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Aramis

O primeiro disco de 85 (o canto e o jazz de Manilow)

Sai de baixo! O primeiro disco internacional para figurar entre os melhores já está nas lojas. Chama-se "Café Paradise, 2 AM", (RCA) e é uma surpresa total: o cantor Barry Manilow acompanhado de cobras do jazz com um repertório fascinante/emocionante. Uma surpresa para quem mesmo acompanhando a carreira de Manilow não imaginava capaz de fazer um disco de tanta categoria, no qual se pode tanto ouvir a sua bela voz dizendo as palavras (o que é quase impossível em 90% dos novos cantores) e solos perfeitos da jazzistas como Gerry Mulligan, além de participações muito especiais e afetuosas de Sarah Vaughan e Mel Tormé. Nova-iorquino e ligado a música desde a infância, Barry trabalhou como produtor musical de TV, arranjador para Ed Sullivan e compôs a trilha sonora do show "The Drunkard", apresentado of-Broadway e elogiado pela crítica. Mas foi acompanhando Bette Midler no piano que ficou conhecido, pois, durante a apresentação, havia números solos. Fez sucesso com "Mandy" (1975) e nestes últimos 10 anos tem acumulado discos de ouro e platina, colocando composições nas paradas ("Could it be Magic", "Can't Smile Without You" e, a mais conhecida delas, "Copacabana (at the Copa"). "2:00 AM - Paradise Café" é o exemplo do disco produzido com amor e cujo resultado não poderia ser melhor. O que justifica a transcrição de algumas explicações do próprio Manilow. Por exemplo, diz que "comecei a fazer as músicas do 2 A.M. - Paradise Café" sem razões comerciais. Apenas porque era importante para mim mesmo. Decidi me isolar por alguns meses e deixar a inspiração acontecer (...) Então me fechei no meu apartamento em Palm Springs, cancelei minhas assinaturas de jornais e revistas: não ouvia rádio nem assistia a TV. Para se ter uma idéia, só soube do acidente com os cabelos de Michael Jackson um semana depois... Só ficava deitado... como um atum! Não sou muito de relaxar, mas depois de duas ou três semanas, comecei a gostar da solidão e da ausência de telefonemas. Eu estava sentindo falta do prazer da música, não do trabalho que ela acarreta. Sentava no piano e ficava tocando canções antigas - apenas eu e os meus cachorros, eu estava em busca de um Lp feito às 2 horas da manhã. Por isso comecei a escrever músicas que podiam ter sido executadas a essa hora num velho night club, sem se importar onde ia chegar. Estava apenas escrevendo para mim mesmo e meus amigos. Eu estava quase certo que conseguiria 11 músicas maravilhosas, mas não esperava juntá-las agora num álbum. Apenas estava tornando meu sonho realidade: escrever músicas para mim. Depois disso, chamei amigos com o saxofonista Gerry Mulligan, o guitarrista Mundell Lowe e vários outros músicos de jazz que concordaram em trabalhar comigo no projeto. Escrevi, então dois duetos para duas pessoas que sempre admirei: Sarah Vaughan e Mel Tormé". Justamente este espírito de descontração, de informalidade, possibilitou a realização de um elepê tão perfeito - em que suas músicas encontraram letras ajustadíssimas de seus parceiros Bruce, Sussaman e Jack Feldman ("Paradise Cafe" e "Night Song"), Adrienne Anderson ("Where Have You Gone", "Say No More", "Blue", "Goo-Bye My Love", "Big City Blues"), Lisa Sennet ("When Love Is Gone") e Marty Panzer ("I've Never Been Só Low On Love", sem falar numa inédita parceria póstuma: a viúva de Johnny Mercer, encontrou várias letras que ele havia deixado sem música. Manilow musicou "When October Goes" e o resultado é que temos uma das canções do ano. Os arranjos foram perfeitos: o baixo de George Duvivier, a guitarra de Mundell Lowe, a bateria de Manne, o sax barítono de Gerry Mulligan (especialmente) e os teclados - além de Manilow, também Bill Mays, compõe todo o quadro deste disco maravilhoso, que apaixona a cada nova audição e que nos duetos com Sarah Vaughan (notável "Blue") e Mel Tormé (Big City Blues") atingem a pontos extremos de sensibilidade. Cada faixa, cada momento, pode justificar maiores adjetivações - mas o que conta é a sensibilidade. Toda a atmosfera de um café, no jazz after lovers, com a voz perfeita e os músicos exatos. Uma obra-prima. Um disco como há muito não ouvíamos. Não sabemos quais serão ou outros nove melhores lançamentos internacionais de 1985. O primeiro, sem dúvida é este "2:00 AM - Paradise Cafe".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
17/03/1985
Parabéns pelo site. Vou apenas acrescentar uma informação que me parece importante. Para além da qualidade do álbum que é indiscutivel, para mim o que é mais extraordinario é o facto de este disco ter sido gravado de uma só vez. A gravação da 1ª faixa correu tão bem que o pessoal do estúdio fez sinal para continuarem.. E foi assim, faixa após faixa, quando deram por ela tinham gravado o album todo de uma só vez. É notavel Um abraço de Portugal NF

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