Login do usuário

Aramis

Os tempos e sonhos das lideranças estudantis

Com a implantação do Centro de Memória Sindical, os trabalhadores ganham a preservação de sua história em nosso Estado. Afinal, se das classes empresariais há registros mais amplos em relação aos que são assalariados, a história comete esquecimentos e a partir desta idéias das professoras Silvia Araújo e Alcina Lara Cardoso se terá, para o futuro, um referencial básico. Independente de visões políticas e abrangendo não só os sindicatos urbanos mas também os rurais (embora estes sejam bastante recentes), a Central tem amplos projetos de desenvolvimento e para tanto, conta com o entusiasmo de uma diretoria presidida por Fritz Bassfeld e da qual fazem parte representantes da Federação dos Bancários (César Bassani e Maria Esmeral Quadros), dos gráficos (Gilberto Rauth), Secretaria do Trabalho (Victor Souza Costa) e, numa bela homenagem a um dos mais velhos e dignos líderes sindicais do Paraná, o veterano batalhador pelas causas dos estivadores, João Batista Teixeira - primeiro a gravar seu depoimento. xxx Enquanto as lutas e entidades operárias ganham um núcleo referencial graças ao entusiasmo das professoras Alcina e Silvia, a história do movimento estudantil continua sem qualquer referencial no Paraná - o mesmo, aliás, ocorrendo em outros Estados (a bibliografia a respeito é mínima e, muitas vezes, parcial). Infelizmente, o ex-governador José Richa, mesmo tendo suas origens na política universitária - primeiro como presidente da Casa do Estudante Universitário (na qual chegou com apoio de uma corrente anticomunista da época), não se sensibilizou, durante a sua administração, em estimular qualquer pesquisa capaz de levantar um pouco da história das entidades estudantis, as quais, com raras exceções, também não dispõem de material histórico. xxx A criação de uma Central de Memória Estudantil - a exemplo do que se está fazendo com o sindicalismo - poderá resgatar uma importante parte de nossa história recente, que corre o risco de se perder. Afinal, há histórias & estórias das mais interessantes em torno dos centros e diretórios acadêmicos, das uniões dos estudantes - dos secundaristas e universitários, dos partidos políticos criados dentro das faculdades e escolas superiores. As greves estudantis, as manifestações, os bastidores das eleições e congressos da UNE, nos anos 40, 50 e até 1964, na legalidade - sem falar na coragem das lideranças estudantis que se mantiveram independentes e na luta após o golpe de 1º de abril, enfrentando a mais sanguinária repressão militar. A grande maioria dos líderes estudantis dos anos 40 e 60 está viva e muitos se projetaram em diferentes funções. Afinal, do próprio Richa, ex-presidente da UPE que chegou ao governo do Paraná e sonha agora com a Presidência da República, a deputados estaduais, federais, vereadores, secretários de Estado, integrantes do Poder Judiciário, sem falar na iniciativa privada e, mais especificamente, entre os profissionais liberais, a lista de pessoas que, em seus verdes anos integraram-se na política estudantil é imensa. - "Se não houver um trabalho para recolher depoimentos orais dos participantes, paralelamente ao levantamento de documentação a respeito - respectivamente na imprensa (mas podendo também chegar mesmo a arquivos pessoais, fotografias, etc.), se perderá um importante filão que pode auxiliar, inclusive, o entendimento da própria política. Afinal, quantos líderes de esquerda nos anos 40, 50 e 60 não são hoje conservadores senhores, defendendo interesses particulares ou de grupos, no maior reacionarismo - que tanto combatiam quando jovens? Em compensação, há os que se mantiveram coerentes com o pensamento renovador, integrando-se à máquina administrativa, procuram desenvolver um trabalho ideológico. Exemplo disto é o presidente da Fundação Cultural / secretário municipal da Cultura, Carlos Frederico Marés de Souza, que quando estudante de Direito da Universidade Federal, chegou à presidência do DCE, e em 1968, teve que fugir do Brasil, via Paraguai, devido às suas posições corajosas. O próprio prefeito Roberto Requião, quando estudante de Direito e Filosofia, mesmo sem nunca ter presidido nenhuma entidade, foi um dos mais ativos dirigentes estudantis, ficando histórico o cerco da casa de sua família, uma mansão na Avenida Vicente Machado, por policiais que desejavam prendê-lo numa madrugada. São centenas de estórias de lutas, brigas, posições, traições e conquistas estudantis que se pode reunir, ficando seu registro como fonte para futuros ensaístas analisarem os caminhos de nossa política a partir do comportamento estudantil. Para que a idéia se concretize - e ela pode ser realizada, inclusive com apoio da própria Secretaria Municipal da Cultura - basta haver interesse. E sinceridade dos ex-líderes que hoje estão no Poder em contar com honestidade suas memórias. Aqui fica a sugestão.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
2
12/07/1987

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br