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Aramis

Os festivais de cinema enfrentam dificuldades

Nas últimas duas semanas Walkiria e Cecília, coordenadoras do IV Rio Cine Festival praticamente só saíam de madrugada do escritório de organização, na Rua Frei Leandro, 35, na Lagoa, com dois telefones ocupadíssimos e atendendo centenas de pessoas para que o evento tivesse um bom astral - a partir de sua instalação ontem, no Rio Othon Palace Hotel. Com exibições paralelas que se espalharão, por uma semana, em várias salas. Em Brasília, o maestro Marlos Nobre, há menos de um ano na presidência da Fundação Cultural do Distrito Federal, enfrenta cerrada oposição de alguns dos históricos criadores do mais antigo festival de cinema do Brasil, que não concordam com a idéia de transferí-lo para um shopping center, no qual existem várias salas de exibição - com possibilidades de obter financiamento para cobrir o custo da 22º edição, prevista para o mês de outubro. Ney Sroulevich e Cosme Alves, diretores do FestRio, hoje o evento cinematográfico de maior importância da América do Sul, consagrado em suas quatro edições a partir de 1984, também enfrentam problemas para garantir a realização do quinto festival - com um custo aproximado de US$ 2 milhões. xxx Portanto, é natural que a II Mostra de Cinema Latino-Americano, embora anunciada na noite de 3 de outubro de 1987, quando o governador Álvaro Dias abriu a sua primeira edição, não venha mais a se realizar - ao menos neste ano. Além das providências mínimas de organização não terem sido deslanchadas, não há, neste momento, condições de recursos extraordinários para cobrir uma promoção que não custaria menos de Cz$ 20 milhões - caso pretenda-se ao menos repertir o esquema de 1987. A não ser que, surpreendentemente como foi a primeira edição, surja a decisão maior de realizá-lo, com abertura de recursos especiais. Mas, em termos organizacionais, isto não seria recomendável. José Augusto Iwersem, cujo trabalho se identifica à cultura cinematográfica em Curitiba desde 1962, quando fundou ao Cine Clube Pró-Arte, em seus tempos de aluno do Colégio Santa Maria, tentou viabilizar uma promoção modesta - com pré-estréias nacionais e internacionais, que seriam desenvolvidas em Foz do Iguaçu e Curitiba. Mesmo com um custo reduzido - e possibilidade de oferecer até retorno ficanceiro - não conseguiu, ao menos até agora, equacionar a promoção. Em Fortaleza, o Festival do Cinema Brasileiro que teve sua primeira edição há três anos, repetindo-se em agosto do ano passado - com prêmios apenas para curtas e médias metragens ( e no qual, os dois principais troféus foram conquistados por Berenice Mendes, por "A Classe Roceira"), também sofre conseqüências políticas. Pedro Jorge de Castro, 46 anos, cineasta ("Tigipió"), professor de cinema na Universidade de Brasília e que dirigiu os dois festivais, afastou-se de sua organização - entregue pelo governo do Ceará a um grupo oposicionista ao seu conceito de festival. Fortaleza, frize-se, inovou ao eliminar a competição nos longas-metragens, conseguindo, assim, reunir no ano passado o melhor da produção cinematográfica. xxx Mesmo o Festival de Cinema de Gramado, com toda sua tradição de 16 anos e significado turístico para uma das mais belas regiões do país, só conseguiu crescer e se firmar nos últimos anos graças ao empenho do vice-prefeito Eloir Zorzanello, empresário do setor de hotelaria e que a partir de 1982 conseguiu dar um esplêndido crescimento ao evento. Agora, Zorzanello é candidato a prefeito - enfrentando uma forte oposição - mas o festival já é um evento irreversível. Será mais difícil a administração que o suceder justificar o seu desaquecimento. Apesar do custo elevar-se cada vez mais - neste ano atingiu mais de Cz$ 150 milhões, incluindo a reforma e ampliação do cine Embaixador. xxx O IV Rio Cine-Festival terá este ano algumas características inéditas. Por exemplo, um super-júri formado por 120 pessoas ligadas à crítica, artistas, diretores, produtores, etc., indicará as premiações (filme, direção, intérpretes, categorias técnicas, etc), entre seis filmes exibidos no Rio no período entre 1987/88: "O país dos tenentes", de João Batista de Andrade; "Eternamente Pagú", de Norma Benguel; "O Baiano Fantasma" de Denoy de Oliveira (que, em 1984, obteve os principais prêmios em Gramado, mas que só recentemente conseguiu lançamento comercial no Rio de Janeiro, em mais uma prova da incompetência da diretoria anterior da Embrafilmes); "Sonho de Valsa", de Ana Carolina ( o único deste bloco que permance inédito em Curitiba); "Anjos do Arrabalde", de Carlos Reichenbach (também com várias premiações em Gramado, em 1987) e "Leila Diniz", de Luís Carlos Lacerda - a bela cine-biografia da atriz, que, em sua primeira exibição pública, abriu a Mostra do Cinema Latino Americano do Paraná (Lido I, 3/10/1987). xxx A mostra principal do Rio Cine será a de pré-estréias de filmes inéditos no Rio de Janeiro - acompanhando curtas-metragens (estes sim, em disputa). Assim, desde ontem, ali estão sendo exibidos longas que constituem a produção mais recente (1987/88), todos inéditos em Curitiba: "Romance da Empregada", de Bruno Barreto; "A Dama do Cine Shangai" de Guilherme de Almeida Prado (o grande premiado no Festival de Gramado-88); "O Mentiroso", do gaúcho Werner Schulman; "O Mistério do Colégio Brasil", de José Frazão; "Feliz ANo Velho", de Roberto Gervitz e "Terra Para Rose", documentário de teto Moraes (grande premiado em Brasília e Havana no ano passado). O encerramento, será com um filme de Nicarágua - "Mujeres de 1º fronteira". xxx Apesar dos muitos milhões necessários, o Festival Internacional de Cinema, Televisão e Vídeo - que este ano deverá ser realizado em Copacabana, ocupando várias salas (e deixando assim o distante Hotel Nacional) terá um esquema mais amplo do que as edições anteriores. O relacionamento que os diretores do FestRio - Ney, Cosme Alves, Jean Gabriel Albicoco, Luís Carlos Barreto e Hamilton Costa Pinto (área de vídeo) tem em termos internacionais, garantem a presença de produções inéditas mundialmente - uma das exigências para um festival de primeira categoria como é este (assim como os de Cannes, Veneza e Berlim), além da vinda de nomes importantíssimos. O retorno promocional do FestRio é imenso. Nei Sroulevich diz que só em termos de mídia impressa "a cobertura dada ao IV FestRio corresponde a 14 quilômetros de notícias". xxx No ano passado, o FestRio homenageou o novo cinema inglês, trazendo dezenas de filmes que só agora estão lançados na Europa. Para 1988, a homenagem será no emergente cinema chinês, razão que levou Ney e Cosme àquele país para fazer a seleção dos filmes. A intenção de Ney é construir uma sala de exibição, em forma de pagode chinês, para dar mais clima ao evento. LEGENDA FOTO - Cosme Alves (e seu inseparável charuto cubano), diretor do FestRio, fazendo contatos internacionais para a quinta edição em novembro. LEGENDA FOTO 2 - "Mistério no Colégio Brasil", de José Brazão: um dos filmes inéditos no Rio-Cine Festival.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
21/08/1988

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