Otto & o Festival Volante de nosso cinema
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 10 de novembro de 1974
Escolhido para coordenar a produção-executiva as duas mais importantes co-produções Brasil-França em 1975 - o aguardado e já lendário "Polichinelo" de Jean-Gabriel Albicoco e o político "Um animal Desprovido de Razão", de Pierre Kast, o [gaúcho] Otto Engel, 38 anos, ex-Jornal do Brasil, correspondente da Rádio e Televisão Alemão para a América do Sul e produtor de "A Noite do Espantalho" (Cine Scala, 4 sessões diárias) está entusiasmado com o novo projeto: a realização do Festival Volante do Cinema Nacional. Consciente da necessidade de ampliar de forma racional a faixa de consumo dos filmes brasileiros, chegando a platéias até agora impermeáveis às nossas películas, pelas mais diversas razões (a chanchada dos anos 50, o hermetismo do Cinema Novo na década de 60, as pornofitas de 70 para cá) Otto e seu amigo Sergio Ricardo, propuseram através da Zem Produções, a realização de ciclos de filmes recentíssimos, do mais alto nível, em cópias de 16 mm, para circularem por um imenso circuito de pequenas salas de projeção nesta [bitola] - em clubes, paróquias, faculdades, entidades culturais, teatros e mesmo cinemas comerciais (só no Sul, existem cerca de dois mil cinemas que só dispõe de aparelhos em 16 mm). Já apoiada pela Embrafilmes - que se associará ao projeto, o Festival Volante do Cinema Nacional, terá algumas características importantes para garantir a aceitação do grande público: seleção exclusiva de filmes recentíssimos, de alto nível artístico mas com fácil absorção mesmo pelos mais humildes espectadores, projeção em aparelhos novos, que serão levados pela própria coordenação do projeto e, sobretudo, ampla e didática divulgação, inclusive com a participação, sempre que possível dos próprios cineastas, atores ou produtores de cada um dos filmes, que visitarão as principais cidades dos roteiros programados. O primeiro lote deste Festival Volante - que poderá ter seu teste nacional no Paraná, no primeiro trimestre de 1975 - será constituído de filmes ainda não lançados, comercialmente na maioria das cidades, como "Sagarana", o "Duelo" de Paulo Thiago, inspirado em texto de Guimarães Rosa; "Os Condenados" de Zelito Viana, do romance de Oswald de Andrade; "O Amuleto da Morte", de Nelson Pereira dos Santos, "Uirá - Um índio em Busca de Deus", de Gustavo Dahl e "A Noite do Espantalho", de Sergio Ricardo.
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