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Aramis

Os livros de James que chegaram à tela

Há 12 anos, dois filmes baseados em obras de Henry James faziam com que se voltassem as atenções para este americano que se naturalizou inglês e que mudou radicalmente o ponto de vista narrativo, instaurando o personagem refletor, único intermediário entre o autor e o leitor. Quase sempre na terceira pessoa, suas obras utilizam um personagem que narra uma história, às vezes não presenciada mas apreendida de segunda ou terceira mão. Limitado o conhecimento do leitor pelo ponto-de-vista necessariamente parcial do narrador, a criação literária se define por uma busca incansável e condenada ao fracasso de verdade. Tudo se organiza em torno do estigma inatingível em seu núcleo mais íntimo. Dois filmes baseados em seus textos, o mais conhecido é justamente o que tem o fantástico, o sobrenatural como tema: a novela "The Turn of the Screw" ("A outra volta do paraíso", edição da Civilização Brasileira, 1962), que se transformou num clássico de Jack Clayton ("Os Inocentes", 61, com Déborah Kerr e Michael Redgrave - por coincidência pai de Vanessa) e teve uma medíocre seqüência, 9 anos depois ("Os que chegam com a noite/ The Nightcomers, 70), com Marlon Brando numa das mais infelizes atuações de sua carreira. Em 1949, Willian Wyller (1902-1981) havia transposto à tela, com imensa dignidade, o seu "Washington Square", que se chamou no cinema "The Heiress" ( no Brasil, "Tarde Demais") , obtendo nada menos que oito indicações ao oscar - duas das quais foi vencedor: atriz (Olívia de Havilland) e cenografia em branco e preto (Edith Head/ Gile Steele). Em 1974, simultaneamente, o americano Peter Bogdanovich, fracassava ao tentar numa superprodução transpor o intimismo de "Daisy Miller" baseado na novela de James, de 1879, enquanto Claude Chabrol realizava uma média-metragem, "Le Banc de la Desolation" (nunca exibido no Brasil), baseado em "De Gray, uma narração romanesca"- e que tinha uma história relacionada com o sobrenatural (Temática constante em sua obra): uma maldição fez com que os homens de uma família, ao se apaixonarem por uma mulher, provoquem a sua morte. Já "Daisy Miller" era definido pelo diretor Bogdanovich como "uma amarga história de amor, timidez e oportunidades perdidas". A ação se desenrola em Roma, onde uma jovem americana, rica, sem preconceitos e coquete, passa uma temporada com a família. Auto-exilado na Europa, complexo em seu mundo - homossexual jamais assumido, Henry James realizou uma obra marcante e profunda, que, em transposições para a tela - ( como neste "Os Bostonianos") pode chegar a novas faixas de leitores. Alías, escolher um título para inaugurar a coleção "Novelas do Mundo" (Rocco Edições), Fernando Sabino optou por um dos mais importantes textos de Henry James, "A Fera na Floresta"- numa edição que encontrou boa vendagem junto ao público jovem. Num belo estudo sobre Henry James, Edilberto Coutinho, escritor e ensaista de raízes curitibanas, bem definiu sua importância: "A cavalo sobre dois séculos e duas civilizações, James não se sentiu à vontade em nenhuma parte, salvo no reino da palavra, sua verdadeira pátria. Lá construiu um mundo à parte onde transfigurou suas experiências, indizíveis com a morte, o sobrenatural, o Mal, a ausência e o enigma. Julgado por muito tempo um amável, embora complexo, cronista de uma classe em decadência, James ganha hoje uma atualidade que devolve à sua obra as proporções justas: uma comédia humana fin de siècle."
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
13
24/09/1986

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