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Aramis

Os velhos casarões da cinzenta cidade

Uma boa notícia distribuída pelo Instituto de Pesquisa e Urbanismo de Curitiba: "graças a um intenso trabalho da municipalidade, envolvendo a própria Prefeitura e o IPPIC, tenciona-se preservar a construção do Palácio Avenida, característica de uma época". Diz a nota do IPPIC que "a própria direção do Bamerindus, atual propietário do imóvel está profunda e igualmente imbuída de um espírito de preservação do velho palácio. Porque, mais que um prédio tradicional, ele identifica Curitiba e é um ponto de referência histórico". Termina o IPPIC afirmando: "Conservá-lo faz parte da estratégia da atual administração municipal, para que a cidade não perca um dos seus princípais e mais importantes marcos históricos". xxx A questão é polêmica e completa-se 16 anos que o Bamerindus adquiriu dos herdeiros do empresário Ferez Mehry (1874-1946) o Palácio Avenida, construído entre 1928/29 e, na época, o mais luxuoso prédio do centro de Curitiba, já qu na outra esquina da Avenida Luiz Xavier, o então prefeito João Moreira Garcez (1855-1957) erguia aquele que seria o primeiro arranha-céu de Curitiba, com seus oito andares - mas cujas obras se arrastaram por mais de 20 anos. A questão do valor histórico do Palácio Avenida tem sido exaustivamente discutido ao longo destes últimos 15 anos, pois se há os que o identificam como símbolo da nostálgica Cinelânia curitibaba que hoje não mais existe, os mais práticos o vêem apenas como um velh prédio, de estrutura comprometida e cuja manutenção como está, é um risco inclusive à segurança, já que nada garante que suas velhas paredes não possam ruir. Quando o banqueiro Avelino Vieira adquiriu o Palácio Avenida, em 1968, pensava em ali construir um prédio central, moderno, para a sede da direção do Bamerindus. Entretanto, com sua morte e as dificuldades de desocupar os apartamentos, escritórios, lojas , principalmente, o cinema que ali funcionou desde 9 de abril de 1929, o projeto foi adiado. A estratégia de ocupação do centro mudou e a diretoria do Bamerindus optou para sede um outro imóvel, mais apropriado, na Rua Comendador Araújo. Vários projetos sobre o aproveitamento do Palácio Avenida - com múltiplas opções - foram apresentados e discutios nas duas administrações de Jaime Lerner e na de Saul Raiz, na Prefeitura, sem que chegasse a um acordo. A transformação do local num grande (e necessário) centro de convenções, a reciclagem do cinema, o aproveitamento da estrutura ao redor de um novo edifício,enfim, um sem-número de idéias e propostas, sem se chegar a um consenso. Afora vários arquitetos do Bamerindus, que estudaram o assunto, por último José Maria Gandolfi, profissional dos mais conhecidos e premiados, também vem se debruçando nas pranchetas de seu escritório, sobre novas alternativas de aproveitamento daquele espaço. xxx Adquirido por Cr$ 8 milhões da família Mehry, há 16 anos, o valor da área ocupada hoje pelo Palácio Avenida é difícil de ser calculada - tal a inflação nesta década e meia, além do ponto estratégico que ocupa. A alta cúpula do Bamerindus, voltada a grandes negócios - somente na última semana formalizou a compra de três grandes empresas; a Apesc, 50% das ações de uma fábica de papel em Guarapuava e mais um banco com 12 agências - não tem tido tempo para se preocupar a respeito deste imóvel. Que mesmo abandonado e vazio - após uma longa luta judicial com dezenas de inquilinos - tende a se valorizar cada vez mais. xxx Se o quase sexagenário Palácio Avenida continuará, ao menos a médio prazo, como está - fechado, paredes recobertas de tapumes, um aspecto desolador numa área que deveria ter uma grande centro de animação, outros imóveis da cidade, na área do patrimônio histórico, são bem cuidados. Por exemplo, o belo sobrado na primeira quadra da Avenida Barão do Serro Azul, pertencente à família Hauer, e que havia sido, há 6 anos restaurado pelo Montepar, sediando depois um setor burocrático da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, tem há 30 dias novo inquilino. É o sr. Aguilar Silva, e auto-escolaa, que após providenciar uma nova pintura ao belo imóvel ali pretende instalar um supermercado de cosméticos. Tendo também alugado o imóvel vizinho, na esquina com o início da Rua Nestor de Castro (estrutural), na qual inclusive providenciou uma bonita decoração, ao estilo dos murais exisentes em outros pontos da cidade, Aguilar, inicialmente pensou em aproveitar o local para um ponto de vendas de alimentos rápidos. Entretanto, o intenso movimento na área desaconselha este tipo de comércio, apesar do pequeno estacionamento ali existente. xxx A cidade tem dezenas de bonitos sobrados e residências de valor arquitetônico, que mesmo desgastado pelo tempo, conservam traços de uma outra época. Basta percorrer algumas quadras da Avenida Marechal Floriano, entre a mansão da família Stockler de França até a esquina com a Sete de Setembro, para se ver todo um "retrato" de uma outra Curitiba. São sobrados construídos há 40, 50 ou até 80 anos, que hoje, desgastados, sediam pequenas lojas, bares, pensões etc. Imóveis que mereceriam ser restaurados, revlalorizados - mas que, face ao custo de tais obras, permanecem esquecidos e apodrecendo, dando um sentido cinzento e triste à cidade, como se fossem velhos idosos, maltrapilhos, abandonados nas ruas.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
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Tablóide
18/01/1984

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