Login do usuário

Aramis

Porque se deve ver "Por Que?"

"Por Quê?" (cine Scala, até amanhã, 4 sessões) é mais um excelente filme que chega a cidade sem qualquer promoção especial e, lançado [descuidadamente], vai passando sem que o público que realmente aprecia obras de qualidade tenha sua atenção voltada para esta produção honesta, corajosa e sincera do cineasta Nanny Loy, com uma fimolgrafia restrita mas expressiva. A maior atração deste "Detuno In Atezzo Di Giuzo", seu título original, reside em termos de público na presença de Alberto Sordi, normalmente visto como bom comediante. Aqui, entretanto, pode-se apreciar a capacidade dramática de Sordi, vivendo um personagem fascinante em sua simplicidade: um próspero engenheiro radicado na Suécia há 8 anos, satisfeito por ter vencido uma importante concorrência, decide gozar três semanas de férias para trazer a nórdica esposa (Elga Andresen) e as duas filhas para conhecer a sua pátria, "a Itália", o melhor país do mundo". Na fronteira é preso e começa a sofrer uma série de humilhações, vítima da burocracia judiciária e desorganização do sistema penitenciário, chegando quase a loucura. Afinal, é liberado, após saber qual a acusação que sobre ele pesava: era funcionário de uma firma que construiu um viaduto numa rodovia federal, que ao desabar causou a morte de um turista alemão. As andanças do engenheiro de prisão para prisão as condições sub-humanas dos presídios e principalmente o enfoque de colocar um cidadão honesto, pai de família respeitável, frente à uma situação inesperada (8e só não usamos a adjetivação "Kafkaniana", pelo esgotamento que foi dada a esta expressão tal a sua utilização inoportuna tantas vezes) e absurda, fazem com que este "Por Quê? lembre outro pequeno clássico do mais corajoso cinema italiano contemporâneo: "Só Resta Esquecer", também enfocando a via-crucis enfrentada por um arquiteto, preso numa penitenciária de criminosos comuns, acusando de um delito primário (atropelamento) mas que é envolvido em toda a corrupção que caracteriza um presidio. Nanni Loy, que com seu "Quatro Dias de Nápoles", há 13 anos já havia ganho a admiração e o respeito da crítica, mostra neste "Detuno In Atezzo Di Giuzo" segurança e consciência política numa crítica nacional à discutível justiça dos homens. Alberto Sordi mereceu os dois troféus que recebeu (Leão de Ouro, em Veneza e Urso de Prata em Berlim) por sua atuação neste filme indispensável de ser visto por quem gosta de bom cinema. E cuja trilha sonora de Carlos Rustichelli está entre as melhores que já ouvimos no cinema italiano contemporâneo, fazendo lamentar que seja impossível encontra-la em disco.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
4
25/02/1975

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br