Villa com a gravação de seu "Concerto para Violão", num registro feito em julho de 1985, com a Academia de St. Martin-In-The Fields regida por Sir Neville Mariner. No lado um da gravação, peças de dois outros autores igualmente marcantes: o Concerto nº 1 em Ré, opus 99, de Mário Catelnuovo-Tedesco (1895-1968) e a fantasia sevilhana "Sones en la Giralda" de Joaquim Rodrigo, 86 anos, mundialmente conhecido por "Arranjuez", mas cuja obra é bem mais ampla. xxx Por último, uma gravação especial: o concerto daquele que é considerado o maior pianista contemporâneo, Vlademir Horowitz no Metropolitan Opera House, em Nova Iorque, em 1º de novembro de 1981 ("Horowitz At The Met", RCA/Red Seal). Há poucos meses a CBS editou 14 volumes da fase em que Horowitz era contratado daquela multinacional - inclusive algumas gravações ao vivo. Agora, aproveitando a ocasião, a RCA edita este álbum do grande pianista - hoje com 83 anos - interpretando peças de Scarlatti, Chopin, Liszt e Rachmaninoff.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
6
25/10/1987

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