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Aramis

Os momentos de Tancredo e os vídeos no II FestRio

RIO - Pelo menos duas vezes, ao longo de "Céu Aberto", um dos três filmes brasileiros que concorrem ao Tucano de Ouro, no II FestRio, é mencionado o Paraná como um dos três Estados (os outros seriam São Paulo e Minas Gerais) nos quais se ofereceria apoio a resistência, com a candidatura de Tancredo Neves, caso o golpe militar contra sua eleição tivesse sido deflagrado. Realizado a partir da transferência do presidente Tancredo Neves do Hospital de Base, em Brasília, para o Instituto do Coração, em São Paulo, "Céu Aberto" é um filme enxuto, honesto e sem panfletarismo a propósito de um assunto recentíssimo: a eleição, vida e morte de Tancredo Neves, e a posse do vice, José Sarney. Produção de Cr$ 900 milhões, esse documentário tem a dignidade e a honestidade que faltaram ao oportunista "Pátria Amada", de Tizuki Yamazaki, lançado em março último, e a competência profissional que faltou a "Muda Brasil", o medíocre documentário de Osvaldo Caldeiras. Entretanto, apesar da seriedade com que foi realizado (e trazendo cenas emocionantes), dificilmente esse longa-metragem de João Batista de Andrade conseguirá êxito de público, já que os fatos abordados são demasiadamente recentes e, ante a extenuante cobertura da televisão, as imagens capturadas pela câmara de Chico Botelho pouco acrescentaram de novo. Louve-se, entretanto, o material de pesquisa utilizado, com cenas de Tancredo durante os governos Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek e João Goulart, nos quais sempre teve destacada atuação política. João Batista de Andrade fez um filme sem populismo e demagogia. Mesmo ao reportar a ação do general Newton Cruz, quando comandante militar do Planalto (aproveitando, inclusive, a famosa entrevista na qual o general tentou agredir um radialista de Brasília), o filme não o desmoraliza. O próprio oficial é que, pela ação violenta e, posteriormente, numa cálida entrevista ao lado dos netos ([durante] a qual, obviamente, nega seu envolvimento em qualquer tentativa de golpe), provoca risos na platéia. Nenhuma referência é feita a problemas paralelos, como o caso Baumgarten. João Batista limitou-se ao fio central do documentário: Tancredo Neves. Para o público estrangeiro, torna-se um pouco difícil entender mais profundamente "Céu Aberto", que não se esforça, em momento algum, em fazer uma retrospectiva histórica dos fatos que antecederam a eleição de Tancredo. De qualquer maneira, é mais um válido documentário político sobre o Brasil contemporâneo, que não proporciona, evidentemente, a mesma emoção conseguida com "Jango", de Silvio Tendler (83), ou "Cabra Marcado para morrer" (84), de Eduardo Coutinho (este o grande vencedor do I FestRio), mas que se inclui como um filme de méritos, confirmando, assim, a segurança com que João Batista utiliza o cinema como veículo de expressão política. DOCUMENTOS EMOCIONANTES A Sala I, da área reservada aos vídeos, ficou totalmente lotada, na tarde em que foi exibido "Sonia Morta e Viva", a trajetória de uma geração". Reconstituindo os terríveis anos 60/70, especialmente a partir de 1968 e focando a ação nos jovens Sonia Moraes e Stuart Angel, que fizeram a luta armada e acabaram torturados e assassinados pela repressão, esse vídeo, de 50 minutos, tem a grandeza de filmes como "Z" e "Estação de Sítio", de Costa Gravas. Realização de Sérgio Waismann, com roteiro jornalístico de Eric Nepomuceno, o "tape" apresenta depoimentos de ex-integrantes de movimentos revolucionários, recorre a cenas de arquivos e dá um claro e didático painel da luta armada que se registrou a partir de 1968 e que fez milhares de vítimas. Ao final, aliás, há uma extensa relação de pessoas assassinadas, torturadas e desaparecidas durante a ditadura militar. Se "Sonia Morta e Viva" é um "tape" emocionante, em termos políticos, porque aborda fatos ocorridos no Brasil, na área informativa e competitiva do II FestRio também há muitos outros "Tapes" políticos, especialmente produções de Cuba, El Salvador e Nicarágua. Observando esses "tapes", sobre assuntos tão contemporâneos e, de certa forma, aparentemente mostrados nas emissões normais de televisão, tem-se uma outra visão em relação ao papel do cinema (e da TV / Vídeo) de nossos dias: o documento histórico. A propósito, João Batista de Andrade declarou, em entrevista a O ESTADO DO PARANÁ, que após ter concluído "Céu Aberto", pensou em guardá-lo para exibir depois de "uns 50 anos". Abandonou a idéia (hoje já considerada "absurda") e, agora, ao lado da esposa e produtora, Assunção Hernandez Andrade, preocupa-se para que o filme, quando estiver no circuito comercial (o que acontecerá em abril de 1986), possa competir com outros meios de comunicação que estiverem veiculando as imagens sobre o aniversário da morte de Tancredo. Embora modestamente diz que não acredita em obter premiações neste FestRio (não custa lembrar que, em 1984, o premiado foi, também, um documentário político, "Cabra Marcado Para Morrer ), no íntimo, é claro, o cineasta desejaria ter prêmios tão ou mais importantes do que os que ganhou com "Doramundo" e "O homem que virou suco", dois de seus filmes mais conhecidos. VÍDEOS O escritor Roberto Gomes, da Criar Edições, de Curitiba, certamente poderá robustecer o processo que move contra o diretor-produtor Guilherme Almeida Prado, diretor de "A Flor do Desejo", com mais um argumento: o "tape" com esse filme está sendo vendido há 45 dias pela CIC, a Cr$ 500 mil o exemplar, sem que o autor da estória tivesse, ainda, recebido qualquer pagamento de direitos. Mais grave: agora, tanto no cartaz do filme como na capa do "tape", o nome de Roberto Gomes, autor do conto "Sabrina de Trottoir e Tacape", no qual Almeida Prado baseou o filme, não é sequer citado. Quando o filme foi levado a Gramado, no Festival de Cinema de 1984, ainda havia a menção ao texto de Roberto Gomes, embora em títulos mínimos e ao final dos créditos. Agora, como o escritor já está processando o cineasta paulista pela utilização indevida do texto, seu nome foi totalmente excluído. Até agora, "A Flor do Desejo", uma pornochanchada bem humorada e com alguma relativa qualidade, rodada no cais de Santos, ainda está inédita nos cinemas de Curitiba (lançada em São Paulo, obteve uma fraca carreira). Não chega a ser uma pornoprodução de sexo explícito, embora com muitas cenas de nudismo feminino. Em relação ao ano passado, o mercado de filmes, vídeo e televisão ficou reduzido este ano, a duas dezenas de estandes. Pouco movimento, embora as notícias divulgadas pela "Folha do Festival", jornal diário editado pelo FestRio, sejam otimistas: até o dia 26, terça-feira, 200 compradores estrangeiros de filmes e vídeos haviam chegado ao Rio para fazer negócios, que, segundo cálculos não oficiais, ficariam entre 15 e 20 milhões de dólares. Treze distribuidoras estrangeiras e 13 brasileiras montaram estandes no mercado, entre as quais a TV Mexicana, a RTVE, da Espanha, a italian Film Export and Import e a Icaic, de Cuba. Ao menos dois estandes estão com o esquema concentrado em filmes eróticos e pornográficos - a JZ TV (que comercializa para o Exterior os direitos de "A Flor do Desejo") e a Helena Filmes. O negócio do vídeo está em escalada, tanto é que, entre os co-produtores de "Céu Aberto", está a Vídeo-Cassete do Brasil, que deverá lançar o filme de João Batista de Andrade em formato VHS simultaneamente com a estréia nacional. Ronaldo Matarazzo Suplicy, diretor dessa empresa, vem comprando filmes para transcrever em VHS. Já adquiriu os direitos também de "Rock Estrela", filme musical de Lael de Oliveira ("Beth Balanço"), ainda inédito. A CIC Vídeo já tem 75 títulos em catálogo, todos legendados e legalizados junto à Embrafilmes. Diz Cid Alledi, assessor de Marketing da empresa, que a preocupação é adquirir produções nacionais, já que, segundo a legislação que está sendo observada no Brasil, para o lançamento de filmes estrangeiros, as empresas também têm que comercializar os produtos nacionais. Assim, antigos filmes, como "Meus Amores no Rio", de Carlos Hugo Christensen, produção dos anos 50, ou "O Cangaceiro", de Lima Barreto, reaparecem, agora, em vídeo. A atriz Norma Benguell, que integra o júri do FestRio, gravou em "tape" a peça "A voz humana", de Cocteau, que ela encenou há 2 anos (apresentada inclusive em Curitiba) e já vendeu 50 cópias. A última foi entregue a um fã por Cr$ 1.500.000. Norma explica esse preço: - "Era a última cópia que tinha pronta. Meu fã insistiu tanto que fiz um preço alto, para não vender. Ele topou e levou. Aliás, acho que pagou o justo: afinal, considero meu trabalho uma obra de arte, como um quadro que vendem por mais de Cr$ 5 milhões. Porque não posso vendê-lo a Cr$ 1.500.000 ?"
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
28/11/1985
preciso fazer um documentario sobre aa redemocartização do brasil, logo, preciso de algumas imagens e videos q podusse mim ajudar a desenvolve-lo se tiverem como mi m ajudar, se possivel ,é claro,ficaria muito grata............. espero a resposta

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