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Pombo há 80 anos já lembrava nosso povo

Mesmo o governador Ney Braga não podendo estar presente - compromissos inadiáveis obrigaram seu retorno a Curitiba - acontecerá hoje, às 18 horas, no Centro Cultural do Brasil, da academia Brasileira de Letras, no Rio, o lançamento de << O Paraná no Centenário >>, de José Francisco da Rocha Pombo, publicada pela Secretaria da Cultura e Esporte em co-edição com a Livraria José Olympio. O presidente da ABL, Austragésilo de Athayde, pessoalmente, gostaria de receber o governador Ney Braga para esta solenidade. Depois das reedições, fac-similadas do primeiro ano de << O 19 de Dezembro) e da revista << Galeria Ilustrada >>, o setor de editoração da SCE, dirigido pela professora Cassiana Licia Lacerda Carolo, dá seqüência a um vasto programa idealizado pelo secretário Luís Roberto Soares, no sentido de, afinal, sacudir o Paraná em termos editoriais. Embora a comissão editorial analise atualmente vários originais, de autores inéditos ou que não dispões de condições para lançarem seus livros, a preocupação de reeditar obras básicas de nossa bibliografia é das mais salutares. Como acentua a professora Cecília Maria Westphalen, ex-diretora do Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes da UFP e integrante do Conselho Federal de Cultura, o professor (e ex-governador) Brasil Pinheiro Machado, nas aulas de modelos de explicação histórica e historiografia brasileira, costuma dizer que o melhor modo de estudar história é ver como os historiadores a conceberam em seus escritos. Neste sentido, o livro dos morreyense Rocha Pombo (4 de dezembro de 1857-26 de junho de 1933) é << exemplar para a compreensão da historiografia tradicional >>. Responsável pelo curso de mestrado em Histórias Demográfica da UFP - considerado << centro de excelência> - e respeitada hoje internacionalmente em sua área, a professora Cecília lembra que para Rocha Pombo, << a comemoração dos fatos é alimentadora das grandes fés >>. Os heróis, os poetas e os sábios são << a grande síntese da história, quer com seus criadores os seus produtos >>. Já o professor Brasil Pinheiro Machado, 73 anos, inicia a introdução do livro lembrado que Rocha Pombo foi um intelectual típico dos escritores da primeira fase da República. Nascido na província, viveu seus primeiros 40 anos ( morreu aos 86 anos de idade( na sua terra natal, participando de toda a cultura popular, da cultura intelectual e do cotidiano provinciado. Conservou sempre a marca de sua sociedade e da posição que ocupava dentro dela. Foi homem simples e austero - como nos relata um cronista do meio literário do Rio no virar do século. Rocha Pombo se apaga no entrechoque dos diletantismo e dos cabotinismos da república das letras. E, talvez por isso mesmo, a sua obra literário não foi peneirada pela crítica da época. Mesmo a crítica atual dos historiadores das letras e da cultura brasileira mal tocadas em seus livros. Apenas sua obra histórica sofreu o impacto das competições de oficiais do mesmo oficio >>. Em 1900, por ocasião das comemorações do Quarto Centenário da Descoberta do Brasil, publicou << O Paraná no Centenário >>, onde recordou toda a vida e a cultura de uma comunidade, << a sua comunidade, e onde ordenou com calor humano e simpatia as suas lembranças e os seus sonhos de futuro - a lembrança de sua gente >>. E Pinheiro Machado salienta justamente que Rocha Pombo, há 80 anos passados, não se preocupava nas fontes históricas - << os raros documentos citados têm uma função muito secundária em face de sua própria experiência e de sua intensa comunhão com a comunidade >>, mas procurou, isto sim, mostrar o << seu conhecimento quase total do povo paranaense como uma comunidade cultural. Exatamente do povo, porque é do povo, e não o herói que nós vamos encontrar como base de toda a sua visão histórica, quando empreende a obra do historiador >>. Assim, neste seu livro que agora é reeditado com muito esmero (147 páginas, capa de Poty Lazarotto), Rocha Pombo recorda a cultura popular, os modos de trabalho da população, os folguedos das classes populares, a criação e o desenvolvimento da cultura intelectual, o caráter das lutas políticas pelo poder local, a renovação social ocasionada pela imigração européia, a construção das estradas de ferro, o sistema de educação, as bibliotecas, os teatros. O resultado é o retrato de corpo inteiro de uma sociedade provinciana, como houver em tantas partes do Brasil, antes que as sociedades locais se transformassem em periferia de um centro cultural e político abstrato >>. *** O sentido de povo e aspectos da cultura popular que Rocha Pombo colocava em seu livro - e que com tanta argucia o professor Pinheiro Machado destaca em seu prefácio, faz com que a leitura desta obra adquira, hoje, um novo sentido. E lançada pela José Olympio, uma das mais tradicionais casas editoras do País, integra-se uma política que sua direção está adotando de democratizar seus lançamentos. Basta ver os livros que saíram recentemente ou que estão programados para as próximas semanas. << Subterrâneo do Futebol e Outras Estórias >>, de João Saldanha - jornalista com raízes em Curitiba, onde passou parte de sua infância - é a ampliação de uma obra (uma das raras, aliás, sobre o esporte das multidões), que teve uma primeira edição há mais de 10 anos, e onde, em seu estilo delicioso é corajoso, conta as verdades que as torcidas nunca souberam sobre o futebol brasileiro, acrescentando um capitulo sobre os verdadeiros motivos que ocasionalmente sua discutida demissão da Seleção Brasileira há 10 anos. Já em << Ismael Silva, Samba e Resistência >>, já colocou nas livrarias, Luiz Fernando Medeiros de Carvalho faz um profundo estudo sobre o samba de Ismael, sua discografia, as letras de seus sambas e depoimentos. Outro livro que vai entusiasmar aos que lutam pela ampliação da Bibliografia de nossa MPB é << Lá no Morro da mangueira >>, de Carlos cachaça (Carlos Monteiro de Castro, 78 anos a serem completados dia 3 de agosto) - parceiro de cartola e Hermínio Bello de carvalho numa obra-prima (<< Alvorada >>) e autor de tantos sambas notáveis, como << Lacrimário >> (1940), << Vale de São Francisco >> (1948) e o antológico << Não Quero Mais Amar a Ninguém >>, parceria com cartola (Antenor de Oliveira) e Zé da Zilda (José Gonçalvez, 1908-1954), que Aracy de Almeida gravou em 1937 e Paulinho da Viola regravaria em 73 - e no qual está um dos mais belos versos da língua portuguesa: << Semente de amor/Sei que sou desde a nascença/Mas sem ter vida e fulgor/Eis a Minha Sentença >>). Para escrever a história do morro da Mangueira, os sambistas em seu cotidiano, os moradores, a gloriosa Estação Primeira da Mangueira, Carlos Cachaça teve a colaboração de Arthur Loureiro e Marília Barbosa, dois incansáveis pesquisadores da MPB, autores das premiadas monografias sobre Pixinguinha e Paulo da Portela (Paulo Benjamim de Oliveira, 1901-1949), entre outros autores. Ainda na série de edições populares da José Olympio estão programados << Mangue >>, de Osório Peixoto Silva, sobre o drama, paixão e dia dos pescadores de Atafona, região de São João da Barra, no Estado do Rio e a antologia << O melhor da crônica >>, com texto de João Saldanha, Luiz Fernando Veríssimo e Aldir Blanc.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
1
29/05/1980

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