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Pixinguinha: a feira, o projeto e Hermínio

Neste fim-de-semana, em Brasília, realiza-se o encerramento da primeira Feira Pixinguinha, dentro das três etapas previstas para este ano - a segunda de Salvador e a terceira em Curitiba, no último trimestre. De 598músicas inscritas, foram selecionadas 48 títulos de 33 compositores, que através de 4 eliminatórias, e uma finalíssima - amanhã à noite, na sala Funarte, no Distrito Federal, disputarão entre si o prêmio de terem suas músicas em discos. Mais uma iniciativa de Hemínio Bello de Carvalho, consultor de projetos Especiais da Funarte - e premiado com o Estácio de Sá, do Museu da Imagem e do Som - RJ, este ano, pelo que tem feito em favor de nossa cultura popular. A feira Pixinguinha nasceu da necessidade de entender as diversas solicitações que chegaram ao Projeto Pixinguinha de uma parcela de criadores e intérpretes de qualidade que disputavam em mercado saturados e de dificílima penetração, sem chances reais de obterem sucesso. Daí nasceu esse miniprojeto - aberto inicialmente, em forma de teste, exclusivamente, aos músicos comprovadamente residentes no Distrito Federal e que não tem ainda nenhuma música gravada. No segundo semestre a Feira Pixinguinha será levada a Salvador e, por último já com os eventuais falhas verificadas nas duas primeiras etapas revisadas, em Curitiba - dentro de uma programação integrada aos planos da Secretária da Cultura de uma programação integrada aos planos da Secretária da Cultura e Desportos de prestigiamento à música popular, através do Projeto Acorde - que hoje, aliás, tem seqüência com a única apresentação do compositor Billy Blanco, às 20,30 horas, no centro de atividades do Sesc, no Portão. *** Compositor, poeta, produtor e o grande executivo da FUNARTE na administração de Ney Braga no Ministério da Educação e Cultura na área da música popular, Hermínio foi quem idealizou o Projeto Pixinguinha, estendido em nível nacional, após a vitoriosa experiência do "Seis e Meia", desenvolvida no Teatro João Caetano, no Rio, em 1976. Ney Braga, homem que sempre gostou muito da MPB apoiou a idéia de Hermínio e o Pixinguinha foi um dos projetos mais bem sucedidos dentro do muito que a Fundação Nacional das Artes fez desde que foi criada, com o escritor José Cândido de Carvalho na presidência e Roberto Parreira na direção-executiva, ambos, aliás, mantidos pelo ministro da Eduardo Portella, que, obviamente, raciocinou de que "time que está ganhado não deve ser modificado". Hermínio Bello de Carvalho coordenou o projeto Pixinguinha até 24 de abril do ano passado, quando assumiu a consultoria de Projetos Especiais, responsável pelo convênio de consulta mútua celebrado com o Ministério das Relações Exteriores - para distribuição de uma excelente coleção da melhor MPB no Exterior, a Feira Pixinguinha e o Selo Funarte. Foi Hermínio que encaminhou a Roberto Pereira uma fórmula já aprovada pela atual coordenadoria do Projeto Pixinguinha: a de se ampliar o raio de responsabilidade na difícil tarefa de selecionar os elencos anuais do "Pixinguinha", preservando o isentando a Funarte de qualquer acusação malévola quanto aos críticos adotados na seleção dos artistas que são convidados para integrar o Projeto. Diretores teatrais e especialistas em música popular, em reunião, selecionaram democraticamente as duplas que este ano atuarão no Pixinguinha - a ser deslanchados dentro de algumas semanas. Sendo 1979 um ano de transição governamental, as 30 duplas foram reduzidas para 21 face ao pouco tempo que se dispunha para dar partida ao Projeto. Ainda assim, fazendo 441 apresentações em 13 estados brasileiros neste ano, o Projeto Pixinguinha - incluindo cachês, hospedagem e transporte aéreo de quase 200 profissionais - custará menos do que, por exemplo, as seis récitas da ópera "Traviata", dirigida por Zifrelli, cuja encenação (Cr$ 18milhões0 raspou, segundo declara Guilherme Figueiredo, os cofres da Funterj, que ele preside. *** Hermínio Bello de Cravalho não tem papas na língua e por isso declaro recentemente, frente a noticias provocativas com relação aos seus projetos: "a coragem de emitir frontalmente minhas desagradáveis opiniões evidentemente incômoda os poderosos manipuladores do poder. Em 1968 fui expulso da rádio MEC e vi justiça brasileira dar-me ganho de causa na ação que movi contra o ato arbitrário da direção daquela casa; em 1976 saí da Futerj que, também de forma arbitrária, encerrou com o Aseis e Meia", origem do Projeto Pixinguinha. E a partir de 1975, nós, compositores brasileiros, integramos uma fulminante e acirrada luta contra a máfia dos direitos autorais dentro de uma sociedade legalmente constituída - a Sobrás - e tive a honra de estar na linha de frente com meus companheiros nessa batalha que modificou o panorama do direito autoral no Brasil. E sempre as claras." *** O Projeto Pixinguinha corre perigo de ter continuidade? Em carta ao "Jornal do Brasil", Hermínio coloca sua posição: "Mesmo sem estar fisicamente no Projeto, não posso deixar de me preocupar ao vê-lo ameaçado de paralisação. Ele é, estatisticamente, um formador real de pláteias, um criador de mercados paralelos de trabalho, um serviço prestado diretamente ao contribuinte consumidor de matéria prima brasileira - no caso a nossa música popular. Seria bom que se falasse dos espaços culturais antes desativados e que ganharam potencialização através do Projeto, que fez reequipar teatros antes atirados às moscas e até inspirou a criação de um novo espaço de trabalho na carente São Paulo, e falo especificamente do Teatro Pixinguinha, nascido em decorrência do Projeto e integralmente pago pelo SESC, onde se dá continuidade ao Projeto Pixinguinha, depois de encerrada nossa programação, com aproveitamento de artistas locais". Hermínio cita outros exemplos - o projeto Muqueca, no Espirito Santos; em Salvador, "As Segundas Musicais", em Maceió, o inicio da programação que nomearam como "Arte Nossa"- a qual pode se acrescentar o "Circuito Paraná", desenvolvido experimentalmente em 1978, e que agora terá uma atividade regular, "Tudo isso, lembra Hermínio, expressa na prática, e não em detestáveis teorias, a validade do Pixinguinha, das raízes que deixa por onde passa (em muitas capitais o horário das seis e meia está estratificado). Isso evidentemente não impede a discussão de seus méritos e demetrios". Hermínio também aproveitou a oportunidade de se dirigir ao "Jornal do Brasil", para declarar que "nutro profunda aversão pelos veludos, vidros fumes e dourados desses teatros construídos e remodelados com dinheiro - atenção: - de quem pode frequentá-los. E temo por qualquer tentativa de alijar, com uma política cultural elitista, esse público que, na prática, na marra, com muita mão de obra e nenhuma politicagem, a gente viu crescer nas pláteias. Como contribuinte tenho esse direito de propor um amplo debate sobre o assunto. Música popular gera divisas, costumo dizer que é um bem ecológico e matéria de segurança nacional". FOTO LEGENDA- Hermínio: espaços musicais.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
1
22/06/1979

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