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Aramis

Os bons tempos de Hollywood (do passado e do presente)

Ao fazermos o (difícil) levantamento das melhores músicas de fim-de-ano, no setor internacional acabamos como o bom amigo e pesquisador Alceu Schwaab, acabando por incluir muitos temas (e lps) com as trilhas sonoras que apareceram no ano. E, nostalgia a parte, é uma posição natural, pois é (ainda) na música feita para emoldurar imagens projetadas nos retângulos iluminados que acabamos encontrando muito do que existe de melhor na composição contemporânea. Neste 1976, tivemos além de dois magníficos álbuns de Michel Legrand. - "As 20 Canções do Século" (álbum duplo) e "Legrand Concert", ambos em nossa relação, um outro excelente trabalho do maestro e compositor francês: o magnífico score para o filme "Os Ídolos Também Amam" (Gable and Lombard, 75, de Sidney J. Furie). Se o filme sobre o relacionamento amoroso entre Clark Gable (1901-1960) e Carole Lombard (1908-1942) foi frustrante em termos de cinema, a trilha sonora de Legrand foi no mínimo antológica: tanto nos temas próprios, em especial o "tema de amor" - que nos entusiasmou desde que o ouvimos pela primeira vez, há quase um ano, na edição importada, até os arranjos felizes que Legrand fez sobre músicas da época como "In The Mood" (Joe Garland), "I Surrender, Dear" ( Gordon Clifford-Harry Barris), "Cheeck to Chik" (Irving Berlin), "Little Girl" (Medelin Hyde-Francis Henry). Enfim, uma trilha maravilhosa e que, felizmente, foi colocada ao alcance dos colecionadores brasileiros, através da edição Chantecler/Decca/MCA Records. "Taxi Driver" é um caso diferente: o filme entrou na lista dos melhores do ano e o mesmo acontece com sua trilha sonora, último trabalho de Bernars Hermann (1911-1975), falecido há um ano, poucos dias após ter concluído a música para o filme de Martin Scorsese. Consagrado como compositor de filmes de Welles ("Cidadão Kane", 1940, "Soberba", 1942), Dieterle ("All the money can buy", 1941), Mankiewicz ("The ghost and Mrs. Muir"), Henry King (As Neves do Kilimanjaro,", 52 - reprisado dia 26, pelo Canal 4) e principalmente uma série de filmes de Hitchcook ("Intriga Internacional ", 1959; "Psicose", 1960; "Os pássaros", 1963 e "Marnie", 1964), Bernard Hermann está entre os mais importantes compositores contemporâneos. Em suas trilhas sempre notava-se o vigor, a firmeza de quem realmente tinha uma sólida formação - capaz de evoluir dos efeitos nervosos necessários a certas sequências até a suavidade dos temas amorosos. "Táxi Dríver" não foi apenas seu último trabalho, mas principalmente uma despedida a altura de seu talento: do tema central com um clima jazzístico e um maravilhoso solo de pistão (infelizmente sem identificação do executante) aos diversos movimentos - "I Work the Whole Chity", "Betsy In a White Dress", "The Days Do Not End", "The 44 Magnum Is a Monster", "Sport and Íris && e "God's Lonely Man", todos são temas inesquecíveis musicalmente com a mesma beleza e significado adulto do filme de Scorse. O lançamento da trilha sonora no Brasil/Odeon/Arista Records, ARL 33032, dezembro/76), foi, para nós, um dos grandes acontecimentos sonoros do ano. Um dos compositores mais requisitados do momento, John Williams teve oportunidade de desenvolver em "Duelo de Gigantes"( The Missouri Breaks, 1975/76, de Arthur Penn projetado até ontem no Cine Vitória) um trabalho diferente dos últimos filmes que musicou ("Terremoto", "Inferno na Torre", "Tubarão"). Neste, não havia o clima "catastrófico" daqueles filmes - e nem um romantismo adocicado. Um western psicológico, adulto - e que por isso mesmo em termos de público não alcançou o sucesso esperado, apesar da presença dos superastros Jack Nicholson e Marlon Brando no elenco, "The Missouri Breaks" tem que ser entendido dentro do prisma de profundidade psicológica que Penn sempre marcou seus filmes, desde sua estréia em Longa-metragem, há 19 anos, dirigindo uma versão psicanalítica da vida de Billy "The" Kid ("Um de Nós Morrerá/ The Left Handed Gun"). Assim, entendendo-se o filme, pode-se admirar melhor a música que John Williams criou para as imagens. Não há baladas estilo Frank Laine ou movimentos ritmados - capazes de lembrar a "Suite Grand Canyon" de Groff, mas sim um apropriado casamento entre a harmônica de boca (um dos instrumentos mais westerns de todos os tempos) e uma guitarra executada com grande habilidade. Para colecionadores, a trilha de "The Missouri Breaks" (United Artists Records/Copacabana, U A L P 12057, dezembro/76) é indispensável. Roberto Godoy, moço que durante 5 anos (1965/1970) residiu em Curitiba, modoficando a mentalidade cinematográfica local, hoje ligado a distribuidoras de filmes em São Paulo, percebeu que a trilha sonora de "Prelúdio Para Matar" (Profundo Rosso) de Dario Argento, policial psicológico que está distribuindo no Brasil, poderia - ou melhor, merecia - ser lançado em disco, antes mesmo da estréia do filme, funcionando como promoção auxiliar. E assim, antecipando a este policial do cineasta italiano Argento, temos uma das mais inquietantes trilhas musicais do ano. Composição de Giorgio Gaslini, com arranjos e execução de Goblin, são sete temas dos mais curiosos. Lembrando, em certos momentos, até as experiências de Stockhausen e outros papas da música contemporânea, a música de "Profondo Rosso" (lp RCA/Onevox Record SPA, novembro/76) não chegará as paradas de sucesso, mas por certo algumas passagens poderão serem muito bem aproveitadas em prefixos e montagens de programas de rádio e televisão. Enfim, uma música tão diferente e criatividade que precisa ser ouvida para se ter uma dimensão da nova proposta de seu autor, Gaslini - e também do arranjador executante, Goblin. Para o público nostálgico, que deseja rememorar os bons momentos de cinema americano dos anos 40/60, a CBS vem produzindo a série de álbuns duplos "Os Bons Tempos de Hollywood". No volume 3 (CBS, Collector Series, 22009/10, novembro/76), temos registros de trilhas sonoras originais de uma dezena de filmes marcantes. O álbum abre, por exemplo, com Sophia Loren surpreendendo como cantora de "Almost In Your Arms", canção de Levingston/Evans criaram para o filme "A Chave" (1957, de Carol Reed), seguindo-se Judy Garland (1924-1969) com um dos mais belos momentos musicais de "Nasce Uma Estrela"( 1955, de George Cukor), justamente quando canta "Born In a Trunck" (Leonard Gershe), que como lembra Paulo Santos no lúcido texto informativo do álbum, "é uma espécie de biografia resumida de Judy no decorrer da qual aparecem diversas músicas que, de uma forma ou de outra, fizeram parte da sua vida: "I'll get by", "You took advantage of me", "Black bottom", "The Peanut vendor", "My Melancholy baby" e "Swanee". A filha de Judy, Liza Minelli, comparece com "Cabaret" (Ebb/Kander), do filme que lhe valeu o Oscar, em 71, enquanto que Judy é ouvida em outro dos grandes momentos de "Nasce uma Estrela": "Someone At Last") "Harold Arlen-Ira Gershwin). Barbra Streisand, que por sinal estreou uma terceira versão de "Nasce uma Estrela", ainda inédita no Brasil, comparece aqui com "My Man" (Willemetz/Pollock), do final do filme "Funny Girl", que também lhe valeu um Oscar. O baladista Frankie Laine tem incluído no disco, dois de seus maiores sucessos: "High Noon"(Ned Washington/Dimitri Tiokin), do filme "Matar ou Morrer" (52, de Fred Zinneman) e "Gunfith at the ºK. Corral"(Washington/Tiokim) do filme "Sem Lei e Sem Alma"(57, de John Sturges). Com a orquestra da Warner Brothers, sob a regência de Ray Heindorf é o tema de "Assim Caminha a Humanidade" ( Webster/Tiokim), do último filme "G" ("Giant", 1955, de George Stevens) estrelado por James Dean (1931-1955). As demais faixas não são originais - e sim regravações de filmes marcantes: assim com Ray Conniff temos "Chattanooga Choo Choo" do filme "Quero casar-me contigo/Sun Wvalley Serenade", onde era apresentada pela orquestra original de Glenn Miller).
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Jornal da Música
25
16/01/1977

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