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Aramis

O som pop

A viagem que o grupo alemão Passport fez ao Brasil, em 1976, foi muito produtiva: ao mesmo tempo que Klaus Doldinger (sax-soprano, teclados, flauta), Curt Cress (bateria), Roy Louis (guitarra), Kristian Schultze ( piano, órgão) e Wolfgang Schmid (baixo) mostraram ao público de várias capitais, sob auspícios do Goethe Institut, sua música forte e vigorosa em que fundem o jazz e modernos caminhos do pop, eles também se entusiasmaram, junto com suas loiras e belas esposas, com a música e o calor tropical. O resultado foi o lp "Passport/Iguaçu" (Atlantic, 30.041), gravado em parte nos estúdios Level, no Rio, ainda durante a temporada carioca e completado depois em Munique, e lançado na Europa em meados de 1977. Em julho/77, em primeira mão nacional, já registrávamos em nossa coluna diária ("" Tabloide", O ESTADO, 4a página) o aparecimento deste disco de extrema atualidade e criatividade, também divulgado, igualmente com exclusividade, em nosso programa "Domingo Sem Futebol". Há dois meses, finalmente, a WEA o colocou nas lojas, proporcionando assim ao público interessado em ouvir as composições do Passport, inspiradas pela viagem ao Brasil como "Bahia do Sol", "Iguaçu", "Sambukada", "Praia Leme", "Heavy Weight" e "Guna Guna", em algumas com a participação de percussionistas brasileiros - Clelio Ribeiro, Wilson das Neves, Pedro "Sorongo" Santos, Noel Manoel Pinto, Roberto Bastos Pinheiros, Marcelo Salazar. xxx Na linha dos melhores lançamentos na linha pop-rock-jazz, e, até o pop sinfônico, vamos mais a alguns registros. Por exemplo, depois de excelente álbum duplo "Works-Volume I", o trio Emerson, Lake & Palmer reafirma toda sua segurança e, principalmente, conhecimento musical e sábia utilização de recursos eletroacústicos, no "Works II", onde ao lado de composições novas, há uma especial homenagem a Scott Joplin (1868- 1919), com um arranjo e solo de Keith Emerson do "rag" "Maple Leaf Rag", acompanhado pela London Philarmonic Orchestra. De outro compositor americano já falecido mas não tão famoso quanto Joplim, Mead Lux Lewis (1805-1964) é a faixa "Honky Tonk Train Blues". Com arranjo para orquestra de Alan Cohen. De Irving King é "Show Me The Way Way To Go Home", já com arranjo especial de Keith Emerson. Composições de ELP são "Tiger In A Sotlight", "When The Apple Blossoms Bloom", e "Brain Salad Surgery", nesta também com a colaboração de Sinfield, parceiro de Emerson e Lake em outras composições como "So Far To Tall" e de Lake em "Watching Over You". Enfim, um disco excelente. Outro lançamento indispensável é "Criminal Record" (A&M/Odeon, 2213), onde o múltiplo tecladista e compositor Rich Wakeman continua desenvolver suas avançadas idéias. Depois de mergulhar no tempo ("As Seis Esposas de Henrique VIII", "O Rei Arthur e Os Cavaleiros da Távola Redonda") e na ficção cientifica ("No Earth conection", "Viagem Ao Centro da Terra") e fazer músicas para filmes ("Liszt", de Ken Russel), Rick Wakeman, criador polemico e de grandes pretensões faz um disco com tema curioso: os grandes criminosos da história, o que possibilita um trocadilho a partir do título ("The Criminal Record). Desdobrando-se entre muitos teclados (piano, sintetizador, Rmi, órgão, etc.), e contando principalmente com uma forte percussão (Frank Ricotti e Alan White) e um baixista (Chris Squire), Wakeman realizou um trabalho ao qual é impossível permanecer indiferente. Outro trabalho dos mais interessantes, em termos de exploração de potencialidades do som e de recursos eletroacústicos é "Oxygene" (Polydor/Phonogram, 2310556) com Jean Michel Jarre. Utilizando três diferentes sintetizadores, mais órgão e computador, trabalhando num estúdio parisiense, com todos os recursos, Jarre desenvolveu ao longo de cinco meses (agosto/novembro de 1976), uma experiência sonora das mais interessantes, quase impossível de ser descrita e colocada nos limites críticos musicais. É, antes de tudo, uma prospeção do som, de idéias e das imensas possibilidades daquilo que se pode chamar de "comunicação de laboratório acústico". Fica apenas a dica: vale a pena ser conhecida. Sem dúvida nenhuma. Outro grupo que ultrapassa as fronteiras do som pop-contemporâneo, para sempre propor novas idéias é o Queen, provavelmente uma das mais importantes bandas formadas na Inglaterra nesta década. Nascido em 1972, do encontro de Brian May (guitarra) e Roger Taylor (bateria), ex-Smile, mais Freddie Mercury (vocais) e John Deacon (baixo), o grupo já em seu primeiro lp (1973), conseguia um destaque ("Seven Seas of Thye"), que seriam reprisados com elepes posteriores "Queen II", "Sheer Heart Attack"(1974) e "A Night At The Opera"(1975), titulo fazendo referencia a um clássico filme dos irmãos Marx. Agora, o novo álbum do grupo propõe um clima de ficção cientifica, em New Of The World"(nome daquele cinejornal americano que Orson Welles citava logo no inicio de seu clássico "Cidadão Kane" (1940). O Queen propõe uma musica vigorosa, ficcionalmente metálica - como o monstro que aparece na capa e contracapa deste seu interessantíssimo disco. Falecido há oito anos, Jimmi Hendrix (1943-1970) continua tendo as centenas de horas de gravações que deixou, serem editadas por diferentes fabricas. A WEA colocou nas lojas um álbum-duplo ("Crash Landing/Midnight/Lightining"), com 17 faixas gravadas no final de 68 em condições curiosas, como conta o especialista Ezequiel Neves ("Homem", abril/78): descontente, na época, com a pressão que os produtores faziam para que ele continuasse gravando somente sons psicodélicos mesclados ao "rhythm and blues". Jimmi uniu-se ao produtor Alan Douglas e passou a usar de madrugada os estúdios Record Plant, de Nova York, e ali gravou várias jam-session com diversos músicos, onde tudo era de improviso. Um ano depois de sua morte (setembro/70), foi que Douglas pode ouvir atentamente as 600 horas de som registradas no Record Plant. E mais um ano foi gasto na seleção do instigante material, parte do qual aparece agora no Brasil, pela WEA. Já pela RGE, temos outro disco de Jimmi Hendrix (310.006), infelizmente impossível de ser localizado quando que teria sido gravado. Há temas de Hendrix ("You Don't Want Me", "Future Trip", "Hornet's Nest", "How Would You"), acoplado a outros de seus companheiros de banda, como Kenight-Gregory ("Get That Feeling", "Strnge Things" etc). Enfim, mais dois álbuns para os fãs de Hendrix, considerado por muitos como o maior guitarrista do mundo pop. Alguns grupos e solistas, já conhecidos do público brasileiro, reaparecem com novos álbuns. É o caso, por exemplo, do Kiss ("Alive II", Casablanca/Copacabana, 9184/5), um álbum gravado ao vivo, no auditório do Los Angeles Fórum, e com este endiabrado quarteto, apresentando um som pop, pesado - para quem a tem ouvidos para este tipo de musica. Também o War, formado por Eric Burdon em 1970, continua na estrada: "Galaxy" (MCA/Phonogram, 2322204, abril/78) o traz interpretando até uma musica de titulo espanhol: Hey Soñorita". O Status Quo, cujas origens vão no distante ano de 1962 e que a partir de 1968, num trabalho registrado em mais de uma dezena de discos, tem evoluído em relação a experiência inicial de um rock criado sobre blues, conforme a idealização de seu núcleo original Mike Rossi (guitarra), Alan Lancaster (baixo), John Coghlan (bateria), Roy Lines (canto) e Richard Patiff (guitarra). "LD...Rockin'All Over The World" (Phonogram, 8360158, março/78) foi gravado na Suécia, há poucos meses, com participação especial do tecladista Andy Bown. Para muitos, Ian Anderson é um dos grandes flautistas da década. Como solista já fez alguns elepes, mas é liderando o grupo Jethro Tull, que formado há 10 anos, juntamente com Glenn o Cornick (baixo), Mick Abrahams (guitarra) e Clive Bunker (bateria) que se tornou conhecido mundialmente. A partir de 1969, o Jethro Tull teve sua cotação ampliada na França e o trabalho de Ian Anderson, flautista e compositor inspirado, passou a ser bastante valorizado, especialmente com os lps "Stand Up" (1969), "Benefit" (1970) e "Aqualung"(1971) - para muitos críticos, o ponto alto do grupo. O tempo e tentações de uma carreira solo, não afastara Anderson do grupo, que hoje conta também com a participação de Martin Barre (guitarra), John Evan (teclados), Jeffrey Hammond (baixo) e Barrimore Barlow (bateria e percussão). "Reapt/The Best Of Jethro Tull Volume II" (Chrysalis/Phonogram, 6307611, abril/78), belíssima capa branca, gravado em diferentes ocasiões e reunindo temas de diferentes fases, selecionados dos álbuns "Minstrel in The Galery", "Aqualung", "Stand Up", "War Child", "Trick as "A Brick", "War" "A Passion Play", "Too Old To Rock'Roll; To Young To Die" (inédito no Brasil) e a inédita "Glory Row", é uma boa visão panorâmica do conjunto. Censurando as letras e carregando na promoção, a Phonogram lançou há poucos dias o primeiro lp do grupo funk inglês Sex Pistols, que tem sido noticia constante não por méritos (sic) musicais, mas pelas confusões que cria há mais de um ano em Londres. Só como documento dos descaminhos musicais desta década e uma tentativa publicitária, na Swinging London, é que este grupo pode ser apreciado. Tema mais para sociologia de comportamento, do que para o de "disc-review". A mesma Phonogram, que sem dúvida dispões de um grande catalogo pop, lançou recentemente novos álbuns de outros grupos com algum prestigio na praça. Um album-duplo, gravado ao vivo ("Seconds Out"), no traz o Genesis, numa coleção de músicas vigorosas, algumas como "Supper's Ready", ocupando toda a face 3. Surgido em 1972 e colocado ao lado do Roxy Music, como a revelação inglesa do inicio dos anos 70, o Gênesis tinha a liderá-lo Peter Gabriel, que preferiu, entretanto seguir sua carreira de solista. Hoje, do grupo original restaram Tony Banks (teclados) e Micke Rutherford (guitarra), aos quais se acrescentam agora Steve Hackett (guitarra), Phil Collins (voz, bateria), Chester Thompson e Bill Bruford, formação que fez este atual álbum. O Nazareth é outro conjunto que resiste: formado em 1969 por Dan McCafferty, Pete Agnew, Manuel Charlton e Darrel Sweet, mantém a mesma formação: "Expecto No Mercy", o traz com uma nova seleção de temas inéditos. Já "The Missing Piece", novo disco do Gentle Giant, formado por seis músicos ingleses, foi gravado na Holanda - e agora a Phonogram o lança aqui. Registra-se, ainda, de informação, a presença no mercado de alguns novos conjuntos, disputando seu lugar nos ouvidos jovens: o Waters, da respeitável Blue Nota, especializada em bom Jazz, ;e formado por Luther, Julia, Orean e Maxime, vocalistas, amparados em arranjos que exigiram a presença de mais de 40 instrumentistas para as gravações das 10 faixas (do lp (Blue Note/Copacabana, 1216), onde o destaque é a faixa "To Be There" e Blinded By Love". A mesma Copacabana coloca também na praça os Addrisi Brothers, gravado em Nashiville, Tennesseo, o que já sugere um estilo mais country, menos eletrificado. A Phonodisc nos traz um disco em que o baterista-cantor Levon Helm (" and The RCO All Stars), onde Il instrumentistas - nenhum conhecido - o amparam nas dez faixas. De qualquer maneira, um disco com bastante destaque para a seção de metais. Ainda a Continental, distribui o disco ABC/Phonodisc, com um certo Bautista (com "u"), autor também de quase todas as faixas que canta - produção de Wayne Henderson. E, por ultimo, o grupo Titanic, formado por Rey Robinson, Janny Losseth, Keld Asperud, Claude Chamboissier, Sainclair Brunet e John Lorck., é aqui apresentado pela RCA, no lp Return of Drakkar".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Jornal da Música
37
07/05/1978

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