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Aramis

Os melhores momentos dos bons que já desapareceram

Assistir a um grupo como o Traditional Band é como uma espécie de introdução ao mundo fascinante do jazz. Privilégio de uma minoria de iniciados nos segredos da música instrumental americana até há alguns anos, o jazz se democratizou felizmente! E o interesse é crescente, haja visto que em menos de seis meses o Blue Note Jazz Clube, fundado pelo engenheiro Guy Manoel a frente de um grupo de jazzmaníacos, se consolidou atingindo já sua lotação completa (hoje a noite, aliás, acontece uma reunião especial, com canja da rapaziada do TJB). O sucesso das três edições do Free Jazz Festival, as constantes temporadas de grandes nomes no Brasil - infelizmente, poucos deles estendendo suas apresentações também a Curitiba - e sobretudo edições de excelentes álbuns com jazz de todos os estilos, através de organizadas produções por selos como a CBS WEA (que está familiarizando os brasileiros com o Blues), Polygram, Odeon, RCA (eventualmente) e mesmo etiquetas menores - como a pioneira Imagem - fazem com que o jazz se torne cada vez mais popular. "Ao Redor da Meia Norte (Round Midnight), o belo filme de Bertrand Tavernier, que valeu ao saxofonista Dexter Gordon a indicação ao Oscar de melhor ator, é aguardado como o grande filme da temporada - depois de sua trilha sonora (belíssima) já ter merecido dois elepês e cópias (piratas) em vídeos terem sido das mais procuradas nas locadoras. Como bem acentuou o jornalista Tárik de Souza, o duelo entre o jazz contemporâneo apoiado na corrente eletrificada do fusion e a linha principal do movimento, de natureza acústica, vem prosseguindo nas prateleiras das lojas, com ofertas cobrindo os mais diferentes gêneros. Maurício Quadrio, da CBS, um dos record men a quem mais se deve pela democratização do jazz, através de lançamentos com nada menos que 16 elepês - dez reedições dos anos 30, oito da década de 50 e início dos 60 e seis da nova safra. Ofertas para ninguém botar defeitos. Neste pacote, o tradicional tem dois volumes com o homem que personifica o jazz: Louis Armstrong (1900-1971). Fazendo um mergulho espumante no jazz primitivo o grande Satchmo, com sua voz tão característica, homenageia a W.C. Handy (1873-1958), o histórico autor do marco "Saint Louis Blues", mas mostrando alguns outros temas fascinantes como "Atlanta Blues", "Beale Street Blues" "Yellow Dog" e "Hesitating Blues". No segundo álbum o homenageado é "Fats" (Thomas) Waller (New York, 1904-Kansas City, Missouri-1943). Nesta gravação - datada de abril de 1955 - com seu All Stars - incluindo a vocalista Vera Midleton - o grande Armstrong revisita o repertório saltitante de Fats Waller, um dos grandes compositores do jazz - que colocava em seus temas desde as passagens mais lentas ("Squeeze me"), o humor ("All that meat and no patatoes"), o balanço ("Honeysuckclere Rose") e o lirismo - como em "Ain't misbehavin", sua música mais conhecida - e título do musical sobre sua vida que até há pouco era o maior êxito na Broadway. Depois de Armstrong, outro gênio do jazz: Duke Ellington (Edward Kennedy Ellington, 1899-1974) num de seus mais iluminados momentos: uma gravação informal, acontecida em fevereiro de 1959, num clima relax, e na qual a participação de cobras como Dizzy Gillespie, Clark Terry no pistão; Johnny Hodges e Pau1 Gonsalves no sax e uma notável seção de percussão fez o disco ganhar do crítico Irving Townsend a definição de "o melhor álbum de jazz que eu já ouvi". Dá para concordar. Do tradicional às big bands, chegando ao bebop - com Miles Davis - presente na coleção com três de seus melhores álbuns ("Miles live", gravado ao vivo em maio de 61 no Carnegie Hall); "Roud about Midnight", e "Miles ahead", com a orquestra de Gil Evans - que em setembro veio ao Brasil para o Free Jazz). Além do pistão do Davis, há o baixo mágico de Charlie Mingus, num de seus melhores momentos - gravado em maio de 1959. A mais bela voz da historia do jazz - Billie Holiday (1915-1959), não poderia faltar - com dois volumes de canções gravadas entre 1933/l936, com todo seu estilo mágico e que a fez sempre única e especial. Esta a amostragem já vale como uma introdução a quem deseja reter um pouco do melhor do jazz - sem falar na linha ainda mais popular da era do swing (1935-42) com a orquestra de Glenn Miller, também ganhando um álbum especial na coleção. E depois vem toda uma nova geração - mas que é assunto para outro dia.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
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04/11/1987

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