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Aramis

Os mitos de uma época

Conta George Sadoul, o mais respeitado historiador do Cinema, que os dez anos que se seguiram a primeira guerra mundial foram para Hollywood um período de prosperidade conquistadora. Os filmes estrangeiros foram eliminados dos programas dos vinte mil cinemas dos Estados Unidos. No resto do mundo, os filmes americanos ocupavam por vezes de 60 a 90% dos programas e 200 milhões de dólares eram consagrados por ano a uma produção que ultrapassava 800 filmes. Um bilhão e meio de dólares investidos no cinema haviam-no transformado numa empresa comparável, pelos seus capitais as maiores industrias americanas: automóveis, conservas, aço, petróleo, cigarro... Algumas grandes companhias - Paramount, Fox, Metro, Universal, dominavam a produção, exibição e distribuição mundial (sessenta anos depois pouca coisa mudou...) E nascia também o star system. Os produtores transformavam os diretores em meros empregados pagos por semana como os eletricistas, cinegrafistas ou maquinistar. O "Box Office" indicava as preferências do público e o produtor geralmente na sombra, não se importava desde que os lucros fossem certos. Astros e estrelas eram a fachada da Usina dos Sonhos a base do seu domínio mundial. O entusiasmo dos admiradores era alimentado por milhões de fotografias com dedicatórias, colunista especializadas e revistas amplamente ilustradas - que tinham edições nos mais diversos países (no Brasil, as históricas << Cena Muda >> e << Cinearte >>, esta editada pelo veterano Ademar Gonzaga, já nos anos 20 preocupado com o nascimento de uma industria cinematográfica brasileira. A futilidade virava noticia e materia de consumo do grande publico. Os amores os divórcios, os trajes, as casas, os animais prediletos dos astros estrelas mereciam ilustradas reportagens e mereciam discussões. Embora o sistema tinha suas primeiras divindades: Rodolfo Valentino, Douglas Fairbanks, Mary Pickford, lória Swanson, Walace Reid, John Gilbert, Mae Murray, Norma Talmadge, Clara Bow e mesmo on Chaney, o homem das mil faces. William Kas organizou a Associação dos Produtores e Distribuidores Americanos criando o puritano e rigoroso código Hays que até os anos 50 nortearia a produção norte-americana, dentro de uma escada industrial como dizia o próprio Hays: << S mercadoria acompanha o filme; onde quer que penetre o filme americano, vendermos mais produtos americanos >>. Surgiram os super-herois sem mácula. Como diz Sadoul << a personalidade de certos astros modificou-se quando Hollywood tomou consciência de sua missão internacional. Douglas Fairbanks (1883-1939), no tempo da << Triangle >> encarnara com humor um feroi americano forte, ingênuo, otimista, amado por belas mulheres. Porem tornou-se mais tarde no México (<< A Marca do Zorro >>, 1920, de F. Niblo) na França ("Os Três Mosqueteiros", 1921 também de Niblo) na Inglaterra (<< Robin Hood >> 1922, de A . Dwan), no Oriente (<< O Ladrão de Bagdá >>) 1924, de Raoul Walsh e "O Pirata Negro"... 1926 de Albert Parker) um atleta invencível um cavaleiro sem medo nem mácula, o defensor sempre vitorioso de todas as boas causas. Com a idade ele tomou gosto pelos cenários gigantescos, pelo luxo soberano, pelos poderes mágicos. D`Artagnar ter-se-ia tornado um verdadeiro Barão de Munchhausen se a bonomia e o sorriso não o tivessem preservador de um ridículo excessivo. Sua personalidade impregna todos esses filmes, mais que a de Fred Niblo Raoul Walsh, Victor Fleming, Donald Crisp ou Allan Dwan que o assinaram >>. Americano de Denver com uma ilustre carreira teatral e expressiva temporada na Broa dway (1906-1913) e que chegou ao cinema após uma aplaudida criação de Laertes em "Hamlet" Fairbanks se tornava um ídolo 100% americano. Mas a surpresa seria a ascensão meteórica de um humilde italiano de Castellaneta di Taranto, Bari, Itália, chamado Rodolfo Guglielmi e que se tornaria o maior mito do cinema mundial nos anos 20: RODOLFO VALENTINO (1895-1926). Filho de um veterinário, aos 15 anos decidiu-se ser oficial dos carabineiros fascinado pela farda azul dos membros da corporação. Porem a falta de recursos o levou a Escola de Maquinistas Navais de Veneza, na qual não chegou a ser admitido por falta de << conhecimento teóricos >>. Ingressou então na Escola Técnica Agrícola de Genova, mas logo voltaria ao seu << paese >> bastante frustrado. Frustração que o levou a Paris e Montecarlo em busca da fortuna. Mas a Deusa não lhe sorriu e teve que retornar ao lar algum tempo depois. Finalmente tomou a decisão de emigrar para o Estados Unidos. Sem saber falar uma palavra de inglês, desembarcou em Nova Iorque a 23 de dezembro de 1913. Seu primeiro Dólar ganhou como ajudante de jardineiro no Central Park e a noite, começou a rodar pelos cabarés da grande cidade faaendo trabalho medíocres. Seu belo tipo físico é conhecimento de alguns passos de dança o fizeram iniciar uma nova carreira: bailarino. E, muita imaginação, em pouco tempo chegava a Broadway, atuando em nights clubes com o pseudônimo que o faria celebre. Em 1918 chegou a Califórnia, sonhando trabalhar no cinema. E, em pontas expressivas, apareceu em "Out of luck" (1919, de Elmir Clifton), "Eues of youth" (1919, de Albert Parker) e "Passion`s playground"......(1920, de J. A . Barry). Nesta época conseguiu, com seu belo tipo, uma importante madrinha, a atriz Mae Murray... (1889-1965). Porem a sua grande chance surgiu em 1921; quando Rex Ingrand 91892-1950) o escolheu para interpretar o argentino Júlio Desnoyers na superprodução da MGM "os Quatros Cavaleiros de pocalipse", inspirado no romance de Blasco Ibanez. Na verdade foi o roteirista June Mathias quem o sugeriu impressionando pelo seu físico latino. O sucesso que o filme alcançou criou o novo mito: a atriz Alla Nazimova (1879-1945) o escolheria para interpretar o Armando de "A Dama das Camélias" (Camille de C. Smaliwood), que o fez ainda mais popular. E ainda em 1921, interpretaria o lendário "O Sheik" (The Sheik, de George Melford) e mais um filme para Ingram; "Eugenia Grande", inspirado em Balzac. Casado com a milionária. Na tacha Rambova (sua primeira mulher foi a bailarina Jean Acker, com a qual havia iniciado sua carreira de dançarino), Valentino se tornaria a encarnação de mito do latin loverz - uma espécie de réplica da "femme fatale". Interpretando personagens exóticos em filmes de aventuras em que longos clos-upsbuscavam destacar seus olhos penetrantes, Valentino criaria uma escola que, após sua morte, teve fracassados imitadores: Ricardo Cortez, Antonio Moreno, Gilberto Roland, Ramon Navaro, John Gilbert e Robert Taylor. Em 1922, faria mais quatro filmes famosos: "O grumete" (Moran of the Lady Letty, de G. Melford) , "Mats Forte que o amor" (Beyond the rocks, de Sam Wood), e "Sangue e Areia" (Blood and Sand, de Fred Niblo) e "O Jovem Rajá" (The young rajah, de Phil Rosen). Com uma vida social mais intensa, em 24 diminuiria a produção: estrelou apenas "Monsileur Beaucaire" de Sidney Olcott e "A Sainted devil" de Josep Henabery. Em 1925 também mais dois filmes: "O Cobra" de J. Henabery e "O Aguia" de Clarnece Brown. Nesta época sua imensa popularidade - aumentada pela sua vida então luxuosa e osten sivamente sofisticada - provocava criticas, como de "Chicago Tribune" que lhe chegou a chamar de "Polvo pervertido" em manchete de primeira página. Em 1926, finalmente, faria seu ultimo filme, "O filho do Sheik", dirigido por George Fitzmaurice. Aos 31 anos, em seus suntuosos aposentos no Hotel Ambassador, em Nova York, viria a morrer, aparentemente por ulcera gastrica, embora se falasse em sifilis. Sua morte e enterro deram origem a fenômenos de histeria coletiva: houve vários suicídios, duzentas mil pessoa saíram as ruas para ver passar o cortejo fúnebre e Mussoline enviou a Nova Iorque uma guarda de honra. Com Valentino começava a morrer o Star System. A exibição hoje à noite, no Centro de Criatividade (Parque São Lourenço, Rua Mateus Leme, 20 horas) de 2 clássicos do cinema mudo - "O Ladrão de Bagda" (1924) com Douglas Fairbanks e "O Filho do Sheik (1926), o último filme estrelado por Rodolfo Valentino, oferece oportunidade a uma nova geração de conhecer dois mitos do Star System - quando a Usina de Sonhos era risonha e franca. De Valentino, ainda será exibido um documentário em super 8mm, mostrando cenas de seu enterro, que provocou histeria coletiva e vários suicídios. No próximo dia 22, na reabertura do Scala - então como cinema de arte, será relançado, somente nas sessões das 22 horas, outro filme do mais famoso "latin lover" do cinema: "O Águia". FOTO LEGENDA - O enterro de Valentino: comoção em Nova Iorque. FOTO LEGENDA1 - "Latin Laver": suspiro de mulheres, desmaios, O mito.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
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15/03/1974

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