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Aramis

Os bons tempos do Paraná de 24 (III)

Se o governador decidisse exigir do diretor do Colégio Estadual do Paraná, professor Osny Dalcol - no cargo há mais de 10 anos um relatório detalhado das atividades do estabelecimento, o mesmo teria que ocupar várias páginas de gráficos e indíces, mas sem qualquer possibilidade de relacionar nomes sequer do corpo docente. Afinal, o Colégio Estadual do Paraná - que embora integrando a Secretaria da Educação, tem seu diretor nomeado diretamente pelo governador do Estado - é hoje um dos maiores complexos de ensino do Paraná com milhares de alunos e centenas de professores. Esta observação surge quando se observa que 88 das 755 páginas do << Relatório da Secretaria Geral do Estado do Paraná >>, relativo a 1923/24, apresentado pelo sr. Alcides Munhoz, secretário geral do Estado ao então << Presidente do Estado >>, Caetano Munhoz da Rocha, era dedicado ao Gymnasio [Ginásio] Paranaense - hoje Colégio Estadual do Paraná. Dirigido então pelo professor Lysimaco Ferreira da Costa, o estabelecimento oficial era o principal do Estado, com 406 alunos. O relatório era tão detalhado que apresentava não só a relação nominal de todos os alunos, como também quadros de médias dos exames de 1.ª e 2.ª época, oferecendo informações das mais curiosas aos que conhecem as famílias mais tradicionais de Curitiba - o que se vê pelas notas que os então alunos de << lentes >> exigentes, obtinham nos rigorosos exames de final de ano. Durante 1923, havia 12 professores no Gymnasio [Ginásio] Paranaense: Arthur Ferreira de Loyola (português), Alysio de oliveira Vianna (francês), guilherme Butler (inglês, padre Antônio Mazzaroto (latim), Álvaro Pereira Jorge (<< Arithimetica >> e álgebra), Waldemiro Teixeira de Freitas e Benjamim Mourão (geometria e trigonometria), Sebastião Paraná (geometria, << chorographia >> e <>elementos de cosmographia >>), Diário Persiano de Castro Velloso e padre José Falarz (História Universal e do Brasil); Pedro Macedo (<< Gymnastica [Ginastica] >>) e Luís Bastos (desenho). No relatório do professor Lysimaco da Costa, explicava que >> a sub -directoria do Internato deu aos alunos mais os seguintes explicadores: Dr. José de Sá Nunes de Português; Ângelo Lopes, de Aritmética e Algebra; Júlio Machado da Luz, do Curso Preliminar; Roberto Regnier, de Escrituração Mercantil; Francisco Angelino, de Música; D. Nezinha Branco, de Dactylographia [Datilografia] >>. *** O Gymnasio [Ginásio] Paranaense funcionava << sob o regime da equiparação do Colégio Modelo da República, sendo rigorosamente observadas as prescrições legais emanadas do Conselho Superior de Ensino >>. Assim, em 3 de março de 1924, o professor Lysimaco Ferreira da Costa se dirigia ao então Ministro da Justiça e Negócios Interiores, dr. Affonso Penna Júnior, requerendo autorização para formar um corpo docente próprio para os alunos do Internato - criado em julho de 1918. Pleiteava, então, autorização para a nomeação de 11 professores << de livre escolha do Governo do Estado >>. Ouvido o Presidente do Conselho Superior do Ensino, Barão de Ramiz Galvão, o Ministro Affonso Penna comunicou através do delegado do Conselho no Paraná, João de Oliveira Franco, a autorização ao Presidente do Estado, Caetano Munhoz da Rocha, para nomear 11 << lentes >>. Destes, oito eram religiosos: padre Fernando Taddei (História Universal e do Brasil), padre Francisco Souza (História natural), Padre Manoel Gonzales (francês, pe. José Bonifácio Leite (latim), Francisco Torres (aritmética e álgebra), pé, Luiz Gonzaga Miéle) lógica, psicologia e história da filosofia), pe, Olympio de Oliveira e Souza (português), e o padre Jeronymo Mazzarotto, então com 4 anos de magistério secundário, << lentes de Geographis, Chorographia e elementos de Cosmographia >>. O padre Mazzarotto, hoje octagenário, seria nos anos 60, fundador da Universidade Católica do Paraná, da qual foi reitor por mais de 10 anos, até ser substituído pelo professor Oswaldo Arns. Os três outros << lentes >> nomeados em 1924 para o Gymnasio [Ginásio] Paranaense foram Amilcar Silva, ex-aluno da Escola Militar, para ensinar Geometria e trigonometria; engenheiro Benjamim Mourão, geógrafo com 3 anos de magistério, para a cadeira de física e químicas e professor José Bohner, com 2 anos de magistério, para inglês e alemão. A seleção era justificada com a observação: << A escolha dos professores acima presidiu o mais elevado critério, pois que, além de alta capacidade intellectual, possuem todos muita competência didática, excelente moralidade, optimos costumes e grande dedicação ao ensino >>. *** Interessante também se conhecer as razões invocadas pelo diretor Lysimaco Ferreira da Costa, para ampliar de 12 para 23 << lentes cathedraticos >>, separando os corpos docentes para os alunos dos regimes internos e externo. << o serviço de exames, de fim de ano, era morosos e devido ao elevado número de alumnos [alunos] do Curso e avulsos que se inscreviam nesta época, tornando-se indispensável à Directoria do Gymnasio [Ginásio] recorrer a pessoas estranhas ao corpo docente para auxiliar tal serviço ( >>>) As pessoas estranhas ao corpo docente, não tendo responsabilidade pelos bons créditos do estabelecimento, mais acessíveis ao famoso pistolão não podiam julgar com a mesma imparcialidade e severidade que os lentes da casa >>. Um tópico especial era o relativo a QUANTO À EDUCAÇÃO MORAL: << Nada há de mais prejudicial em matéria de educação do que a falta de homogeneidade entre os elementos do corpo docente. Ora, os snrs,. Lentes do Externato ensinando no Internato, mesmo somente às horas de suas aulas, não poderiam cooperar para a formação de um ambiente educativo desejável, devido á diversidade de sua opiniões e de seus princípios religiosos. Verdade é que, a excepção do lente de História Universal, Sr. Dario Persiano de Castro Velloso, todos os demais lentes, catholicos, protestantes, espíritas, atheus ou livre-pensadores, procuraram sempre ser justos e imparciais não pegando em aulas suas doutrinas religiosas ou anti-religiosas >>. O internato do Gymnasio [Ginásio] Paranaense, que funciona na Rua Marechal Floriano transferiu-se para << vasto prédio do Batel, em que funccionou o Gymnasio [Ginásio] Diocesano, com capacidade para 400 alunos internos e cerca de 10 hectares de campo e matto >>. O número de alunos do Internato vinha subindo: de 22 em 1920, atingia 5 anos depois a 91, sendo que em 1923 os pedidos de matriculas atingiram a perto de 200, mas o prédio não comportava, então mais de 81 alunos. *** As relações da direção do Gymnasio [Ginásio] Paranaense e o professor Dario Velloso, fundador do Instituto Neo-Pitagórico, homem de idéias avançadas (e polêmicas) para a época, não eram das melhores. Tanto é que pela portaria n.º 374, de 10 de março de 1925, o governador Caetano Munhoz da Rocha, acatando exposições do professor Lysimaco Ferreira da Costa, o suspendeu << por 90 dias das funções de seu cargo, por quebra de disciplina funccional manifestada publicamente nos termos insolentes dirigidos aos Poderes Executivo e Legislativo do estado, expressos no telegrama que assinou e endereçou ao Exmoº Dr. Presidente da República e inspetor nos jornais desta capital a 7 do corrente >> (março/1925). Outra observação: com a reorganização do sistema de internato, um professor leigo, Olympio de Almeida, foi substituído na subdiretoria por um religioso, o padre Fernando Taddei.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
1
16/05/1980

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