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Aramis

Os tempos da Clube, da pensão Esplanada e do terno "Talismã"

Dentro da história do rádio paranaense, Milton Luiz Pereira é sempre lembrado não apenas como uma das vozes mais bonitas que passou pela PRB-2, Emissora e Curitibana, entre outros prefixos, mas como o exemplo de uma época em que, posteriormente, se destacariam em diferentes campos de atividade. Uma bela voz, [*****verificar este trecho********] [muito disciplina da e preocupação] cultural, faziam de Milton Luiz Pereira um locutor destacado para os programas de maior prestígio. Na PRB-2 na condição de locutor-noticiarista do "Prosdócimo Informa" - espécie de "Repórter Esso" tupiniquim, deu grandes furos, como ao anunciar que o então governador Bento Munhoz da Rocha Neto renunciaria para assumir o Ministério da Agricultura. - "Na época, o serviço telegráfico e de rádio-escuta tinha um homem que passava as notícias. Era o saudoso Orlando Alberti" - lembra o hoje ministro Luiz pereira, referindo-se ao trabalho anônimo que o pai de nosso colega de Redação Eloir Dante Alberti (editor da página de serviços de O Estado) por anos desenvolveu nas rádios e jornais de Curitiba. Apesar do seu prestígio como locutor, a vida não era fácil para o jovem Milton. Morava na modesta Pensão Esplanada, na Rua Comendador Araújo, da qual guarda estórias deliciosas de seu lusitano proprietário, Manoel de Jesus, e em seu velho guarda-roupa tinha apenas um surrado terno, que, bem humoradamente, chamava de "Talismã". As coisas só melhoraram, financeiramente, quando foi convidado para trabalhar na Rádio Curitibana - instalada para renovar o mercado - "e no qual passei a ter um salário idêntico ao de um sargento do Exército". Na época em que os militares eram melhor remunerados. xxx Daqueles tempos de rádio o aluno da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Paraná, Milton Luiz guarda uma multidão de amigos - muitos dos quais, hoje em cargos de expressão, reviu agora, quando, na semana passada, fez visitas protocolares convidando-os para a sua posse. No Tribunal de Contas, entre outros, reencontrou dois colegas daqueles anos dourados, os hoje conselheiros João Féder e Rafael Iatauro, na época atuantes na Rádio Guairacá - vizinha da PRB-2. A conversa, naturalmente, foi nostálgica e pouco se falou do presente, mas de amigos queridos - como o sempre lembrado Bacila Neto, outro veterano do rádio (e jornalismo) no Paraná, ex-conselheiro do TC, já falecido. Naturalmente, os méritos de orador de Milton Luiz Pereira sempre são lembrados. O jornalismo Luiz Geraldo Mazza, contemporâneo de seus tempos de universidade, inclui o agora Ministro do superior Tribunal de Justiça, entre os maiores oradores do Brasil. Ainda calouro de direito, disputou um concurso de oratória com 17 candidatos, "que eu achava muito mais bem preparados", para representar o Paraná em Natal, num torneio nacional que venceu com o tema "O Homem e a [Máquina]". Na época, a Faculdade de Direito orgulhava-se de seus destaques na oratória - como Jacó Holzman Neto e José Augusto Ribeiro (hoje jornalista de expressão nacional, atualmente ligado a imprensa ecológica depois de 34 anos de atividades na política). xxx Além de locutor-noticiarista, em seus tempos de Rádio Clube, Milton Luiz fez também grandes coberturas. Quando o então presidente Juscelino [Kubitschek] veio, pela primeira vez, após eleito, a Curitiba, conseguiu várias declarações exclusivas. Convivendo, como profissional, com políticos da época, Milton guarda boas lembranças. Eis três delas: MOISÉS LUPION - "era um homem sensível, extremamente humano com todos". ERNANI SANTIAGO DE OLIVEIRA - "... tinha sempre a palavra amiga, a certeza de procurar fazer o bem". ERASTO GAERTNER (*) - "era a figura de um gentleman inglês que teve, entre outras iniciativas, a idéia de fazer o primeiro censo imobiliário". A experiência adquirida no rádio curitibano o faria, já como prefeito de Campo Mourão - a criar um programa semanal pela Rádio Colméia, "com o qual estabelecia, diretamente, uma comunicação direta com a população, numa transparência administrativa que até então não era comum". xxx O orador, o advogado, o radialista, depois o político e hoje o ministro da mais alta côrte de Justiça do País. A mesma simplicidade de seus tempos duros de colega de um jovem poeta pernambucano, Fernando Pessoa Ferreira, que chegando a Curitiba com uma carta de recomendação de Gilberto Freyre e um belo livro de poesias ("Os Instrumentos do tempo", Prêmio Fábio Lucas-1953), muito lhe ensinaria sobre a poesia - assim como o professor Nilo Brandão, de quem foi aluno no Colégio Estadual, "foi meu grande mestre de vernáculo". Pai de cinco filhos - entre eles um psicológo, um arquiteto e o advogado Celso, 26 anos, radicado na Alemanha -, apesar de se ter transferido para São Paulo, em função de sua nomeação para Juiz do Tribunal Regional Federal (2ª Região), que presidiu até o ano passado, nunca deixou de manter sua casa em Curitiba, seus amigos e seus hábitos simples. Entre os quais, sempre que aqui se encontra, freqüentar a novena da Igreja São Judas Tadeu, da qual é fervoroso devoto, e a quem, em suas preces, agradece, com extrema humildade, "tudo de bom que a vida me deu e que procuro, dentro de minhas limitações, retribuir". (*) NOTA Ernani Santiago de Oliveira e Erasto Gaertner foram prefeitos nomeados de Curitiba. Moyses Lupion, governador eleito por duas vezes. LEGENDA FOTO Milton Luiz Pereira em 1967, quando foi nomeado para Juiz Federal no Paraná
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
12/02/1992

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