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Aramis

O povo merece aplaudir a nossa boa orquestra

Um dos mais belos concertos da atual temporada da Sinfônica do Paraná, no domingo pela manhã, teve um bom público - cerca de mil pessoas - mas a metade do auditório Bento Munhoz da Rocha Neto ficou vazia. É de se perguntar: é justo que um evento oficial, com uma orquestra mantida pela população através de recursos públicos, deixe de atingir em suas apresentações o maior número possível de espectadores? Esta questão volta a ser feita quando o novo superintendente da Fundação Teatro Guaíra anuncia, sensacionalisticamente, que pretende elevar os preços dos ingressos de todas as apresentações em nossos auditórios oficiais, inclusive a dos tempos estáveis mantidos pela própria FTG! A finalidade maior de uma orquestra como a Sinfônica, o Ballet ou mesmo as produções através do Teatro de Comédia do Paraná é a de contribuir para que o maior número possível de pessoas, especialmente das faixas de menor poder aquisitivo, tenham acesso a espetáculos aos quais normalmente não estão acostumados. Para tanto, a política de criar incentivos, estimulando casas lotadas em todas apresentações promovidas pela própria Fundação - especialmente os concertos matinais, sempre constituiu uma das prioridades da administração anterior do Teatro Guaíra - justificando distribuição dirigida de ingressos e a venda dos mesmo a preços reduzidos. Hoje custando de Cr$ 800 a 1.500,00 -0,5% de um salário mínimo e mais caro do que uma entrada de cinema - o ingresso para os concertos matinais da Sinf6onica do Paraná correm o risco de, na filosofia de "correção" nos preços das entradas, defendida pelo ator carioca Oswaldo Loureiro, superintendente da Fundação Teatro Guaíra, duplicar. Mesmo com o aceno de oferecer redução de 50% aos estudantes, a majoração atingirá o público de menor poder aquisitivo, afastando-o cada vez mais de eventos culturais. Impossibilitado já de assistir espetáculos de produção caríssima - como a única audição da Filarmônica de Leningrado (quinta-feira, 27,21h) com ingressos a Cr$ 15.000 (platéia e 1obalcão) e Cr$ 7.000,00 (2o balcão), é injusto que mesmo os concertos de nossa Sinfônica tenham público reduzido devido a elevação dos bilhetes - enquanto centenas de poltronas permanecem vazias. Entende-se que uma produção internacional, envolvendo 110 músicos e mais de staff dezenas de pessoas na área técnica e organizacional como a excursão da Orquestra de Leningrado tenha um custo elevadíssimo - que poderia ser reduzido se tivesse um patrocínio da iniciativa privada ou mesmo subvenção oficial. Entretanto, da empresária Mirian Daueslbert, a Dell'Arte, está bancando praticamente sozinha este evento digno de platéias do primeiro mundo e, em termos locais, a mais atuante, competente e respeitada de nossas empresárias artísticas, Verinha Walflor, desenvolve um esquema de trabalho que mesmo considerando o custo dos ingressos deve garantir completa lotação do auditório Bento Munhoz da rocha Neto. Afinal, é a única oportunidade de assistir uma orquestra desta dimensão, regida por Maris Janson, e que desde o dia 19 no Brasil, somente se apresenta no Rio de Janeiro (Municipal), São Paulo (Centro Municipal) Curitiba e Porto Alegre (Teatro da OSPA), seguindo depois para Argentina (Teatro Colon, dias 2 e 4 de julho). xxx Quem não tiver condições de aplaudir os músicos russos - e infelizmente serão apenas 2.300 estes privilegiados - poderão assistir, pagando apenas 1.000 (Cr$ 500,00 para os alunos do Instituto Cultural Brasileiro-Germânico - e associados da Pró-Música) outro notável concerto de música clássica: o Quarteto Auryn, que tendo como solista o pianista Marco Antônio de Almeida (dirigente do Festival de Música de Londrina, mas que reside na Alemanha) em sua única apresentação em Curitiba (dia 30, auditório da Reitoria). Integrado por Mathias Lingenfelder (violino), Jens Oppermann (violino), Stewart Edton (viola) e Andreas Arndt (violoncelo), o quarteto Auryn - que recebeu os maiores elogios em suas apresentações no rio de Janeiro e São Paulo - aqui mostrará peças de Mozart (Quarteto de Cordas), Stravinsky (Concertino para Quarteto de Cordas) e Brahms (Quinteto para Piano, opus 34). O concerto deve-se exclusivamente ao Instituto Goethe, mas com o apoio logístico da Pró-Música, entidade atuante no passado mas que hoje, quebrada financeiramente, só pode promover concertos quando encontra parcerias generosas como as do governo alemão.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
20
25/06/1991

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