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Aramis

As palavras-pássaros que Helena liberta

Defini-la como a Cecília Meireles do Paraná é pouco. Muito pouco! Em que pese a importância da autora de "Cancioneiro da Independência", a nossa Helena Kolody é uma poeta maior - que independe de comparações. Algumas vezes, na profundidade de seu pequenos (grandes) versos pode lembrar o universo de observações de Mário Quintana. Pode-se incluí-la no mesmo patamar de um Drummond, um Bandeira - e, pela sua linguagem sempre atual, a João Cabral de Mello Neto. Interpretações e ensaios ficam para os críticos. Para os leitores - e que estão, felizmente, crescendo - fica a emoção e a ternura que as palavras desta senhora de cabelos brancos expressão suave transmitem há mais de quatro décadas. Respeitada por gerações como uma das mais marcantes mestres do Instituto de Educação do Paraná - cuja direção ocupou por muitos anos - a sua poesia, a partir de "Paisagem Interior" (1941, 106 páginas) sempre revelou as qualidades que só existem nas pessoas realmente iluminadas para o dom de poetar. Durante 44 anos, seus livros tiveram edições reduzidas, restritas portanto a um círculo de amigos e pessoas que realmente se interessavam em conhecer a poesia maior que fazia. Uma poeta federal mas restrita ao âmbito municipal - como Cora Coralina (Ana Lins Peixoto, 1889-1985) em Goiás ou Manoel de Barros em Mato Grosso do Sul. Poetas que com o dom da palavra mas a modéstia e a vida interior riquíssima nunca buscaram a promoção fácil e a badalação. Felizmente apareceu um editor sensível, o professor e escritor Roberto Gomes que, há três anos, com "Sempre Palavra" (48 páginas, Criar Edições) fez com que a poética de Helena Kolody alcançasse novas dimensões. Em sua incrível modéstia, sem jamais ter qualquer vaidade ou pretensão, quando Gomes a procurou para assinar o contrato, ela perguntou: - Mas quanto vou ter que pagar por esta edição? Roberto lhe explicou que, pela primeira vez, iria receber pela sua poesia. O que até a chocou: jamais imaginou que ela pudesse resultar em dinheiro. Acostumada toda uma vida a viver modestamente de seu rendimento de professora do Estado, aposentada há muitos anos. "Sempre Palavra" esgotou duas edições e "Poesia Mínima" (1986, 40 páginas, capa de Rogério Dias) confirmou que a poesia de Helena Kolody tinha um mercado nacional. Os pedidos se acumularam vindos de todas as partes, de pessoas que descobriam, fascinados, a dimensão de suas palavras. Agora, quase como um presente de Natal, Roberto Gomes - nosso único grande editor, que faz da Criar um exemplo de casa publicadora - reuniu os vários livros de Helena numa edição especial: "Viagem no Espelho" (203 páginas, capa de Rogério Dias). Um ensaio de Antônio Manoel ("Helena Kolody: Invenção e Disciplina") dá uma interpretação de sua obra - que comporta inúmeras outras leituras. Assim como a beleza de suas poesias podem estimular edições de livros-de-arte, com imagens e tratamento visual mais requintado - já que a edição de Criar é econômica, dentro da realidade de nosso mercado editorial. Mas é uma edição caprichada: o planejamento gráfico previu aproveitamento de fotos de arquivo de Helena - todos feitos no histórico Photo Brasil (quando aparecerá alguém para mostrar a importância deste Photo dentro de nossa cidade, documentando milhares de pessoas ao longo de mais de meio século?), afora duas fotos de Haraton Cezar Maravalhas, da autora, hoje, exibindo aquele sorriso de esperança, a mensagem de alegria qua a faz ser menina-poeta aos 76 anos, completados no dia 12 de outubro último. Paranaense de Cruz Machado, filha dos ucranianos Miguel e Vitória Kolody, desde 1923 em Curitiba, a vida de Helena Kolody identifica-se como o ensino e o estudo, assim como a sua poesia tem a argamassa de quem sempre soube ver na natureza, nas aves, nas árvores o reflexo da vida - tão bem sintetizadas em suas centenas de versos. Neste Natal, a (re)leitura das poesias de Helena Kolody vale como a melhor mensagem - pois em sua beleza e sabedoria, ela consegue dizer, em tão poucas palavras, tudo o que faz pensar e refletir neste nosso mundo de afetos cada vez mais contidos. E como tão genialmente definiu em "Pássaros Libertos": Palavras são pássaros Voaram! Não nos pertencem mais LEGENDA FOTO - Do álbum da poeta: Helena Kolody nos anos 50.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
25/12/1988

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