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Aramis

Os <<Cameratos>>

JOEL NASCIMENTO (Rio de Janeiro, 1937), bandolinísta, considerado pela crítica como o legítimo sucessor de Jacob Bittencourt, eleito pela revista << Playboy >>, em 1978 e 1979, como o maior instrumentista de cordas do País, começou estudando piano, passou para o acordeon, retorno ao piano, deixou-o pelo cavaquinho e, finalmente, em 1969, passou a estudar bandolim. Cinco anos depois (1974) já participava do acompanhamento de duas músicas gravadas por João Nogueira: << Braço de Boneca >> (João Nogueira/Paulo Cesar Pinheiro) e << De Rosas e Coisas Amigas >> (Ivor Lancellotti). Logo reconhecidos seus méritos de instrumentistas, passou a ser solicitado para acompanhar nomes famosos de nossa música, como Chico Buarque de Holanda, Radamés Gnatalli, Artur Moreira Lima, Clara Nunes e Beth Carvalho. Desde 1976, tem participado de espetáculo no << Seis e Meia >>. Tomou parte no << Fino da Música n.º 2 >>, em São Paulo; no 1.º Encontro Nacional de Choro, em Londrina (Paraná); no Projeto Pixinguinha da Funarte (1977) e no espetáculo << Onde o Rio é Mais Carioca >>, ao lado de Sérgio Cabral, Beth Carvalho e João Nogueira. Ainda em 1977, participou como solista de um Lp de músicas de Donga, com Elizeth Cardoso, Abel Ferreira, Altamiro Carrilho, Gisa Nogueira, Leci Brandão e Regional de Canhoto. Gravou ainda: Lp << Choro na Praça" (gravadora Werner), << Chorando pelos Desos >>, << O Pássaro >> e << Meu Sonho >>, este último para a Odeon. JOÃO PEDRO BORGES (São Luís do Maranhão, 1947), iniciou seus estudos de violão na sua cidade natal, tendo se transferido depois para o Rio de Janeiro onde freqüentou em 1970 e 1971 os cursos de Técnica e Interpretação, ministrados por Turíbio Santos no Conservatório Brasileiro de Música. Ainda em 1970 começou seus estudos com Jodacil Damaceno e paralelamente estudou matérias teóricas com o professor Ian Guest e mais tarde com o maestro uruguaio Guido Santórsola. Já se apresentou como recitalista nas principais cidades e capitais brasileiras, tendo participado Rede Nacional de Música, do Instituto Nacional de Música da Funarte. Foi também contratado pelo Itamarati para realizar cursos, concertos e conferências na África Francesa, cumprindo acordo cultural entre o Brasil e o Senegal. Lecionou no << Institut National des Artes du Senegal >> e na Escola de Música da Fundação Cultural do Maranhão. Sua participação em discos abrange um Lp individual com obras de Bach, Barrios e Villa-Lobos, dois discos com Turíbio Santos Choros do Brasil e Valsas e Choros - e um como membro da Camerata Carioca, ao lado de Radamés Gnatalli. MAURÍCIO LANA CARRILHO (Rio de Janeiro, 1957) iniciou-se no piano mas, já aos 10 anos, passou a estudar violão com o célebre Dino 7 cordas, depois com Jaime Florence (o igualmente célebre-Meira) e finalmente com João Pedro Borges. Estudas, paralelamente, viola de 10 cordas, bem como harmonia e composição com o professor Ian Guest além de compor e dedicar-se a arranjos para a Camerata Carioca. Em 1978 esteve no Japão, integrando um espetáculo de música brasileira. Já atuou com Nara Leão, dentro do Projeto Pixinguinha, tendo feito apresentações ao lado de Beth Carvalho, Elizeth Cardoso, Quinteto Armorial a Altamiro Carrilho. Integrou o conjunto << Os Carioquinhas >>. No 3.º ano de Medicina descobriu que sua vocação estava na música, caminho que retomou ao se integrar na Camerata carioca. LUIS OTÁVIO BRAGA (Belém do Pará, 1953) começou seus estudos de violão de 6 cordas aos 16 anos. Em fins de 1969 veio para o Rio de Janeiro onde se fixou e fundou o conjunto de choro << Galo Preto >>, tendo em 1977, com este grupo, gravado um Lp pela RCA Victor, já a esta altura passara para o violão de 7 cordas. Fez várias gravações com nomes famosos da MPB tais como Abel Ferreira, Joel Nascimento, Claudionor Cruz, cartola e outros, tendo viajado inclusive por quase todos os Estados brasileiros. Ultimamente participou de uma turnê vitoriosa pelo João ao lado do saxofonista e clarinetista Paulo Moura. Pose-se dizer que sua estréia, em termos profissionais, deu-se em 1975 ao acompanhar as cantoras Marília Medalha e Cláudia Savaget no show << Montagem >> que então cumpria carreira no Teatro Opinião. Tendo sido autodidata, dedica-se atualmente a um estudo mais profundo com o violonista João Pedro Borges paralelamente ao curso de composição que realiza com Ian Guest. É compositor, tendo choros gravados pelos conjuntos << Os Carioquinhas >> e << Galo Preto >>. Participou também como arranjador nos Lps de Cláudia Savaget e Nelson Sargento. Na Camerata carioca toca violão de 7 cordas. HENRIQUE LEAL CAZES (Rio de Janeiro, 1959) membro de família de músicos amadores, começou a tocar aos 6 anos de idade. Primeiro foi o bandolim, afinado como violão; e finalmente, o cavaquinho. Depois de tornar-se o solista do regional da própria família, passou a integrar o conjunto << Coisas Nossas >> cuja estréia profissional se deu em agosto de 1976. A proposta desse conjunto é similar à da Camerata Carioca: levantar e executar um repertório próprio, dando ênfase à música brasileira. Em 1978 amplia seus conhecimentos no bandolim e passa a tocar, paralelamente, o violão tenor. É também compositor e letrista. Autodidata em todas as suas atividades, só aos 20 anos começou os primeiros estudos de teoria musical com o professor Ian Guest. - Como há uma transcrição feita para a formação que usamos, cabe ao violão de 7 cordas executar as partes mais graves, geralmente uma << função-baixo >>, muito embora a harmonia total (o uso de cordas) seja paralela a essa função). Instrumento que tem em Dino (Horondino Silva, 62 anos) o seu melhor executante no Brasil, o violão de 7 cordas é explicado por Luiz Braga: - O fato é que o primeiro violonista a usar uma sétima corda, mais grave, precisamente uma terça maior abaixo do << mi gordo >> do violão comum, foi Tute, contemporâneo e integrante do grupo de músicos que trabalhavam sob a batuta de Pixinguinha. A << baixaria >> ficava então acrescida de mais impeto. E na escola de << sete cordas >> tem em mestre Dino aquele que fez com que o violão da baixaria saísse do anonimato se constituísse num instrumento contrapontista por excelência. É o maior cirtuose do instrumento, o mestre ao qual seguem-se outros grandes como Darly Ousada (já falecido), Rafael, Edson Santos e outros sempre orientando-se na experiência de Dino. Henrique Leal explica a atuação do cavaquinho no concerto de Vivaldi, que obrará o programa de terça-feira: - Atuará solando como violino de uma orquestra de cordas e também fazendo acordes com efeito próximo ao cravo. Já o percussionista Humberto Leal, 21 anos, explica a sua função na Camerata: - A percussão tradicionalmente é utilizada nos conjuntos regionais brasileiros na forma de pandeiro, reco-reco, caxeta, etc. Entretanto acredito que com o desenvolvimento do nosso trabalho poderá ser usada de forma mais completa e moderna. O problema básico da percussão dentro de um conjunto que usa instrumentos acústicos e tem como proposta a não utilização de aparelhagem de som eletrônico, é o desnível sonoro natural que existe entre os instrumentos de percussão e os outros. Daí uma necessidade de se tocar com uma sonoridade que não abate o som dos outros instrumentos, o que exige uma precisão bem maior. HERMÍNIO, O IDEALIZADOR - poeta, produtor, diretor, incansável animador cultural, Hermínio Bello de Carvalho coloca sua posição dentro da Camerata: - A de um absessivo poeta que se considera um músico frustado, que estudou violão clássico e que é um apaixonado por jazz a música erudita, que faz letra de música mas que adoraria estar tocando Dowland e Bach num alaúde - da para sacar? Sou uma pessoa absulotamente vaidosa e com um ego fenomenal e que se envaidece de ser um Camerato invisível, que vive escacuando repertório para o conjunto, instigando seus integrantes, polemizando com eles, brigando, mordendo enfim, colocando todos os componentes emocionais em torno de uma idéia, na qual acredita com uma inabalável fé. Como se vê... um corpo estranho, estranhíssimo. Me autorotulei de ideólogo da Camerata. É isso aí. Hermínio conta também o que difere a Camerata Carioca dos conjuntos tradicionais de choro. - Diria que ela é idêntica à maioria, mas não à totalidade dos conjuntos tradicionais. O que a faz distinguir-se é justamente pelo tipo de abordagem que promove de um repertório que nem sempre freqüenta os saraus dos chorôs tradicionais. E ainda que aborda esse mesmo repertório, o faz uma forma nova, mais audaciosa e dinâmica, procurando fugir à mesmice que de uma certa forma esclerosco o choro, parecendo que o gênero não se restringia a um repertório de dez peças. Se o ouvinte prestar atenção, o << Sexteto de Radamés Gnatalli >>, há mais de 20 anos, teve essa mesma proposta e os dois elepês que gravou naquela época continuam atualíssimos. Eu mesmo costumo fazer uma brincadeira em casa: sempre que pinta um músico estrangeiro - seja a Sarah Vaughan, o Jim Hall ou o Narciso Yépes - eu mostrou [mostrei] aqueles trabalhos, e eles ficam deslumbrados. O Jacob, por exemplo, sempre foi um inovador e lutava muito pela divulgação da obra de autores nem sempre muito divulgados, iguais ao Anacleto de Medeiro, o Raul Silva, Bonfiglio de Oliveira, Fon-Fon, Álvaro Sandim, Luiz Americano. Zequinha de Abreu... Enfim, é mais ou menos essa a proposta da Camerata: trabalhar tendo como meta prioritária um repertório brasileiro, mas sem excluir nenhuma possibilidade de pautar Vivaldi, Leo Brower, Bach ou Piazzola em seus concertos. E estimular, em futuro, a criação de um repertório dos próprios elementos que a integram. FOTO LEGENDA- A Camerata Carioca une o talento de jovens instrumentistas à genialidade do mestre Gnatalli.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
1
07/06/1980

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