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Aramis

Piazzolla, magia sonora mas fracasso de público

Qual é a magia de Astor Piazzola? O que o faz ser um compositor instrumentista único, de uma imensa sensibilidade, ao se renovar sempre e, aos 66 anos, mostrar uma juventude sonora rara em toda história musical? Quem foi ao Guaíra, na noite de quarta-feira, 16, assistiu um dos mais belos momentos musicais do ano. Com sua formação predileta - o quinteto - Piazzolla mostrou composições já conhecidas e sempre emotivas, como "Adios Nonino" (composta em 1966, quando morreu seu avô) e "Michelangelo 70" (citação do night-clube porteño, onde fez longas temporadas) até cinco temas da maravilhosa trilha sonora de "Tangos - Gardel no Exílio [o exílio de Gardel]", filme de Fernando Solinas, que encerrou o Fest-Rio-85 e que deve estrear comercialmente nos próximos dias. xxx O bandoneon nas mãos de Piazzolla adquire uma dimensão única, extrema - do dramático ao sofisticado (e o tango é, sem dúvida, um drama sofisticado), num contraponto perfeito ao violino de Fernando Suarez Paz, ao piano de Pablo Ziegler (em solo, em 3 momentos especiais), a guitarra de Horacio Esteban Malcino e ao contrabaixo de Hector Console. Um público muito menor do que o esperado. Nada a estranhar, já que a "culta" (sic) platéia curitibana - tida (quá, quá, quá) como "a mais exigente do País" capaz de pagar Cr$ 300,00 para assistir Richard Claydermann, deixou passar, em vazias poltronas, concertos de Bill Evans, Dizzy Gillespie e Horace Silver, entre outros. Assim, não é sem razão que Maria Rita, assessora da Dall'Arte, que traz Piazzolla ao Brasil, comentasse, ao contabilizar os prejuízos da noite: - "Está provado que é suicídio tentar iniciar uma temporada internacional por Curitiba. Só após reflexos de apresentações no Rio e São Paulo, o público daqui se liga. Piazzolla estreou nacionalmente no Guaíra e o resultado foi este: milhões de prejuízos." O próprio Piazzolla reconhece, entretanto, que não quer ser um músico popular, um ídolo da multidão. Diz: - "A maioria das pessoas é surda e não apenas na Argentina, mas em todo o mundo. Um concerto meu, em Buenos Aires, pode reunir cem pessoas. Dessas, apenas dez estão capacitadas para ouvir minha música, porque as restantes são apenas esnobes, que dizem sem nada entender: 'Fui ouvir Piazzolla, que maravilha!' Mentirosos, surdos!"
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
13
18/04/1986

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