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Aramis

Os judeus paranaenses (V)

Sendo uma dissertação de mestrado para obtenção de créditos no curso de pós-graduação em História Demográfica, o estudo da professora Regina Rotenberg Gouvea sobre a comunidade judáica em Curitiba (1899-1970), se detém, naturalmente, na análise populacional. Assim, fora os aspectos que já registramos no primeiro comentário desta série (O ESTADO, 17/8/80), Regina elaborou um gráfico mostrando que, na distribuição da população por sexo, há um relativo equilíbrio durante o período analisado, (81 anos). Comparativamente, porém, é maior o número de individuos do sexo masculino em relação ao feminino, como evidência o cálculo da razão de masculinidade dessa população. Os índices apresentam-se elevados nos primeiros quinquênios, pois em 1930 havia 114,6 homens para cada 100 mulheres e, em 1935, 112,7 para 100, respectivamente. A razão da masculinidade começa a baixar a partir de 1940, atingindo em 1970 o ponto de equilíbrio: 100,2%. Explica a professora Regina Gouvea que "isto está de acordo com o comportamento das populações imigrantes, que tendem, na sua fase inicial, a ter um excedente de elementos masculinos em relação ao efetivo feminino, isto é, com razào de masculinidade acima de 105,0. No caso da comunidade judaica de Curitiba, são responsáveis pelos índices já mencionados, algumas faixas etárias que integram a idade adulta. Em 1914-1918, a guerra mundial provocou uma reentrância na faixa de 10 a 15 anos de idade. No caso de Curitiba, outro fator ocorreu: sendo o período inicial de imigração, se registravam poucos nascimentos. "Todavia, lembra Regina, é pertinente aos imigrantes já presentes aqui em 1930, afetados pela crise ainda em seus locais de origem. Deve ser lembrado que o ano de 1930 faz parte do período de maior afluxo de imigrantes para Curitiba. Xxx A estrutura etária do ano de 1940 é ainda muito semelhante a do período anterior: 51,1% de 0-20 anos; 48,1% de 20/60 anos e 0,8% acima de 60 anos. A população, como se vê, continua sendo predominante jovem, começando, todavia, a ampliar em direção à faixa populacional adulta. Esta população que compreende praticamente a população economicamente ativa, chega em 1950 a superar, em participação, a população jovem. Assim, fica evidente a existência de grande força de trabalho na comunidade judaica, que propícia, a partir da referida década, uma maior diversificação de ocupações, como registramos há dois dias. As grandes mudanças na estrutura populacional da comunidade judáica de Curitiba dar-se-iam, efetivamente, a partir de 1950. É fato que, até 1970, as pirâmides que representam graficamente tal população, continuariam simétricas, com algumas nuanças. Mas é certo também que a forma típica piramidal vai-se desfazendo. O exame da pirâmide afirmar que a população judáica curitibana já não pode mais ser caracterizada como predominante jovem. A grande característica, ao contrário, é o alargamento da faixa adulta. Assim, para cada 100 pessoas, tem-se a seguinte estrutura: 0-20 anos 38,1%; 20-60 anos: 59,5%; 60 anos e mais - 2,4%. O estreitamento na faixa etária corresponde aos que nasceram durante a I Guerra Mundial dispensa explicações. O que se faz necessário é a redução relativa na faixa de 0-5 anos. A responsabilidade por esse fenômeno deve ser atribuida aos fatos verificados entre 1940/1945 (II Guerra Mundial). Nesses cinco anos, a taxa geométrica de crescimento anual, foi de menos 5-42%. E só no quinquenio seguinte (1945-50), teria um crescimento positivo (2,28%). E entre 1950/55 alcançaria 4,90% ao ano. De uma situação de incerteza e insegurança, como foi a conflagração mundial, especialmente para os judeus, passou-se na mesma década para uma outra, de prosperidade econômica e maiores liberdades políticas, propiciando a procriação. Em 1970, a pirâmide apresentava os seguintes números: 35,2% - 0 a 20 anos; 59,3% - 20/60 anos e 5,5% 60 anos a mais. A pirâmide de 1970 só consolidou as tendências apresentadas em 1960, com uma predominancia ainda mais acentuada da população adulta, ainda que a faixa considerada jovem não deixe de ser expressiva. A população mais idosa, por outro lado, passou a ter uma participação significativa no conjunto. A partir de 1950, notou-se uma maior participação do judeu nos empreendimentos economicos, políticos e sociais como os demais brasileiros. O que, obviamente, repercutiria no seu comportamento demográfico. As faixas etárias que compreendem pessoas de 0 a 5 anos e 5 a 10 anos aumentaram em relação a 1960. O quinquenio (1950/55 foi particularmente significativo, pois a taxa geométrica cresceu 4,9% ao ano, fato que não se repetiria depois, já que no quinquenio seguinte e na década de 1960 a tendência foi declinante e a partir de 1960 as taxas são negativas. A pirâmide de 1970 evidenciou o declínio da natalidade entre os judeus curitibanos, com a redução da participação relativa na faixa de 0 a 5 anos. No período de 1960/65, a taxa geométrica de crescimento foi negativa (2,71%), repetindo-se entre 1965/70 (-7,72%). Esses índices não fogem ao comportamento demográfico apresentado pelas demais comunidades judáicas do mundo, que tendem a diminuir seu efetivo populacional. "As razões, porém, dessas quedas nas taxas de crescimento, especificamente para o Brasil, talvez possam ser explicada pela instabilidade política, econômica e social, que se instala no início dos anos 60 e se estende até a década de 70, provocando a insegurança para a população em geral", garante a professora Regina Gouvea. A população das altas faixas etárias continuam ampliando sua participação, chegando ao seu ponto máximo em 1970, com uma representação de 5,5% do conjunto. Entre as pessoas de 60 anos e mais, encontra-se uma parcela significativa de individuos com mais de 70 anos e, mesmo na faixa dos 80. Isto se torna mais evidente 1960/1970 quando a somatória dos óbitos das faixas jovens e adultos é inferior ao número encontrado na faixa de 60 anos e mais. Esse fato significa um envelhecimento da população, isto é, aumento de sua expectativa de vida. Tal comportamento reflete as condições adequadas de vida que desfrutam, em sua maioria, os judeus pertencentes a essa comunidade. Para entender o fenômeno demográfico dos judeus em Curitiba é necessário confrontá-lo com os dados relativos ao conjunto da população paranaense. Isso, no entanto, só foi possível para os anos de 1940/50/70 no que se refere a estrutura dos grupos etários. Nos tres primeiros períodos, a população do Paraná assume, na representação gráfica, a forma de pirâmide configurada como acento circunflexo, isto é, com a base ampla significando a manutenção de altas taxas de natalidade, enquanto à correspondente à comunidade judáica não obedece a mesma sistemática. A estrutura etária da população paranaense possui as mesmas características dos países subdesenvolvidos, com a predominância da população jovem, em detrimento da população adulta e velha. Desse modo, o perfil da pirâmide paranaense apresenta-se com uma base ampla, diminuindo gradativamente na medida em que aumentam as idades. Esse fenômeno é típico dessas populações, em função dos altos índices de natalidade e da mortalidade relativamente precoce de uma parcela da população adulta. Somadas as faixas etárias compreendidas entre 0 e 20 anos, aqui consideradas como população jovem, representam mais da metade do total paranaense nas tres décadas analisadas. Na faixa de 0 a 20 anos, houve um crescimento de 54,7% (1940) para 56,6% (1970); na de 20/60 anos uma redução de 41,6% (1940) para 39,7% (70) e 60 anos e mais, uma estabilização: 3,7% (em 1950, caiu para 3,4%). Evidencia-se, assim, diferenças bem marcantes entre as duas populações - a paranaense e a da comunidade judáica, pois esta última assemelha-se mais à estrutura dos países desenvolvidos.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
10
22/08/1980

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