Login do usuário

Aramis

Oppenheimer, o aprendiz de feiticeiro da era atômica

Uma única falha, no máximo, esquecimento, pode ser computada a "O Início do Fim". Nos créditos projetados no encerramento do filme, após as informações sobre o que aconteceu com o general Groves e o físico Oppenheimer - poderia ser relacionado, como homenagem, o nome de todos os cientistas, que permitiram que o projeto Manhattan chegasse ao final. Em nenhum momento é identificado o cientista italiano - que protesta contra os excessos da segurança ("semelhantes aos que me fizeram fugir do fascismo de Mussolini") o italiano Enrico Fermi (Roma, 29/9/1909 - Chicago, 28/11/1954), que em 1938, após ter recebido o Nobel de Física (por seu trabalho sobre nêutrons) veio para os Estados Unidos, trabalhando inicialmente na Columbia University - e que foi um dos amigos de Albert Eisntein (1879-1955), que levou ao presidente Roosevelt, a carta em que ele levantava a proposta da bomba atômica (aliás, Eisntein não é citado em nenhum momento). Outro cientista, o físico dinamarquês Niels Bohr (Copenhague; 1885-1962), que também participou do projeto (voltaria ao seu país ainda em 1945), não chega a ser sequer mencionado. No personagem ficcionado do médico Michael Merriman (excelente atuação de John Cusack, visto em "Conte Comigo", "A Coisa Certa" e que está no elenco de "Hot Pursuit - em ritmo alucinante" - próxima estréia no Bristol) fundem-se na verdade dois (ou mais) cientistas e auxiliares que, durante a fase do projeto, foram vítimas da irradiação atômica. Robert J. Oppenheimer (Nova York, 22/4/1904 - Princeton, New Jersey, 18/2/1967), viveu tumultuado 22 anos após ter sido o "Pai da Bomba Atômica". Em 1946 recebeu a Presidencial Medal of Merit e por seis anos ocupou posições das mais importantes no Atomic Energy Comission (AEC) e foi o líder da delegação americana na Comissão de Energia Atômica na ONU, defendendo o uso dos átomos para a paz - sendo o principal redator do chamado Baruch Plan, primeiro grande documento no controle atômica. Assim, se oporia ao desenvolvimento do projeto da Bomba de Hidrogênio, que entretanto foi determinada pelo presidente Dwight Esenhower (1890-1969). Assumindo a direção do Institute for Advanced Study, em Princeton, Oppenheimer sofreria perseguições com acusações de ser ligado a comunistas (que vinham, aliás, desde 1942). Afastado de todos os projetos atômicos, vigiado e perseguido pelo FBI, foi uma das mais importantes vítimas do Comitê de Atividades Anti-americanas, criado pelo raivoso senador Joseph Raymond McCarthy (1908-1957), Oppenheimer teve, entretanto, reconhecimento em vida pela sua colaboração à ciência: em 1963 recebeu da AEC a Fermi Award, entregue pelo presidente Lyndon B. Johnson (1908-1973). Afastando-se da Universidade de Princeton, em 1966, morreria no ano seguinte. Homem de grande cultura - voltado inclusive aos campos do humanismo, Oppenheimer deixou vários livros ("Science and the Common Understanding", 1954; "The Open Mind", 1955; "Some Reflections ou Science and Culture", 1960). O general Groves - que também seria afastado do programa nuclear - após reformar-se se tronou um obscuro homem de negócios e ao morrer, em 1970, poucos lembraram sua participação - como o inclemente executivo - no projeto Manhattan.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
19/06/1990

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br