O pintor Akira
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 10 de março de 1991
Ao lado de muitos livros sobre a vida e os filmes de Akira Kurosawa (alguns deles já editados no Brasil), nas mais sofisticadas livrarias, é possível encontrar caríssimos livros de arte em que foram reproduzidos os desenhos coloridos que Kurosawa fez para seus últimos filmes. Um dos mais belos é o álbum editado na França - que, se existir ainda, deve custar ao redor de 80 mil - em que estão reproduzidos, em cores, o "store board" de "Ran" (1985), a partir dos próprios desenhos de Akira.
Afinal, para ele, o desenho e a pintura sempre foram paixões. Caçula de sete filhos de uma família de classe média baixa, depois de oito anos na escola de belas artes, começou a ganhar a vida como ilustrador de revistas femininas. Um irmão, Heigo, que era "benshi" (narrador típico do cinema mudo), o estimulou a entrar para um estúdio, onde, em 1936, começou a trabalhar. Só nove anos depois chegaria à direção ("Sanshiro Sugata"). Os críticos costumam dividir sua carreira em três fases.
A primeira, restrita ao Japão, período em que radiografou a alma daquele país. Foi a fase de dramas contemporâneos como "Cão Danado" (1949) e "Viver" (1952), agora disponível em vídeo selado. Na segunda fase vieram os filmes históricos - e os dois clássicos que o projetaram internacionalmente: "Rashomom" (1950) e "Os Sete Samurais" (1954). A terceira fase - após a sua tentativa de suicídio (*) - reuniu potencialidades épicas e existenciais, em obras primas como "Derzu Uzala" (1975), "Kagemusha" (1980) e "Ran" (1985). "Sonhos" é o testamento, o hino maior de um gênio de nossos tempos.
Nota
(*) Colaborou para sua tentativa de suicídio (22/12/71) o fracasso de "Dodeskaden" e de "Tora! Tora! Tora!" (1969), produção americana sobre o ataque japonês (cujas seqüências japonesas realizou). Seus amigos Coppola e Lucas o convenceram a voltar a filmar em "Kagemusha", há 11 anos, dando-lhe Palma de Ouro em Cannes.
Enviar novo comentário