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Aramis

Paulinho, aquele que se americanizou mesmo

Depois que Airto Guimorvan Moreira, há 17 anos, foi para os Estados Unidos mostrar aos embevecidos americanos o que é a criatividade em termos de percussão, centenas de outros músicos brasileiros emigraram também para a América. Alguns se deram bem, outros não. Hoje há pelo menos uma dezena de percussionistas brasileiros de evidência nos Estados Unidos mas Airto, catarinense de Itaiópolis, 43 anos, paranaense de formação, continua a ser o maior prestígio. Prova disto é que mesmo sem gravar um novo elepê há cinco anos, até 1983 se mantinha, há 9 anos, no primeiro lugar na categoria de percussionista do Jazz Poll da Down Beat. Em dezembro de 1983, em Colonia, RFA, apresentou uma "Missa Espiritual" notável, com grande orquestra, coral, arranjos de Gil Evans e participação do violonista Philipe Catherina - editada em elepê na Europa, infelizmente inédita no Brasil. Agora, Airto está fazendo um novo disco - com toda uma carga energética, na qual embora ajustado aos novos caminhos não deixa de ser, sobretudo, o grande e admirável brasileiro que jamais renegou suas origens. Infelizmente, muitos percussionistas que procuraram seu espaço nos Estados Unidos não têm a mesma coerência de Airto. Por exemplo, Paulinho da Costa, um ótimo músico, participação em centenas de gravações e já com três elepês solos pela Pablo, preferiu, em seu mais recente elepê, fazer um trabalho puramente comercial. Gravado nos estúdios da Ocean Way e Lighthouse, em Los Angeles e aqui editado pela Opus/Columbia, este elepê de Paulinho não tem um único momento em que se note o estilo personalizado do instrumentista seguro que mostrava em trabalhos anteriores. Ao contrário, um som pasteurizado, mecânico e descartável - mesmo quando grava temas belíssimos como "O Mar é Meu Chão" (Dori Caymmi/Nelson Motta) ou uma elétrica criação de Jorge Bem ("Taj Mahal"). Paulinho também ataca de compositor ("Walkman", "My Love", "Carioca", "Groove") com parceiros americanos (Clarence Charles e Erich Bulling), mas o desastre é total. Em suma: um crioulo americanizado sem a criatividade jazzística dos grandes no jazz. Vamos ver se no próximo disco Paulinho não se mostra tão comercial.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
27
10/03/1985

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