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Aramis

Paixão musical segundo Regina

Roberto de Regina é daquelas pessoas que ama o seu trabalho. Médico anestesista foi um bom profissional até conseguir aposentar-se do INPS - no qual trabalhou por 35 anos - mas o que sempre gostou mesmo foi a música. Apaixonado por música antiga, fundou grupos instrumentais que pioneiramente passaram a desenvolver no Brasil um repertório até então praticamente pouco divulgado e com o Coral Dante Martinez, numa série de três elepês lançados pela CBS nos anos 60 - "Cantos e Danças da Renascença" (que merecia a reedição, na perfeição do CD) ganhou aplausos internacionais. O interesse por instrumentos antigos o levou a estudar cravo e não ficou apenas na execução deste difícil instrumento: tornou-se o primeiro luthier a fabricá-los no Brasil, obtendo uma boa sonoridade. Há quase 20 anos, quando a Fundação Cultural de Curitiba ainda engatinhava, Roberto aqui fundou a Camerata Antiqua, que, entre mortos e feridos, altos e baixos, crises & aplausos, ainda sobrevive. Roberto sofreu injustiças, chegou a ser deposto da direção da Camerata - que tanto deve a sua dedicação - mas não esmoreceu. Na ponte rodoviária Curitiba-Rio de Janeiro (possui um sítio-hospedaria no interior do Rio, decorado ao estilo medieval que já foi notícia na "Veja"), Roberto tem feito bonitos espetáculos. Mesmo nem sempre sendo compreendido e apoiado na medida em que merece - que o diga a querida Ingeborg Rust, a taberneira do Humel Humel, cantora em sua juventude nos Alpes suíços e que sempre acolheu com generosos chucruts e eisbeins o amigo Regina, consolando-o das injustiças aqui sofridas. Nesta sexta-feira, Roberto esticará a madrugada na "mesa da diretoria" - o espaço que Inge reserva apenas para seus amigos do coração - para comemorar mais uma vitória: o workshop sobre a "Paixão Segundo São Mateus", que Johann Sebastian Bach escreveu em 1729 e que acontecerá hoje, a partir das 20 horas, no Clube Concórdia. Há anos que Roberto de Regina sonha em montar esta obra prima de Bach - raríssimas vezes vista no Brasil - e que exige dezenas de ótimos músicos, cantores e, naturalmente, uma produção a altura. O workshop que Roberto fará hoje, é uma fase preparatória para o concerto, programado para março, reunindo a orquestra da Camerata, Coral de Curitiba, Coro Infantil e alguns solistas convidados. Embora disponível em gravações de qualidade - inclusive agora em vídeo-disco (que alguns apaixonados curitibanos já possuem em reproduções em tape), a "Paixão Segundo São Mateus" teve raríssimas apresentações, ao completo, no Brasil. Mesmo em vida, Bach a viu apresentada apenas uma vez e a obra esteve esquecida até que Felix Mendelssohn a resgatou em 1829, quando a dimensão da obra - em toda sua complexidade, beleza e, naturalmente, inovações, surpreendeu ao público e aos estudiosos de música. Há mais de um ano que Roberto de Regina vem estudando esta obra, ensaiando pacientemente com os melhores integrantes da Camerata Antiqua e preparando-se para a encenação que promete ser um dos grandes eventos musicais deste ano. O workshop de hoje, aberto ao público, será uma espécie de trailer - e só os estudantes de música que participam da oficina que se realiza no Solar do Barão já devem garantir a lotação no Clube Concórdia. Que aliás, voltando a abrigar um evento de música erudita retorna a tradição durante os anos 30/50, quando era o espaço mais procurado para concertos em Curitiba. Inclusive a família Trapp - que inspirou ao musical (e filme) "The Sound of Music" ("A Noviça Rebelde", canções de Richard Rodgers / Oscar Hammerstein II, dirigido no cinema em 1965 por Robert Wise), ali se apresentou quando, após a guerra, excursionou pela América do Sul. LEGENDA FOTO - Roberto de Regina: um workshop hoje preparando a "Paixão Segundo São Mateus", em março.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
11/01/1991

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