Os 90 anos do sr. Veiga
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 29 de outubro de 1978
Chegar aos 90 anos de idade, sem nunca ter tido um único dia de enfermidade, mantendo-se rijo, lúcido e não dispensando diariamente um salutar passeio de 3 a 5 km pelas ruas da cidade, lendo os jornais e revistas e ouvindo a música clássica que sempre gostou, é fato que raras pessoas conseguem. Por isso, o aniversário do sr. Elpídio Cardoso Veiga, neste domingo, transcende ao simples registro social e justifica merecido destaque. Nascido em Antonina, a 29 de outubro de 1888, filho de um dos cameristas daquela cidade no final do século passado, José Leandro Veiga (1854-1924), o sr. Elpídio, casado com dona Maria da Luz Taborda (1889-1959), residindo em Curitiba desde 1917, teve apenas dois filhos, Maria Pia, viúva, e o médico Pio Taborda Veiga, 66 anos, que juntos com netos e bisnetos, reúnem-se hoje para comemorar os seus 90 anos. Nem a gripe espanhola há 61 anos conseguiu levar o sr. Elpídio ao hospital, que, talvez seja um dos poucos paranaenses que jamais foi visto na rua sem estar elegantemente vestindo terno, colete, chapéu gelo, eventualmente, até luvas brancas. Foi comerciante (chegou a ser sócio do velho Pedro Demeterco), farmacêutico e aposentou-se como funcionário público, depois de ter assessorado vários secretários da Justiça - de Roberto Barroso a Túlio Vargas. A idade não o impede de mensalmente fazer longas viagens, sempre de ônibus, a distantes capitais, onde mantém grandes amigos. Não gosta de falar em sua idade e se o mundo pode ter mudado em muitas coisas, para ele alguns valores são intocáveis. Entre os quais o uso dos colarinhos duros e dos chapéus gelo. A dificuldade está em encontrar quem os fabriques, já que o sr. Elpídio - conhecido de toda a velha Curitiba - é possivelmente um dos últimos brasileiros a não dispensar o seu uso.
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