Login do usuário

Aramis

Pequenos problemas não prejudicam o FestRio

Rio de Janeiro - Embora, oficialmente, o IV FestRio encerre neste sábado, com uma festa de longa metragem que dura mais de 5 horas, incluindo a primeira exibição no Brasil da superprodução "O Último Imperador", de Bernardo Bertolucci - que o público nacional verá no primeiro semestre de 1988 - na verdade o festival continua transpondo a limitação competitiva, esta promoção que vem sendo realizada desde 1984 está hoje consolidada como um dos mais importantes eventos culturais, turísticos e promocionais do Brasil. Organizada por uma associação sem fins lucrativos - forma mais prática do que criar mais uma fundação - o FestRio suplanta pequenas dificuldades, críticas injustas e, naturalmente, má vontade de alguns setores para se impor como um legítimo festival da categoria "A", obreando-se a eventos como os de Cannes e Berlim, que, no primeiro semestre de cada ano são os grandes acontecimentos da "Saisson" cinematográfica. A antecipação da próxima edição do FestRio de novembro para junho, já decidida, o que obrigará uma agilização na sua organização, se refletirá inclusive na elevação do nível dos filmes em competição, pois a grande dificuldade do FestRio é que, sendo o último dos eventos competitivos de categoria "A" (que exige filmes totalmente inéditos) está, justamente, no fato de que os principais filmes de cada país já estiveram em algum outro festival da mesma categoria - e os que acabaram de ser produzidos estão sendo reservados para 1988. Apesar disto, os diretores do FestRio - Ney Sroulevich, Jean-Gabriel Albicocco e Cosme Alves, mais o coordenador de seleção, Ronald Monteiro, vice-diretor da cinemateca do MAM, conseguiram trazer mais de 300 filmes para o festival, dos quais quase cem totalmente inéditos. 22 países em competição, uma dezena de mostras paralelas, três seminários de grande importância - o cinema e as drogas, a co-produção entre televisão e o cinema e a religião no cinema, mais dezenas de outros encontros importantíssimos, fazem com que o FestRio seja hoje um acontecimento fundamental não só apenas dentro do cinema, televisão e vídeo, mas numa própria estrutura cultural de quem deseja se firmar internacionalmente. Se no aspecto turístico, promocional e cultural o FestRio atinge plenamente seus objetivos, também comercialmente os resultados são marcantes. Embora a diretora do mercado de filmes e vídeos, Ruth Albuquerque, ainda não tenha em mãos os resultados finais dos negócios fechados desde o dia 19, acredita-se que as cifras são compensadoras. Só um distribuidor de vídeos, Maurício Goldberg, da Polivídeo, assinou contrato no valor de US$ 150 mil, ajustando os direitos de lançamento em vídeo de 15 filmes, entre produções nacionais e estrangeiras. Entre os filmes brasileiros, quatro longa-metragens de Walter Lima Jr. e mais "A Dama do Lotação", de Neville de Almeida - cujos direitos eram da Embrafilmes [Embrafilme], mas que caducaram. Com Sônia Braga despidamente bela, "A Dama do Lotação", foi um sucesso de bilheteria e deverá repetir-se agora em vídeo. Jean Gabriel Albicocco, analisando vários dados positivos do FestRio, indica um deles: a abertura dada ao novo e criativo cinema britânico. Doze dos filmes ingleses, desta nova safra de realizadores do maior talento, já foram negociados entre as exibidoras-distribuidoras que fizeram várias compras está a Alvorada, Ex-Gaummont - que tem hoje uma associação com a Fama Filmes na exploração de seus cinemas em Curitiba. Até ontem, um dos filmes que ainda estava para ser negociado era "Veneno Branco", de Michael Redford (o mesmo de "1984"), que ambientado no Quênia, ano de 1940, tem elementos que lembram "Entre Dois Amores" (Out of Africa, 85, de Sidney Pollack). Neste filme, aparece uma nova e belíssima atriz - Greta Sracchi, ao lado de nomes conhecidos como Trevor Howard, Geraldine Chaplin e John Hurt. Se muitos filmes premiados em festivais internacionais acabaram não sendo exibidos, ou porque houve problemas do envio das cópias ou porque já estão sendo negociados comercialmente, o FestRio trouxe oportunidade de se ver filmes que jamais terão lançamento em nossos circuitos. É o caso, por exemplo, de "Yeelen", produzido na República do Mali, África, com direção de Souleymane Cisseh, 47 anos. Premiado nos festivais de Nantes, Locarno a Cannes, este filme despojado, rodado com artistas não profissionais, é uma obra-prima. Difícil ser resumido em poucas linhas, "Yeelen" narra, basicamente a travessia entre a infância e a maturidade numa aldeia africana. Repleto de símbolos, este modesto filme africano surpreende, especialmente, pela sinceridade das imagens. xxx Se Bernardo Bertolucci não veio ao final do Festival, para exibição de seu "O Último Imperador", nem por isto faltaram grandes nomes do cinema internacional, em termos de realizadores: de Louis Malle, elegantíssimo na abertura, quando foi projetado seu emocionante "Au Revoir, Les Enfants" - A Alan Parker, que chegou para o final, o FestRio teve prestigiamento de diretores, produtores, roteiristas e alguns intérpretes. Para um evento cultural, em que pese a badalação que superstars proporcionam, o básico é a presença dos que fazem realmente cinema. E estes aqui estiveram, num intercâmbio de experiências. Realizadores brasileiros circularam durante todo o festival pelo Hotel Nacional, discutindo projetos - a maioria queixando-se da Embrafilme - mas sempre esperançosos de tocarem à frente os muitos filmes que pensam realizar. xxx A imprensa registrou reclamações na troca de horários de muitos filmes nas mostras paralelas. Realmente, aconteceram substituições inesperadas e cancelamentos lamentáveis - como dos filmes "Good Morning Babylonia" dos Irmãos Taviani e "Der Himmeluber BerIim" (As Asas do Desejo), de Wim Wenders. Entretanto, estes dois filmes já têm assegurados seus lançamentos comerciais no Brasil, pois a repercussão que obtiveram em vários festivais internacionais os credenciam como filmes de possibilidade de fazerern boa bilheteria. xxx Para que o festival das dimensões deste se consolide, torna-se necessário mais do que o simples trabalho profissional, o verdadeiro amor ao cinema de centenas de pessoas. Com uma estrutura menor do que a desejável, as equipes dos diversos setores se desdobraram para tapar furos, solucionar problemas e garantir que o festival chegasse ao final com bons resultados. Por exemplo, um dos setores que mais trabalhou foi o de tráfego de filmes e vídeos, com Jorge Pedro de Oliveira coordenando apenas 7 homens, que cuidavam do direcionamento de centenas de latas de filmes nas várias salas em projeção. Na Sala Glauber Rocha, com sessões ininterruptas das 8 às 2,30 da manhã, três equipes de operadores de 35mm se revesavam para garantir a melhor qualidade na projeção. Perfeccionista, exigente nas imagens, o próprio Albicocco, diretor de Operações, acompanhava para que não houvesse reclamações na exibição. xxx Para os jornalistas mais de 700, incluindo quase 200 da imprensa internacional - João Luís Albuquerque, assessor de imprensa, montou até um bar, servindo refrigerantes e bons drinques no final da tarde. O serviço de telex, da Empresa Brasileira de Correios, como acontece desde 1984, foi perfeito, com uma equipe de doze operadores, sob comando de Sérgio Vianna; garantindo o envio de quilômetros de laudas que cobrem os múltiplos aspectos do FestRio. Na equipe de telex, que desde 1984, ajuda os jornalistas de todo o mundo aqui presentes, os veteranos que se caracterizam pela simpatia e atenção: Daltro Mendonça, Manoel Quirino, Waldir Reis e José Lins. LEGENDA FOTO 1: Um dos filmes mais aguardados do FestRio: "Veneno Branco" (White Mischief), de Michael Redford, com Sarah Miles, Joss Ackland e John Hurt. LEGENDA FOTO 2: John Lone, ator visto até agora apenas em "O Ano do Dragão", é o intérprete central de "O Último Imperador", superprodução de Bernardo Bertolucci, que encerra o FestRio hoje.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
28/11/1987

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br