Login do usuário

Aramis

Para começar, a jazzística Leny

Se tudo der certo, a estréia de Leny Andrade em Curitiba (Habbeas Coppus, dia 11 de novembro), coincidirá com o lançamento de seu novo disco, recém concluído para o Estúdio Eldorado. Entretanto, Leny está ainda promovendo outro disco, também recém chegado nas lojas embora gravado há quase um ano e que até o mês passado circulava em privilegiadas discotecas: "Cartola 80 Anos", produzido por Paulinho Albuquerque para a Coca-Cola distribuir no ano passado como brinde de fim de ano, teve tamanha repercussão que os insistentes pedidos foram atendidos: a matriz foi liberada e a SBK, etiqueta que está formando um dos melhores acervos no Brasil, fez uma caprichada edição, utilizando a belíssima capa que Lan criou para o álbum original. Identificados como uma de nossas poucas (e grandes) vocalistas jazzísticas, em nome da Bossa Nova que teve em "Estamos Aí" (Maurício Einhorn e Durval Ferreira) o seu prefixo, Leny é o exemplo daquelas artistas de primeira categoria que só nesta década, após 25 anos de carreira, vem tendo a valorização devida. E como tantos outros brasileiros de vigor - teve que obter um reconhecimento internacional - especialmente em algumas das melhores casas noturnas de Nova Iorque (nas quais faz temporadas regulares) para agora encontrar contratos a altura de seu talento. Basta dizer que aos 45 anos, esta é a primeira temporada que fará em Curitiba, com um contrato bancando o custo de suas apresentações - e que se deve ao fato do empresário Sérgio Bittencourt Martins, financiador do Habbeas Coppus, ser seu admirador há muitos anos e necessitar de um grande nome para marcar a abertura de nova casa noturna na cidade, que, pretende concorrer com o "505" e o futuro night club do Hotel Bourbon. xxx Aos 9 anos, Leny de Andrade Lima já se apresentava no Clube do Guri, na Rádio Tupi, no Rio de Janeiro e, mais tarde, cantaria em programas de auditório de Silveira Lima e, especialmente, César de Alencar, na Rádio Nacional. Seria, em 1961, com a eclosão da Bossa Nova que em apresentações nas minicasas do Beco das Garrafas, em Copacabana (Bacará, Bottle's Bar) e, no ano seguinte era crooner de uma big band organizada por Dick Farney, em São Paulo. A partir de 1966, Leny morou quase cinco anos no México, fez shows com Pery Ribeiro e gravou elepês que hoje são raridades. Mestre do "scat" (o canto sem letra), jazzística até a medula mas sem deixar a brasilidade, Leny tem uma discografia restrita (entre 1983/85, fez dois álbuns na extinta Pontier, produzidos por José Maurício Machline), mas, infelizmente, sempre restrita a pequenos círculos. No ano passado, antecipando-se às comemorações dos 80 anos do mestre Cartola (Agenor de Oliveira, Rio de Janeiro, 10/10/1908 - 30/11/1980), deu uma nova releitura a clássicos do Divino compositor da Mangueira: "As Rosas não Falam"; "O Sol Nascerá" (parceria com Elton Medeiros); "Sim" (parceria com Oswaldo Martins); "Festa a Vinda" (parceria com Nuno Veloso); "Acontece", "O Mundo é um Moinho", "Alvorada" (parceria com Carlos Cachaça - Hermínio Bello de Carvalho); "Não Quero mais Amar Ninguém" (parceria com Zé da Zilda e Cachaça); "Corra e Olhe o Céu" (parceria com Dalton Castelo); "Amor Proibido" e "Vai Amigo" (esta uma composição quase inédita). Os arranjos de Gilson Peranzetta, obviamente, emolduram de forma moderna, quase jazzística, esta revisão de Cartola - que se pode assustar aos tradicionalistas, aproxima sua obra de uma faixa mais jovem. Junto com a reedição de "Fala, Mangueira" (que Hermínio Bello de Carvalho produziu em 1988, na Odeon, agora relançada pela Funarte) - e na qual pela primeira vez Cartola fazia um elepê (ao lado de Nelson Cavaquinho, Odete Amaral, Clementina de Jesus e Carlos Cachaça) e o "Cartola, Bate outra Vez..." (Sigla/Som Livre), Leny antecipou uma justa homenagem ao grande Cartola. Só em 1974, na produção de Pelão, Cartola fez o seu primeiro elepê na Marcos Pereira (posteriormente gravaria mais três discos). Agora, temos esta tríplice visão de sua obra: a quase jazzística leitura de Leny, o histórico "Fala Mangueira" e a produção de Arethuza Garibaldi, da Som Livre, que reuniu vários intérpretes (do RPM Paulo Ricardo a Beth Carvalho) para "Cartola, Bate outra Vez..." - infelizmente lançado há um mês, mas sem qualquer promoção fora do Rio - e que não se encontra nas lojas de Curitiba. LEGENDA FOTO - Leny Andrade, revisitando a obra de Cartola, faz temporada em Curitiba a partir do dia 11.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
25/10/1988

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br