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Aramis

Os melhores filmes das últimas décadas

A escolha dos melhores filmes do ano transcende a simples vaidade crítica e reflete, antes de tudo, uma visão sintética do ano cinematográfico. Assim como os "Conselhos de Cinema" - criados a partir do pioneirismo do "Cahiers du Cinema", nos anos 50, se mantém atuais e a prova disso está no destaque que ocupam nas mais importantes revistas especializadas (e mesmo algumas de atualidades) de vários países (e, no "Jornal do Brasil", Rio, ultrapassando também para outras áreas culturais) - também as listagens anuais são significativas. O Estado do Paraná mantêm há duas décadas a tradição de dedicar várias páginas em edição de fim-de-ano a listagem dos melhores do cinema. Variando a data exata de publicação - mas sempre ou na última semana de dezembro ou nos primeiros dias de janeiro - o referendum ocupa espaço nobre. Para a listagem de 1987 foram reservadas algumas páginas do suplemento ALMANAQUE, que na edição de domingo, 3 de janeiro, trará também completo levantamento do ano musical, assim como páginas de teatro, artes plásticas e vídeo. Infelizmente, a literatura não pode ser recenseada criticamente pala óbvia razão de que inexiste, no Paraná, uma crítica literária atuante. Também o setor teatral tem mínimos analistas - numa contradição aos anos 50, quando cada jornal tinha um crítico atuante, ao ponto de terem formado inclusive uma associação que outorgava prestigiosos prêmios aos melhores do ano. Atuavam, então, na crítica teatral, Renê Dotti, hoje Secretário da Cultura ("Diário do Paraná); Nelson Faria de Barros, hoje editor da revista "Quatro Estações" (escrevia em O Estado do Paraná), Reinaldo Delê ("O Dia") e P.A. do Nascimento, hoje funcionário aposentado dos Correios e Telégrafos ("Gazeta do Povo). Através dos 220 filmes que, a partir de 1965, figuraram nas relações dos melhores lançamentos em Curitiba se tem uma mostra da evolução do cinema nas últimas duas décadas. Aliás, uma promoção que há tempos é estudada seria uma grande retrospectiva dos melhores filmes neste período - agora mais fácil de ser feito graças as opções trazidas pelo vídeo, pois, até há alguns anos, de muitos filmes que foram eleitos entre os melhores inexistiam cópias possíveis de serem exibidas (o problema continua com alguns títulos, pois, infelizmente, a guarda das cópias de obras cinematográficas de alto valor cultural é um desafio aos dirigentes de nossas poucas cinematecas). xxx Em 1965, o filme que obtinha o maior número de pontos no primeiro referendum de O Estado era "Deus e o Diabo na Terra do SoL" de Glauber Rocha - até hoje, em nossa opinião, o mais criativo realizado no Brasil. Naquele mesmo ano, apareciam na relação Mario Monicelli ("Os Companheiros"), Stanley Kubrick ("Dr. Fantástico"), Michelangelo Antonione ("O Grito"), Michael Cacoyannis "Zorba, o Grego"), Dino Rissi "Aquele Que Sabe Viver") e Luiz Buñuel ("O Diário de uma Camareira"). Uma seleção da pesada, na qual se agregavam ainda dois jovens ingleses, então no início de suas carreiras: John Schelesinger com "Ainda Resta Uma Esperança" e Jack Clayton com "Crescei e Multiplicai-vos" - que nunca tiveram reprises no Brasil e inexistem também em vídeo. xxx Impossível, por questão de espaço, a transcrição de todos os filmes nominados em 22 anos. Mas, ao menos vamos citar os que lideraram as listas a cada ano. Em 1966, "Vagas Estrelas da Ursa", de Luchino Visconti - que, ao ser lançado no cine Lido, registrou a menor bilheteria daquele ano. E só não foi retirado de cartaz porque o astuto Zito Alves, então gerente da casa, convenceu ao velho Henrique Oliva, proprietário do cinema, que "os intelectuais iriam protestar" (em 1963, quando Ismail Macedo cortou a exibição de "Electra", de Cacoyammis, no Cine Ópera, por baixa renda, a Sociedade Helênica do Paraná fez protestos). Em 1967, um filme em preto e branco, hermético e complexo, "Mickey One", encabeçava a lista. Era dirigido por Arthur Penn, também autor de "Caçada Humana" - classificado em segundo lugar. Em 1968, o campeão foi "2001: Uma Odisséia no Espaço", de Stanley Kubrick, que continua a fazer lentas obras-primas (em fins de janeiro, estréia seu novo filme, "Nascido Para matar/Full Metal Jackett", sobre a guerra do Vietnã. Em 1969, Pier Paolo Passolini saía na cabeça: "Teorema" foi escolhido o melhor filme. O cinema italiano repetia a boa performance no ano seguinte: "Investigação Sobre um Cidadão Acima de Qualquer Suspeita". Em 1972, o lirismo nostálgico de "Houve Uma Vez Um Verão", de Robert Mulligan, garantia sua primeira colocação na lista. O mesma Mulligam repetiria a premiação: seu "A Inocente Face do Terror" foi considerado o melhor filme em 1973. "Sonhos do Passado", de John G. Avildsen - reprisado na televisão há duas semanas - foi o melhor filme de 1974. Em 1975, dava Fellini na cabeça: "Amarcord" foi o vencedor num ano em que havia também três fitas de Bergmann ("Gritos e Sussurros", "O Sétimo Sêlo" e "Cenas de um Casamento"), Billy Wilder ("A Primeira Página"), Polanski ("Chinatown") e Coppola ("O Poderoso Chefão- parte II"), além de Luis Buñuel ("O Fantasma da Liberdade"). Vencedor do Oscar, "Um Estranho no Ninho", de Milos Forman foi também o melhor filme em 1976, na listagem de O Estado. Em 1977, "Testa de Ferro por Acaso", no qual Martin Ritt denunciava o Macarthismo; com Woody Allen como ator central, foi o primeiro classificado, vencendo Stanley Kubrick ("Barry Lyndon"). Em 1978, "Julia", de Fred Zinnemann conseguiu mais pontos do que "Derzu Uzala" de Akira Kurosawa e "Laranja Mecânica", de Stanley Kubrick, que levou 6 anos para chegar ao Brasil - já que a ditadura militar havia proibido sua exibição e, assim mesmo, só o liberou com ridículas bolinhas pretas cobrindo os órgãos sexuais dos personagens nas cenas de nudismo. "Cria Cuervos", de Carlos Saura, foi o primeiro classificado na lista de 1979, um ano com dois filmes de Bertolucci nas classificações seguintes: "1900" e "O Último Tango em Paris". Foi também o ano de "Apocalypse Now", de Francis Coppola que ficou em 4º lugar. Político e corajoso, "Z", de Costa Gavras, fez com que "Manhattan", de Woody Allen ficasse em segundo lugar na lista de 1980 - ano em que também estiveram entre os melhores "A Árvore dos Tamancos" (Ermano Olimi), "O Show Deve Continuar"(Bob Fosse), "Providence" (Alain Resnais), Buñuel ("Esse Obscuro Objeto do Desejo) e Bergman ("Sonata de Outono"). O Brasil ocupou o primeiro lugar em 1981: "Eles Não Usam Black Tie" foi o vencedor. "Johnny Vai à Guerra", único filme dirigido por Dalton Trumbo - e uma das maiores denúncias dos horrores da guerra - foi o melhor filme de 1982, ano em que também chegava ao Brasil o político "A Batalha de Argel", hoje disponível em vídeo - mas que esteve proibido por quase 10 anos. "Mephisto", de Stevan Szabo, foi melhor filme de 1983, ano em que a ficção científica foi revalorizada com "Blade Runner" de Riddley Scott. Fellini voltaria ao primeiro lugar em 1984 com "E La Nave Va" - filme que, a partir do próximo domingo, 10, estará em reprise no cine Groff. Finalmente, nos dois últimos, Woody Allen garantiu o bicampeonato: "A Rosa Púrpura do Cairo" em 1985 e "Hannah e suas Irmãs" no ano passado. A relação de 1987 fica para domingo, é claro! LEGENDA FOTO 1: "Manhattan", de Woody Allen: 2º lugar na lista de 1980. LEGENDA FOTO 2: Kubrick, chega em janeiro com novo filme: "Nascido para Matar".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
31/12/1987

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