Pequno grande filme de Mauro
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 30 de julho de 1980
Mauro Alice é um dos homens mais estimados do cinema nacional. Com a humildade que caracteriza os verdadeiros talentos, este curitibano que se formou em engenharia química há mais de 30 anos, mas que se tornaria o principal << montador >> do cinema brasileiro, nunca precisou se auto promover, de levar aos jornais e revistas << releases >> a respeito de sua << obra >> para merecer o reconhecimento. Premiado com o Coruja-de-Ouro pelo trabalho de edição de imagens de << O Anjo da Noite >>, 1974, de seu amigo Walter Hugo Khouri, Mauro tem colecionado distinções ao longo de sua carreira e seu capricho e dedicação o fazem um dos profissionais mais disputados pelos cineastas e, no último, também pelos produtores de filmes publicitários.
Durante algum tempo, Mauro residiu em Curitiba, período em que o produtor Júlio Kruguer pôde ter os melhores documentários e mesmo cinejornais de sua << Guaíra >>.
Infelizmente, não houve condições profissionais para que Mauro permanecesse entre nós e, assim, retornou a São Paulo, embora sempre que pode venha rever seus familiares e inúmeros amigos que aqui mantém.
No próximo fim de semana, Mauro estará novamente na cidade, para mostrar na sala de exibição do Museu Guido Viaro seu documentário << Rondó do Tempo >>, onde focaliza a obra da desenhista Euridyce ((Breassane), carioca, octagenária, e cuja obra tem cunho peculiar: ela desenha apenas reminiscências e aspectos gravados em sua memória. Mauro Alice, com a sensibilidade e competência, selecionou seus desenhos, realizando um filme que marca a trajetória biográfica da artista, focalizando locais antigos do Rio, sugerindo influências sobre sua personalidade, intercalando a natureza e observando a vida em si mesma. O roteiro teve a colaboração de Rosa Pessoa, que escreveu os versos para ilustrar um livro com os desenhos de Euridyce que Carmélio Cruz pretendia editar (mas até hoje não publicado). a idéia de fazer um filme surgiu há 12 anos, mas na época Mauro realizava documentários comerciais (mas de grande nível profissional) para Júlio Kruguer, em Curitiba. Mauro não encontrou condições de produção para fazer este documentário. Felizmente, o produtor Cláudio Mayer, da Nova Filmes (agora Nova Prova, onde Mauro é montador), << iluminado sabe Deus por qual astro benéfico >>, diz o cineasta, resolveu este ano produzir o curta-metragem apoiando-se nas leis de proteção e incentivo aos curtas -metragens de caráter cultural. E Mauro, 12 anos depois do projeto original, teve seu roteiro aprovado. Entre pesquisas e encontros, Mauro foi compondo um roteiro novo sobre o velho argumento do livro que não chegou a ser. O produtor Mayer - homônico em sobrenome do famoso Louis, um dos três sócios da MGM - colocou a disposição a sua boa equipe: o fotografo Rodolfo Sanchez, que registra a luz, porque conhece a luz; o diretor de produção Walter Quebb que é, entre outras coisas boas, baiano do Cinema Novo, << e arranja para a equipe bolinhos de bacalhau fritos na hora >>. Mauro, << depois de séculos >> principalmente na moviola soube usar as lentes macro, difusoes, trainel e demais parafernália para a iluminação difusa << que o produtor Cláudio inventou e ofereceu >>. Para gravar o texto, uma atriz de primeira linha, Selma Egrei. E para compor a trilha sonora, Egberto Gismonti - hoje o compositor brasileiro mais respeitado internacionalmente, maravilhosa figura humana, e que soube transmitir sonoramente o espírito das imagens de Mauro, inclusive com a canção na voz de Dulce Bressane, filha de Euridyce. E com 93`30 >>, << Rondó do Tempo, Euridyce: a Artista e a Obra >> está pronto e terá sábado, às 20:30 horas no Museu Guido Viaro uma de suas primeiras exibições. Uma promoção organizada com Carinho por Lúcia Camargo, que na direção executiva da Fundação Cultural de Curitiba já mostra o muito que pode fazer.
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