João Carlos Martins, paulista, 46 anos, é o exemplo do músico que contraria a tese de que todo artista é desligado em termos empresariais. Virtuose do piano - instrumento que começou a estudar aos 8 anos - aos 13 já se apresentava no Festival de Inverno de Petrópolis (o mais antigo do País) e faria uma carreira brilhante. Um acidente num jogo de futebol - esporte que sempre o fascinou - obrigou o seu afastamento do piano por alguns anos e neste período se revelou um superexecutivo, atingindo altos cargos numa organização bancária. Voltou ao piano, fazendo um recital no Carnegie Hall, em Nova Iorque e desde então tem sido um dos concertistas mais requisitados para grandes apresentações nos melhores palcos do mundo. Durante o governo Salim Malluf foi secretário da Cultura, mas não deixou de fazer suas apresentações e gravar discos com a obra de Bach - da qual hoje é considerado um dos melhores intérpretes do mundo. João Marcos Coelho, respeitado crítico da "Folha de São Paulo" e revista "Visão", vai mais além: em seu entendimento, desde a morte do pianista canadense Glenn Gould, há 4 anos, João Carlos Martins tornou-se o melhor de todos os intérpretes de Bach - de quem tem feito dezenas de gravações, 17 álbuns editados no Brasil pela Ariola Fonobrás, mais um álbum duplo, lançado pelo Estúdio Eldorado - e que marcou um recorde em termos eruditos: 200 mil cópias vendidas. Ou seja, um número mais do que representativo tratando-se de música clássica. O álbum duplo "Bach por João Carlos Martins", com gravação realizada no Carnegie Hall, o Avery Fischer, em Nova Iorque, e no Little Bridges Auditorium, em Claremont, na Califórnia, faz parte do chamado "Bach Tricentenial Recording Project". Ao longo de peças das mais belas do mestre Johann Sebastian Bach (1685-1750), como o "Livro de Anna Magdalena Bach", os "Pequenos Prelúdios" e as "Invenções Duas e Três Vozes", João Carlos Martins mostra todo seu virtuosismo, numa dedicação à música do mestre alemão - do qual se propôs a gravar a obra integral para teclado pelo sistema digital. Aliás, o próximo álbum de João Carlos Martins, gravado nos Estados Unidos, será editado simultaneamente também no Brasil, pelo sistema compact-disco, marcando, através do estúdio Eldorado, a primeira produção erudita de um artista brasileiro neste processo. xxx Jean Lous Steuerman apesar do nome é um pianista brasileiro. Só que sua carreira, a exemplo de tantos outros virtuoses, tem se desenvolvido na Europa, e só nos últimos dois anos começou a fazer recitais no Brasil. Também considerado um grande intérprete de Bach, Steuerman tem um belo disco editado agora (Polygram/Philips), interpretando o Concerto Italiano em Fá, 4 Duetti e a abertura "À Francesa", esta uma obra que sugere uma transposição para cravo de uma suíte orquestral, forma aliás em que Bach já havia composto quatro modelos exemplares. Já os quatro "Duetti" provêm da terceira parte do "Clavier Ubung" publicada em 1739, conhecidos em seu conjunto como "Missa para Órgão", mas com o qual não apresentam afinidades profundas. xxx Antecipando-se ao lançamento do elepê com o vencedor do Prêmio Eldorado de Música, edição de 1985, e enquanto a nova edição desta promoção da Rádio e Estúdio Eldorado/O Estado de São Paulo/Bolsa de Valores, tem início, é lançado um documental elepê: registros com os vencedores do Concurso de Piano Eldorado, realizados em 1960 (João Carlos Martins),1961 (Caio Pagano) e 1962 (Cleyde Paskowski). Foi em 1959, um ano depois de inaugurada a Rádio Eldorado de São Paulo que Carlos Vergueiro, já diretor artístico da emissora, em conversa informal com Luís Carlos Mesquita, diretor de"O Estado de São Paulo", sugeriu a realização de um concurso de piano com a finalidade de dar oportunidade a jovens artistas brasileiros de iniciar uma carreira, ter um primeiro impulso para a concretização de um ideal. Aprovada a idéia, o primeiro concurso teve cmo vencedor o então jovem e desconhecido João Carlos Martins, aluno do professor José Kliass. Na segunda edição, vencedor foi Caio César Pagano, preparado pela professora Lina Pires de Campos - hoje, aos 46 anos, um recitalista consagrado (foi um dos participantes do Festival de Campos do Jordão). Para o terceiro concurso, em 1962, Carlos Vergueiro, preocupado com a pouca divulgação da música erudita brasileira, encomendou uma peça original para a última prova. Camargo Guarnieri escreveu, então, a sua "Quinta Sonatina", a dificílima execução. Foi vencedora Cleyde Izabel Paszkowski, aluna do saudoso Fritz Jank (1910-1970). Duas fitas registradas naqueles concursos, Paulo Herculano produziu um documento sonoro, que ao ser editado, 16 anos depois do último concurso de Piano - e quando a Rádio Eldorado promove o "Prêmio Eldorado de Música", aberto para intérpretes de quase todos os instrumentos, além de conjuntos orquestrais, canto solo e canto-coral, adquire especial oportunidade. xxx Em termos de pianistas, um registro especial: Ivo Pogorelich é considerado hoje um dos mais importantes virtuoses deste instrumento - ex-aluno do Conservatório Tchaikowsky e uma carreira internacional - tem um cachê fixado em US$ 30 mil, o que impossibilitou sua vinda ao festival de Campos do Jordão. Por enquanto, não há previsões de nenhuma apresentação deste virtuose dos teclados de se apresentar no Brasil, o que faz com que suas gravações passem a ser cada vez mais procuradas. Pela Polygram/Deutsche Gramophon, acaba de sair o registro de Ivo Pogorelich e a Sinfônica de Londres, sob regência de Cláudio Abbado, interpretando o Concerto nº 1 para piano e orquestra, em Si Bemol, menor, Opus 23, de Piotr Tchaikovsky (1840-1893).

Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:

Veiculo: Estado do Paraná

Caderno ou Suplemento: Nenhum

Coluna ou Seção: Nenhum

Página: 7

Data: 03/08/1986

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