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Os filmes de Fred em festivais da Europa

O jornalista e cineasta Frederico Fulgraf, alemão de nascimento, mas curitibano de adoção e coração, terá, em 1985, o ano para seu reconhecimento internacional. "Quarup Sete Quedas", filme que marca sua retomada do cinema no Paraná (do qual se ausentou por 12 anos, em que viveu na Alemanha Ocidental), conseguiu ocupar espaços até hoje fechados ao nosso cinema: os principais festivais de documentários da Europa. "Quarup Sete Quedas", rodado em 1982, construído como um poema cinematografico para o texto de Carlos Drummond de Andrade ("Adeus, Sete Quedas"), conseguiu classificar-se no recente Festival do Cinema de Curta-Metragem de Cracóvia, Polônia, obtendo ali menção honrosa, como reconhecimento do esforço e descomprometimento de seu realizador. Mas esse belo filme de 10 minutos de projeção sensibilizou outros festivais. Assim é que apenas dois brasileiros constam, até agora, como convidados oficiais do festival do Cinema Documentário e de TV de Leipzig, que se realizará em novembro, naquela cidade do Leste alemão: Silvio Tendler ("Jango") e Frederico Fullgraf. Ronald Trisch, diretor do festival de Leipzig, não quer ver apresentado apenas "Quarup Sete Quedas", mas também (e principalmente) "Desapropriado", que Fullgraf lançou em dezembro de 1983 (e que foi exibido ontem à noite na Cinemateca do Museu Guido Viaro). xxx De acordo com uma estatística elaborada pela Secretaria de Comunicação Social da Igreja Evangélica de Confissão Luterana do Brasil, este vigoroso documentário-saga sobre a expropriação e expulsão do Oeste do Paraná de 7 mil famílias pela Binacional Itaipu já foi visto, de dezembro de 1983 a julho de 1984, por nada menos de 180 mil pessoas. Na sua grande maioria os espectadores têm sido agricultores dos três Estados sulinos - identificados com o drama dos "sem-terra". Esta cifra é um dado inédito na história do relacionamento autor/público do cinema paranaense e revela um critério pelo menos tão importante quanto a premiação em festivais: o valor de uso social do cinema. Tão gratificante quanto as notícias que vieram da Polônia e da República Democrática da Alemanha é a nota que faz referência ao novo trabalho de Frederico. "O Veneno Nosso de Cada Dia", coopatrocinado pelas secretarias de Estado da Cultura e da Agricultura do Paraná, em associação à produtora Mutirão. Fullgraf, ao iniciar as filmagens deste novo documentário, em fevereiro de 1984, no Paraná e no Pará, esticou a agenda ao receber uma encomenda da WDR-TV, de Colônia/República Federal da Alemanha, sob o tema dos agrotóxicos. Filmou, viajou à Europa e montou uma versão de 20 minutos para a televisão. Este filme intitulado "A Guerra do Veneno"acaba de ser escolhido pela WDR-TV para concorrer ao prêmio máximo para documentários de TV: o Adolph Grimme-Preis de 1984. O reconhecimento do trabalho do Fullgraf para a TV Alemã lhe está rendendo dividendos profissionais. A mesma WDR-TV, através de sua editora de cultura, acaba de lhe encomendar um documentário sobre o tema "Cubatão - Hecatombe Ecológico". O filme - de 45 minutos - será inteiramente produzido e editado por profissionais brasileiros, com uma versão brasileira e outra alemã, a primeira das quais buscará o circuito dito "não comercial", com dedicatória e destinação prioritárias aos movimentos ambientalistas e ecologistas do País. Já a versão brasileira de "A Guerra do Veneno" deverá concorrer no l Festival de Cinema e Vídeo ( Rio de Janeiro, novembro/84). Cópias deste trabalho serão oferecidas, graciosamente, às secretarias de Agricultura do Paraná e do Pará, como gesto preliminar de gratidão a Claus Germer e João Batista Bastos pelo apoio proporcionado à produção de "O Veneno Nosso...", com o lançamento previsto no final do ano. xxx Fullgraf está em Curitiba com uma missão especial: a convite do Goethe Institut fará as traduções de duas palestras do escritor, dramaturgo e cineasta Tankred Dorst. Ontem, no auditório do Goethe, Frederico traduziu as palavras de Tankred dentro da palestra que tem por tema "Por que um ator faz seus próprios filmes". Hoje, no mesmo local, mas uma hora antes (17h30min), Tankred falará sobre "A Cena Teatral Alemã Contemporânea". Às 20h30min, exibição de seu filme "Eisenhans"(1982, preto e branco, legendas em português), seguindo-se debate. Mais uma vez, Frederico Fullgraf - que em sua última passagem pela Alemanha assistiu a mais famosa peça de Dorst, "Merlin"(oito horas de duração), estará servindo de intérprete. A programação que o professor Heinrich Heimmer, diretor do Goethe, montou para a passagem do escritor e cineasta por Curitiba não poderia ser mais movimentada projeções de três vídeos com suas obras. ( "Toller ", Klaras Mutter" e "Mosch") ; dos f ilmes "Klara Mutter" e "Eisenhans", leitura pelo autor, em alemão, de trechos do "Merlin" e, em português, com atores paranaenses (auditório Glauco Flores de Sá Brito, sábado, 18 horas). No dia 5, estréia de "Gritaria nos Muros da Cidade", direção de Ivone Hoffmann. Tankred viaja no sábado para Porto Alegre, mas retorna no dia 7 especialmente para assistir a montagem patrocinada pelo Goethe. A Paz & Terra está lançando "Merlin", em tradução da gaúcha Lya Luft. Segundo Peter Becker, do "Suddeutsche Zeitung", é um livro maravilhoso e cheio de maravilhas. Dorst, em quase 400 páginas e 97 cenas, representa um panorama singular e grandioso: Cristo expulsa os deuses pagãos e então uma mulher gigante, assistida por um palhaço, dá a luz ao feiticeiro Merlin, filho do diabo. E este passa a ser, como que num pacto fáustico com os homens, o encenador de sangrentas batalhas de cavaleiros e de romances horripilantes e belos num mundo que faz renascer uma Idade Média fabulosa ao lado dos séculos 19 e 20, e em que o passado e o presente se entrelaçam".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
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Tablóide
14
31/08/1984

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