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Aramis

Os bons tempos da Clube, Guairacá, Marumby, Colombo e outros prefixos

A nossa pioneira "Clube" - a PRB-2, Radio Clube Paranaense, cujas primeiras transmissões foram ao ar numa fria noite de 27 de junho de 1924 - num pioneirismo de um grupo de paranaenses que colocou a novidade praticamente ao mesmo tempo que acontecia o início efetivo das rádios do Rio de Janeiro e Pernambuco - a próxima Rádio Exclusiva, a 13ª FM que entrará no ar dentro de seis semanas (elevando o número de rádios para 26, somente em Curitiba) muita coisa mudou. O idealismo que levava as primeiras rádios se chamarem "Clube" - como realmente eram instituições voltadas à cultura e aproximação das pessoas - chegamos à guerra de foice em que múltiplos interesses - especialmente econômicos e políticos, marcam tanto as concessões como a exploração dos milhares de prefixos - em AM/FM, Ondas Tropicais - que se espalham por todo o Brasil e quadruplicaram nos últimos cinco anos. Uma história a ser contada - No Brasil, com exceção de dois ou três livros difíceis de serem encontrados e anotações espalhadas pela imprensa, a memória do rádio brasileiro está desaparecendo com a morte de seus pioneiros, tanto dos grandes centros irradiadores - Rio e São Paulo - como nos Estados nos quais, já a partir da segunda metade dos anos 20, começou a se difundir com inúmeros prefixos. O rádio - sua importância, as pessoas que o fizeram, seus anos de ouro, sua importância cultural, suas radionovelas (*), sua relação com a música e a informação - tem toda uma saga a ser recuperada, através de pesquisas que devem incluir entrevistas com centenas de profissionais que, durante décadas atuaram nestes veículos que chegaram a ser organizações poderosíssimas, com grandes orquestras, elencos de rádio-teatro, jornalismo atuante - como, só para citar dois exemplos, foram As Associadas (Tupi, fundada por Assis Chateaubriand) e a Rádio Nacional, em si só merecedora de toda uma extensa bibliografia (**). Mais do que caixinhas de saudades - como nas coleções dos diferentes tipos de rádio que pessoas como Osny Bermudes (ele próprio parte da história do rádio / televisão, desde seus tempos de técnico do sistema de alto-falante no Colégio Santa Maria (***), o rádio no Paraná - e especialmente em Curitiba - necessita ter sua memória resgatada. Ocuparia toda uma página de jornal a simples relação de pessoas que, em diferentes funções - locução, técnica, produção, área musical, comercial, etc. - sucederam-se nos prefixos de Curitiba, a partir da pioneira PRB-2 - a qual teria sua exclusividade rompida em 1946, quando Arno Feliciano de Castilho (um dos paranaenses que em 1923, já fazia transmissões na mansão das Rosas no ervateiro Fido Fontana) e Tobias de Macedo Jr. (Bilou) conseguiram a concessão da Rádio Marumby - que chegou a ter uma atividade intensa, com programas de auditório (foi ali que o sempre lembrado Lápis / Palmilor Rodrigues Ferreira, faria suas primeiras apresentações), disputando com a B-2 e, depois com a ZYM-5 - a Voz Nativa dos Pinheirais, que Saul Lupion de Quadros inauguraria em 1948, como uma superprodução. Trazendo para a direção o maior nome que o rádio no Paraná já teve - Aluízio Finzeto (1914-1979), com uma orquestra de 30 figuras, se dando ao luxo de encomendar ao maestro Bento Mossurunga a composição do poema sinfônico "Guairacá" para sua inauguração - numa programação que causou "frisson" na pequena Curitiba de pós-guerra - a Guairacá seria a grande emissora do Estado - e uma das maiores do Brasil, procurando o modelo que fazia da Nacional, do Rio de Janeiro, um veículo de importância proporcionalmente maior do que hoje tem as redes de televisão (sobre o final da Guairacá, ver box nesta página). É fácil entender! Nos anos 30/40, a imprensa era extremamente regional - pouquíssimos jornais editados no Rio e São Paulo chegavam às cidades e mesmo as revistas de atualidade e femininas demoravam a ser distribuídas. O cinema era a grande diversão - muitas vezes a única opção em cidades menores (que não possuíam teatros), de forma que escutar os programas apresentados nas emissoras - produzidos com a maior qualidade e recursos possíveis para a época, fossem as radionovelas, os musicais, os programas de auditório e mesmo os de terror - como o "Incrível, Fantástico, Extraordinário" - com o qual Almirante assustava todo o Brasil com suas estórias enviadas pelos ouvintes. Era programa de toda a família. Quebrado o monopólio da PRB-2 - com a Marumby e logo depois a Guairacá - entrando firmes no mercado, com muitas inovações, outros empresários se sucederiam na concessão de prefixos. Abílio Holzman, que em Ponta Grossa já havia conseguido ser pioneiro, trouxe a sua Cultura do Paraná para Curitiba - ali desenvolvendo um atuante radiojornalismo. O advogado Nagib Chede, com a Emissora Paranaense - conquistando faixas privilegiadas de transmissão (a primeira FM, antes mesmo desta onda ser regulamentada no Brasil) valorizaria talentos jovens - desde João Lydio Seiller Bettega (Didie) (****), a repórteres esportivos, como Maurício Fruet (*****), mas em equipes que, citar nomes é cometer injustiça, especialmente ao se redigir, sem consultas maiores, um rápido texto como este. Mais tarde já nos anos 50, viriam as rádios Colombo e Ouro Verde - que também trariam mudanças, especialmente pela visão jornalística do jovem empresário Ronald Sanson Stresser, que com sua juventude e mais a capacidade de repórteres da dimensão de Hélcio José (1929-1990), cujas coberturas internacionais - em Curitiba, logo depois da vitória de Fidel Castro, em Tel-Aviv, no julgamento de Eichman e, especialmente, no Vaticano, quando da eleição do Papa João XXIII, o consagrariam profissionalmente - e, com a cobertura que fez, ao acompanhar dois equilibristas, na Avenida Luiz Xavier - ganharia o cognome de "repórter voador". Outras emissoras se sucederam - a Independência, inaugurada há 27 anos, a Santa Felicidade, Tingui e tantas outras que, muitas vezes, mudaram de nomes assim como de proprietários - e hoje, existem com novas designações. Num trabalho solitário, que ao longo de quase 40 anos, jamais mereceu o empenho de qualquer governo do Paraná, a Estadual - idealizada e fundada por Aluízio Finzetto - continua hoje, como ontem (e amanhã?) esquecida e enjeitada - quando, em sua potencialidade, poderia ser um prefixo realmente cultural-educativo da maior importância. Jamur Júnior, 54 anos, 35 de radiofonia, hoje diretor da TV Curitiba, mas que passou por quase todos os prefixos de Curitiba, costuma brincar quando lhe falam de "novos" projetos para reciclar (sic) a rádio oficial: - "Já ouvi este programa antes. E não tem audiência!". LEGENDA FOTO 1 - Jamur Júnior. LEGENDA FOTO 2 - Osni Bernardes. LEGENDA FOTO 3 - Hélcio José. LEGENDA FOTO 4 - Maurício Fruet. Notas (*) No dia 25 de agosto último, a Alternativa FM-106,5, pertencente ao deputado Renato Johnson (um dos parlamentares que votou a favor do mandato de 5 anos para o ex-presidente Sarney), mas que oficialmente tendo como dono o empresário Márcio Kaled (dono de uma transportadora, um posto de gasolina e distribuidor da Brahma), começou as suas transmissões. Como a maioria das FMs instaladas nos últimos anos, seus estúdios estão no bairro do Pilarzinho, na Rua Amauri Lang Silvério. A próxima FM que entrará no ar será a Radio FM Exclusiva, prefixo 95,6 e cuja programação está sendo montada pelo experiente Reginaldo Daniel, 37 anos, que em Porto Alegre fez a FM Universal (do grupo Pampa) subir do 7º para o 1º lugar entre as FMs. (**) Uma das maiores atrações do rádio brasileiro foram as novelas - num esquema que, hoje, 50 anos depois, repete-se na televisão, só que com imagens. A primeira novela apresentada no Brasil, "Em Busca da Felicidade", de Leandro Blanco, traduzida e adaptada por Gilberto Martins, começou em 12 de julho de 1941 pela Rádio Nacional e só terminou três anos depois. A primeira telenovela de autor brasileiro foi "Fatalidade", de Oduvaldo Viana (1892-1972). O ex-locutor do Repórter Esso (o programa jornalístico de maior credibilidade e importância em todos os tempos), José Maria Manzo, através da Collector's - lançou em dois minicassetes, a íntegra deste telenovela. A Collector's editou em 200 cassetes, a época de ouro do rádio brasileiro, num trabalho importantíssimo e que pode ser adquirido pelo reembolso postal (Rua Visconde de Pirajá, 550, subsolo, 112, CEP 22.410 - Ipanema - Telefone 239-6783). (***) No Colégio Santa Maria, em sua antiga sede na Rua XV de Novembro, nos anos 40, um serviço de alto-falante ocupava alguns alunos durante o horário dos recreios. Ali começariam a se interessar pelo rádio profissionais como Osny Bermudes (que passou por vários prefixos e acompanhou a televisão desde que chegou ao Paraná em 1960), Didie Bettega, Carlos Alberto Moro (que faria também carreira política), Mbá de Ferrante (já falecido), entre outros. (****) João Lydio Seiller Bettega, hoje diretor-proprietário das rádios Ouro Verde / AM-FM e Caiobá, é o mais antigo radiodifusor de Curitiba em atividade. Começando ainda adolescente, passou pela Emissora Paranaense, Marumby, Colombo e outras rádios, tendo sido inclusive, o primeiro apresentador numa transmissão experimental de televisão feita no Paraná em 1957. Profissional dos mais respeitados tem uma folha de serviços extraordinária em termos de participação cultural e comunitária em nosso Estado. (*****) Maurício Fruet, hoje secretário da Ciência e Tecnologia, ex-prefeito, ex-deputado, começou sua vida profissional como repórter radiofônico, cobrindo jogos de futebol. Quando prefeito de Curitiba, Fruet tentou criar o Museu do Rádio no Paraná, num projeto, infelizmente, frustrado e que não mereceu continuidade da administração seguinte - e hoje está totalmente esquecido.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Nenhum
16
27/09/1991

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