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Aramis

Os caminhos da nova geração musical (II)

As 227 músicas inscritas na II Mostra de MPB de Londrina - para seleção das 40 que serão apresentadas no Cine Teatro Ouro Verde, de 13 a 15 de junho, oferecem, mesmo que superficialmente, condição de se perceber a indecisão e falta de um vigor próprio dos jovens que sonham em se tornar compositores. Ouvindo-se as duas centenas de fitas com as músicas que seus autores pretendiam ver classificadas nesta promoção não competitiva em termos tradicionais, se convence de que, realmente, muito pouco de novo aparece atualmente em renovação, musical, não só no Paraná mas em todo o Brasil. O que também reafirma nossa certeza de que o baiano Elomar Figueira de Mello, 42 anos, de seu distanciamento em Vitória da Conquista, foi uma das poucas senão a única - força nova que tivemos, nos anos 70, com seus cantos da caatinga, mas com uma aproximação às cantigas béricas da idade media. Pois, o que se encontra nas centenas de composições que aparecem em mostras regionais- como a de Londrina ou nas eliminatórias de << Todos os cantos >>, que inicia sábado, em Pato Branco ou ainda nos recentes festivais estudantis, realizados em Curitiba, Ponta Grossa e outras cidades, são influências dos compositores surgidos nos anos 60 e que, de uma forma ou outra, permanecem em evidência. Ironicamente, a palavra << caminho >> ou variantes como << caminhoada >>. << estrada >> etc é a que mais apareceu nas letras das 227 inscrições para a mostra que o Grupo de Estudante Musicais do Centro de Educação. Comunicação e Artes da Universidade Estadual de Londrina promove, pela segunda vez. Para o jornalista Edilson Leal, 40 anos, crítico e pesquisador de MPB da maior seriedade, da equipe da << Folha de Londrina >>, o nível das músicas que concorrem este ano, mais do que o dobro do ano passado, foi muito inferior às que concorreram em 1979. Posição ainda mais radical foi do maestro. Jairo Stutz, responsável pela regência de vários corais da região, que com a experiência de membro de vários júris de festivais musicais, lamentava o baixo nível da maioria das músicas inscritas. A pianista e organista Marília Moura Santos, talentosa concertista que retornou há pouco de longa permanência no Canadá, e que atualmente representa a Yamaha naquela cidade, também lamentava, durante as longas horas de audição das músicas concorrentes, a falta de criatividade - cena maioria das vezes, da mínima musicalidade, dos concorrentes. Não se entende entretanto, que nada se salvou nesta mostra. Apesar de não ter o nível esperado das 40 músicas selecionadas - e que devem merecer arranjos caprichados, se poderá produzir três bonitos espetáculos, já que vários gêneros estão representados no << balaio >> selecionado - e que vai desde proposta vanguardista em sua letra, como << Eu Canto... enquanto Cristina olha o jardim >>, de Alfredo Alves, 18 anos, de Porecatu, até músicas da caráter social como << Projeto Jari >>, de João Carlos Carneiro Dorneles, 24 anos, de Curitiba, que também teve uma segunda música classificada, << Baião Solidão >>. A ecologia, uma visão quase pastoral contemplativa da natureza, marcou grande número das músicas, embora prejudicadas por ritmos lentos, letras imensas e cansativas, << verdadeiras ladainhas >>, segundo o jornalista Wilson Schwartz, enquanto Edilson Leal lamentou a falta de alegria e otimismo da maioria das músicas inscritas. E considerando-se que a idade média dos autores é entre 17/24 anos, é de se imaginar que cresce um pessimismo - ou ao menos uma falta de coragem para a luta do amanhã de parte de tantos jovens que, como músicos ou letristas, sonham em entrar no competitivo mercado da MPB. A influência da (pior) música estrangeira também se faz sentir entre os jovens, o que é natural, embora lamentável. Há 8 anos num festival de MPB em Pato Branco, nada menos que cinco concorrentes apresentavam músicas com letras em inglês (cometendo os mais primários erros). Em Londrina, não houve felizmente, nenhum candidato que chegasse a tanto, embora o autor de uma das músicas inscritas e não classificadas, << Saudade >> (com o pseudônimo de << Eve >>), anotasse a observação: << Gênero musical: Regue influências >>), abrasileirada o ritmo jamaicano que a garotada começa a consumir intensamente agora com a promoção que Peter Tostar, Jimmy McCliff, Bob Warley e outros compositores-intérpretes conseguem através da força das multinacionais para as quais gravam, Os curitibanos que enviaram músicas à Mostra de MPB, em Londrina, apresentaram um razoável nível obtendo classificação de 16 das 40 músicas selecionadas. Leontamar Valente Pereira, com um chorinho delicioso (<< Como Antigamente >>), ficou ao lado do maringaense Lauro Garcia do Amaral Jr, com << Olhos castanhos >>, entre os que melhor impressionaram a comissão julgadora - numa disputa que entre de 3 semanas será levada à apreciação do público, que fará a votação direta. outra curitibana. Jossuê de Fátima Gonich, com << Protesto n.º 1 >> satirizou os próprios festivais, mas mereceu um bom número de ponto classificando ainda seu << Amanhecer no Mar >> Marcos Xavier de Souza Rocha, 18 anos, mineiro radicado em Curitiba, voltado a temática rural, com bom gosto, teve classificadas suas músicas << Sou do Mato >> e << Sertão Só >>, ambas conquistando pela simplicidade na estrutura melódica e das letras. A seleção das 40 músicas não teve sentido classificatório, já que - é bom repetir - caberá ao público indicar, entre as que forem apresentadas nos dias 13 e 14 de julho as 12 favoritas, cujos autores receberão diploma e um violão cada, oferecido pela << A Musical >>. Afora as canções já mencionadas, foram selecionadas para a Mostra as seguintes músicas: << Mary, Mary >> (Eliza Gonçalvez Moreira, 32 anos, Londrina): << Canção >> (José Gomes do Nascimento. Porecatu, 28 anos): << Joaninha >>, << Esporte Visão >> e << Batuque >> (Luiz Adolfo Ramos, 23 anos: Curitiba): << Paralelo de luta e vida >> e << Caravana >> (José Fábio cacace, 29 anos; Londrina): << Sonho Perdido >> e << Um Sonho Para Você >> (Zuleide Aparecida Wismeck Corrêa, 18 anos, Londrina); << O Cardeal >> e << Desencontro >> (Carlos Augusto Amendola, 24, Curitiba): << Fragmentos >> (Francisco Donizetti de Lima, Londrina, 20): << E o fim um dia vem >> (Hélio Rodrigues de Souza, Maringá, 23): << Miséria em Prelúdio >> (João Celso dos Santos, Maringá, 18): << milagreda Chuva >> (Pedro Radir Pereira, Londrina, 29): << Viver pra quê? >> (Edson Luiz de Araújo. Londrina, 26): << Nac Manuc >> (O Filho da Terra) (Luiz Roberto Moreira. Londrina, 26): << O Amanhã >> (Benjamin Lopes, 21 e Tarcísio Freire, 23, Londrina): << Do Céu, Da Terra, Do Mar >> (Antônio Roberto de Oliveira, Curitiba): << Hora de Falar >> (Carlos Alberto Miranda, Londrina, 17): << Vera Cruz >> (Marcos Aidar e José Benício, cambê); << Mato, Morto em Moda >> (Mário César Alberiti Loureiro e Carlos Ramos de Oliveira, Londrina); << Aonde Morrem as Borboletas >> (Vicente Augusto de Moraes, Londrina, 17); << Baile de Arrasto >> (Odair Soares Galvão. Londrina , 25); << Virado >> (Joaquim Domingues de Oliveira, Londrina, 21); << Escuro >> (Ibelmar Parrellada, Londrina, 23); << Arte Surreatômica >> (Celso Zamorer, Londrina, 18) e << Reconciliação >> (Alexandre Machado Frigeri, Londrina, 16 anos). *** Mais de 30 festivais, em vários níveis, são realizados anualmente somente no Paraná. Agora, a Secretária da Cultura e do Esporte oficializa uma mostra estadual, com prêmios atraentes financeiramente e inclusive a promessa de uma gravação. De todos os festivais promovidos no Paraná, nos últimos 13 anos, ficaram raros registros - no máximo compactos produzidos em condições precárias e sem divulgação maior, afora os circuitos internos. Tanto no Festival da Tupi, como no da Globo, nenhum concorrente do Paraná conseguiu ser selecionado para as eliminatórias, Mas este fato aparentemente pessimistas não devem desacreditar os nossos idealistas compositores, Devem servir de parâmetros para que repensem a música em termos sérios, entendendo que, cada vez mais, a exigência cresce e se há muita mediocridade fazendo sucesso - principalmente o chamado << bagulho >> internacional - isto não significa que para se profissionalizar em termos musicais não haja necessidade de muito estudo trabalho. Sem contar o talento, matéria-prima que, pelo visto, anda um pouco escassa em termos nacionais.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
1
21/05/1980

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