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Perfil - Clélia, a valorização humana dos deficientes

Em janeiro de 1980, quando o então recém-eleito prefeito Ricardo Barros, no vigor de seus 30 anos, disposto a desenvolver uma administração-modelo em Maringá, convidou a professora Clélia Maria Ignatius Nogueira para ocupar a antiga Secretaria de Educação e Cultura, ouviu uma colocação surpreendente: a professora aceitava integrar a equipe, "desde que o prefeito priorizasse também uma programação em favor dos deficientes". Uma reivindicação inesperada, vinda de uma professora de matemática, que há oito anos havia chegado a Maringá, com o seu marido, o engenheiro e também professor João Dirceu Nogueira Carvalho, para lecionar na Universidade local. Acima de qualquer outra preocupação, Clélia desejava desenvolver projetos "destinados a fazer com que os deficientes, especialmente as crianças, pudessem receber um tratamento especial numa cidade das mais bem planejadas e arborizadas do país", justificou. Sensível às colocações da professora Clélia, Ricardo Barros não só manteve o convite como lhe deu mão firme para desenvolver, paralelamente a um programa básico na área de educação e cultura, também projetos que em apenas dois anos deram à Cidade Canção uma outra característica nacional: a comunidade que mais se preocupa com os deficientes físicos. Assim, em abril de 1990, Maringá sediaria o primeiro Seminário Nacional de Cultura e Diferença para Portadores de Deficiências, que reunindo pessoas vindas de todo o país - numa programação inclusive esportiva - foi um exemplo de dignificação e valorização dos deficientes mentais, auditivos, visuais, motores, etc. Este ano, mesmo já tendo se afastado da secretaria, o seminário voltou a acontecer, pois sua substituta, Lídia Marques, empenha-se da mesma forma neste projeto de grande dimensão humana e didática. Paralelamente estimulou a criação de um inédito grupo teatral de deficientes visuais - o Reluz, que coordenado pela entusiasta Antônia Tramarin, apresentou recentemente sua quarta montagem, "Rosa de Jonas". No plano físico-urbanístico, as propostas de Clélia Maria resultaram na obrigatoriedade de ser fixada ampla sinalização em todas as ruas em que transitem pessoas com deficiências auditivas. Outro projeto, este ainda não oficializado - mas encaminhado legislativamente através do vereador Nilson de Oliveira - é o que obriga a todos os prédios públicos - e, numa segunda etapa, mesmo os edifícios destinados ao comércio, escritórios etc. - serem equipados com todos os equipamentos para deficientes (acessos para cadeiras de roda, banheiros especiais, etc.). Mãe de cinco filhos - Raul, 14, Victor, 11 e os trigêmeos Lucas, Marília e Barbará, 9 anos - as duas últimas com problemas auditivos - Clélia sempre se preocupou com as questões ligadas ao deficiente físico. Participação em congressos, seminários, ampla bibliografia e a própria atuação junto as Apaes, a levou a merecer agora o convite para substituir ao professor Almir Lambertoci na direção do Departamento de Ensino Especial da Secretaria da Cultura, o que a faz, semanalmente, passar quatro dias em Curitiba. Repleta de planos e com muita disposição, quer ampliar o atendimento do Estado - hoje com 900 classes especiais para deficientes mentais, convênios com 206 escolas e 1.453 classes orientadas por 2.598 professores para atender quase 500 mil crianças - entre 0 a 16 anos - portadores de deficiências físicas, os números são impressionantes, há um trabalho abnegado entre as Apaes e ajuda do Estado, "mas temos muito para fazer nesta missão que é uma obrigação de todos nós", garante, com seu entusiasmo jovem, esta paulista de Tupã, maringaense por adoção e, agora, paranaense por dedicação. LEGENDA FOTO - Clélia Maria Nogueira: a experiência da valorização dos deficientes físicos, na escolha certa para dirigir ao setor em todo o Estado.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
13/10/1991

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