Odon & o verde
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 30 de abril de 1977
Editor de assuntos urbanos da "Folha de São Paulo", considerado como um dos expertos da imprensa nacional em termos de arquitetura e ecologia, o jornalista Odon Pereira provocou ontem uma pequena polêmica ao falar na I Convenção Nacional de Parques e Praças. Por ter afirmado que a população não sensibiliza-se com a política de áreas verdes - havendo inclusive, muitas vezes, reações hostis a tais programas. Odon Pereira mereceu acalorados apartes de biólogos e ecólogos presentes, que refutaram suas afirmações. A polêmica só não prosseguiu por maior tempo porque, pela manhã, estava ainda prevista uma conferência do professor Mário Autori, diretor do Zoológico de São Paulo - e hoje um homem popularíssimo em todo o País, após ter ganho Cr$ 800 mil, ao responder sobre formigas num programa de televisão.
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A certa altura de sua palestra, Odon Pereira referiu-se a Praça Osório, como exemplo de área verde central. Pena que não tivesse feito uma análise mais incisiva, pois realmente aquela praça - a mais central da cidade - é hoje paradoxalmente, uma das mais abandonadas. À noite, apesar de dispendiosas luminárias altíssimas (que só servem para iluminar a copa das árvores) a escuridão é total. Policiamento inexiste e a fonte - que um dia já foi luminosa, hoje apresenta um aspecto desolador. A praça, como já dissemos, vem apresentando um estado lastimável há 8 anos e parece que os prefeitos que se sucedem fazem questão de ignorá-la, condenando-a assim a um triste destino.
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O arquiteto Jaime Lerner, ex-prefeito, apareceu ontem pela manhã no Centro de Criatividade, onde se realiza a Convenção de Parques e Praças. Falou com alguns conhecidos, e 20 minutos depois saiu em companhia do seu colega Rafael Dely, ex-presidente do IPPUC.
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A propósito, a revista "Quatro Rodas" (Abril/77, Cr$ 20,00) que está nas bancas, dedica cinco páginas a entrevista que o jornalista Marco Aurélio Borba fez com Jaime Lerner (apresentado como "a maior autoridade brasileira em problemas de planejamento urbano") sobre o lugar do automóvel no transporte da cidade. Trecho de uma das afirmações do ex-prefeito de Curitiba: "Eu tenho dito sempre que o centro de uma cidade se comporta mais ou menos como a mulher de um mágico, aquela que fica dentro de uma caixa e vai sendo atravessada por várias espadas. A única maneira de evitar-se que a mulher morra é fazer com que a espada passe tangenciando o seu corpo, ou pare antes de tocá-la. A solução para o tráfego nas áreas centrais é exatamente a mesma: ou tangenciamos ou paramos um pouco antes".
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