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Aramis

Os contos de Julieta

Julieta de Godoy Ladeira é uma mulher maravilhos. Da admiração pelo intelectual e escritor Osman Lins, nasceu um grande amor que a fez fiel e apaixonada companheira do autor de "O Fiel e a Pedra" em seus últimos anos de vida. Com a sua morte, Julieta passou a se preocupar em que a obra de Osman não se perdesse - ao contrário, esteja cada vez mais viva e presente em nossa vida literária. Um trabalho organizado, correto, como poucas herdeiras literárias sabem fazer - a maioria preocupando-se apenas nos lucros que possam obter. Mas Julieta não foi apenas a companheira de Osman e sua herdeira literária. Mulher sensível, inteligente, é também escritora de alto nível como mostra novamente nas 15 histórias de "Era sempre feriado nacional" (Summus, 172 páginas, Cr$ 6.100,00). Com seu livro anterior - "Dia de Matar o Patrão" - Julieta já havia merecido muitos elogios. Participou de algumas obras coletivas. Mesmo não tendo uma produção muito extensa, Julieta se impôs pela qualidade de seus textos, que se inscrevem no grupo renovador da ficção nacional dos últimos dez anos. Escritos nos últimos três, após a morte de Osman Lins - em muitos dos contos de "Era sempre..." há reflexões sobre o perder, o conviver com a perda e o tempo, Julieta e Osman escreveram, juntos, um curioso relato de viagem - "La Paz Existe?", também editado pela Sumus. Em ritmo vibrante, "Era Sempre Feriado Nacional" nos oferece a arte de quem domina há muito e cada ves mais a arte de escrever e transmitir um tipo de emoção que envolve através de grande diversidade de temas, espaços, elementos. E há o espírito crítico da autora, sua posição definida face a situação política do Brasil. Ao mesmo tempo, temos o lado lírico e sensível, onde o amor é tratado de forma tocante, de modo comovente, simples e claro. Em narrativas de rara sensibilidade, a autora oferece-nos um painel vibrante de acontecimentos, cidades, pessoas, paixões. Este é, aliás, um dos melhores aspectos da ficção de Julieta. Com desenvoltura, mas sem afetação, ela faz seus personagens circularem pela Europa e pelo Brasil, nos dias de hoje e pela década de 30/40. E o leitor percorre este itinerário íntimo (e também exterior) sem estranheza. Julieta presta homenagem a figuras que fazem parte de nosso universo, com trechos ou alusões a Graciliano Ramos, José Lins do Rego e, naturalmente, Osman Lins. E encontramos ainda a presença de figuras do cinema e cenas de filmes. Os contos em que a autora desdobra acontecimentos ao longo de vários anos, mesclando ficção com episódios da história contemporânea, bem exemplificam esta técnica bem sucedida. Por fim, ressalte-se que Julieta incurriona também pela ficção científica. É o caso de "Passageiros em Trânsito", que abre o volume. E o quase-terror comparece com "Thaís".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Leitura
24
04/11/1984

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