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Aramis

Os pífanos suíços

O jornalista J. Pedro (João Pedro Correia, 33anos), assessor de imprensa da Secretaria da Indústria e Comércio, e que durante 4 anos (1971/75) trabalhou no departamento de programas em língua portuguesa da Rádio Nacional da Suíça surpreendeu a família Biano, da Banda de Pífanos de Caruaru, que se encontra na cidade, participando da peça "A Árvore dos Mamulengos". É que J. Pedro, nos nos anos que passou na Suíça, cobriu muitos eventos musicais, e notou que, principalmente no famoso carnaval da Basiléia, é grande a presença de grupos de pífanos - que lá se chamam Pfuffe, com formações semelhantes a das bandinhas existentes no Nordestino brasileiro. *** Na tarde de quarta-feira J. Pedro gravou um depoimento com os velhos Benedito e Sebastião Biano, executantes do pífano (ou pífano, conforme a grafia desejada) e herdeiros da tradição iniciada por seu pai, Manoel Clarindo Biano (1895-1955), que criou a bandinha em 1924, no sertão alagoano. Embora, os Bianos até hoje não tenham se preocupado em estabelecer as raízes antropológicas deste instrumento de sopro, J. Pedro levanta várias hipóteses que podem estabelecer uma mesma fonte original. Afinal, dos exercícios holandeses que durante 15 anos dominaram Pernambuco, faziam parte muitos soldados (mercenários), suíços, que poderiam ter levado o instrumento - ou da Europa e a Pernambuco ou, ao contrário, para a Suíça. Também Maurício de Nassau (1605-1679), governador holandes de Pernambuco, nascido na Alemanha, estudou na Basiléia, onde se concentram dezenas de "cliques" de PfYffe - ou sejam os pífanos suíços. *** Na Basiléia, os Pfyffe - , formados por amadores, incluindo empresários profissionais liberais e mesmo homem público, apresentam-se principalmente na Morgeinstreich, ou seja, no início da Fasch-Nacht, o dia do carnaval, que lá, começa às 4 horas da manhã. Profissional cuidadoso, possuidor hoje de um respeitável acervo de gravação - feitas na só durante os anos que passou na Suíça, mas também em outros países que percorreu em 1975, antes de retornar ao Brasil, J. Pedro que levar mais adiante sua pesquisa, e preparar longo documentário para a Rádio Nacional da Suíça. Se alguém acha que pode auxiliá-lo, é só comunicar-se. *** Formado por Benedito e Sebastião Bianco, mais quatro filhos nos instrumentos de percussão, a Banda de Pífanos de Caruaru já gravou 3 elepês (2 na CBS e um na Continental) e agora a RCA Victor, que já tem a Banda de Pau e Corda, também de Pernambuco, está interessada em sua contratação. Há 53 anos, que a mesma família mantém a chamada "Zabumba", com um som brasileirissimo, divulgado os mais autênticos ritmos do Nordeste. Os Bianco já tocaram para quatro presidentes da República - Getúlio, Juscelino, Jânio e Médici - e também para Lampião. Já estiveram no IV Festival Internacional do Folclore, no Paraguai, onde "A Briga do Cachorro com a Onça", notável duelo sonoro entre os pífanos dos irmãos Sebastião e Benedito, obteve o segundo lugar. É ainda este ano, deverão viajar aos EUA. Benedito Clarindo, 64 anos, pífano e líder do conjunto seus irmãos, Sebastião, 56, também pífano, autor de quase todo o repertório e os filhos Gilberto, 34 (taró), João, 33 (bombo), Mário, 31 (surdo) e José 21 (prato), formam um conjunto que emociona pela brasilidade. E que, por isso mesmo, merece ser aplaudido, ainda e hoje e amanhã, no Guaíra.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
1
14/05/1977

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