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Aramis

Os Nossos Caipiras (II)

Uma dupla das mais conhecidas em todo o Paraná, onde constantemente faz temporadas - incluindo Curitiba, Leo Canhoto & Robertinho, constitui um dos pontos centrais de referência na obra que o sociólogo Waldenyr Caldas acaba de publicar sobre música sertaneja e indústria cultural ("Acorde na Aurora", 167 páginas, Companhia Editora Nacional). Pois, na elaboração de sua tese de doutoramento - primeiro estudo de profundidade de um dos mais significativos setores da indústria cultural no Brasil, Waldenyr recorreu a audição de centenas de gravações, entrevistas, depoimentos e consultas principalmente a Revista Sertaneja e "Modinhas", para sem preconceitos e com um método científico, tentar compreender o fenômeno da música rural brasileira de tanta presença, principalmente no Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul - além, naturalmente São Paulo, ponto central de seu estudo. Waldenyr Caldas, de princípio, tenta esclarecer um problema de fundamental importância: há diferenças entre música caipira e música sertaneja ? Para responder a esta pergunta, sua pesquisa de campo sobre música caipira constatou que esta se prende muito mais ao folclore paulista, quase nada tendo a ver com a música sertaneja produzida atualmente no meio urbano-industrial. Enquanto a primeira ainda desempenha o papel de elemento mediador das relações sociais, evitando, com isso, a desagregação das populações no meio rural e no Interior, a segunda tem hoje função meramente utilitária para seu grande público, do qual parte não só o caipira paulista mas também boa parte das populações do Sudeste, Sul e Centro-oeste. Com a inserção na indústria cultural, a música sertaneja transformou-se numa peça a mais da máquina industrial de disco. Ao mesmo tempo, diz o sociólogo, não ter dúvida de que ela tem sua gênese no meio rural, na música caipira. Seu surgimento deu-se graças a indústria cultural que transforma o folclore mediante o uso que dele faz. E partindo deste raciocínio, Caldas estuda o processo de urbanização da música sertaneja - numa descaracterização, é claro, de suas origens. E após a urbanização da música sertaneja, houve três importantes tentativas de transformação desse estilo musical: "Tupiana", a de Rodrigo Duprat e a de Leo Canhoto. Das três a mais importante do ponto de vista estético foi a que tentou, há 8 anos, o maestro Rogério Duprat, no lp "Nhô Look", sofisticando os "clássicos" da música sertaneja e tentando introduzir a classe média nesse mercado. Caldas concluiu que "a falência da tentativa deve-se em parte, a essa classe, bem como ao proletariado que se negou a consumir a música sertaneja com "nova roupagem". Em compensação, Leo Canhoto e Robertinho, dupla milionária é a mais requisitada no cancioneiro sertanejo, graças à instrumentalização eletrônica sistematicamente usada em suas apresentações, fato até então inédito no cancioneiro sertanejo. A partir da vestimenta, capa de seus elepês e títulos - temas de suas composições, temos em Leo Canhoto & Robertinho, uma dupla que procura canalizar, junto a elementos do rock, também a violência, abordando temas de bangue-bangue, em seus discos e também no filme que acabam de concluir - e cujo sucesso deverá ser maior do que o "O Menino da Porteira", que o astuto Sergio Reis, realizou este ano - e que já faturou mais de Cr$ 15 milhões.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
4
21/08/1977

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