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Aramis

Premiado com o Oscar, amigo de Kubrick, hoje é esquecido

Neste sábado de Carnaval, 4 de fevereiro, Arne F. Sucksdorf completou seus muito bem vividos 72 anos. Há duas décadas Arne vive, anonimamente em Cuiabá, em companhia de sua esposa, índia, que conheceu no Pantanal, quando ali, extasiado pela natureza, permaneceu praticamene acampado por 12 anos. Um homem que com "Ritmos de uma cidade" (Manniskori Stad, 1947), focalizando Estocolmo, ganhou o Oscar de curta-metragem e também a Palma de Ouro em Cannes, citado em dezenas de livros de cinema, preferiu a tranqüilidade de uma das regiões mais quentes do mundo - mas onde encontrou aquilo que sempre o fascinou: a natureza tropical - embora esta, ameaçada seriamente nos últimos anos. Georges Sadoul, o maior dos historiadores do cinema, na página 286 de seu "Dicionário de Cineastas" (Livros Horizonte, Lisboa, 1959) assim define Sucksdorf: "fotógrafo, argumentista e fazendo a montagem de todos os longas e curtas-metragens que realizou, é um dos maiores documentaristas contemporâneos, de quem se devem fixar sobretudo "Ritmos de uma cidade" e "A grande aventura". Tem, ainda mais que o sentido da bela imagem, o do ritmo, da arte e da vida: com uma atenção apaixonada, deslumbra-se perante os gestos ou os movimentos dos pássaros, dos animais selvagens, dos homens, dos campos, das florestas, do mar, da cidade. É como os seus melhores compatriotas cineastas ou escritores, um poeta lírico da natureza". Estudou cinema no início dos anos 30 em Berlim, onde foi aluno de Klein-Rogge, que inspirou a Fritz lang o personagem "Dr. Mabuse". Estreou como realizador em 1936, com "Rapsódia de Agosto" (En Augustinapsodi) e durante 20 anos realizou duas dezenas de filmes, entre curtas, médias e longas-metragens rodados em várias partes do mundo. Autor de três livros ("Amanhecer", "Terra e Homem" e "A Grande Aventura"), foi um dos criadores da Associação de Autores Suecos e, nos anos 50, dividiu com Ingmar Bergman a direção dos estúdios Svenska. Pela importância de sua obra, o ensaísta Mauritz Edstron lhe dedicou um livro. No início dos anos 60, vindo ao Rio de Janeiro para dar um curso de cinema (que teve entre os alunos nomes como Cacá Diegues, Glauber rocha, Eduardo Escorel, Joel Barcelos, Dib Lufti, Arnaldo Jabor e Joaquim Pedro de Andrade), Arne se apaixonou pelo Brasil. Acabou realizando no Rio de Janeiro, entre 1964/65, um longa-metragem sobre a infância desamparada ("Uma Fábula"), que praticamente nunca teve lançamento comercial no Brasil. Sua contribuição foi grande aos jovens cineastas que iniciavam o Cinema Novo, especialmente pela introdução das técnicas de som direto. Quando encerrou o curso, generosamente, Sucksdorf deixou no Rio de Janeiro o valioso equipamento que dispunha - câmaras, nagras e uma moviola que, inclusive, continua em atividade na cinemateca do MAM. Com uma equipe brasileira fez o longa - que teve dois títulos - "Uma Fábula" ou "Meu Lar em Copacabana", que encontrou problemas com a censura mas foi levado a Cannes e obteve premiações internacionais. Para a TV Sueca fez uma série de documentários ("Mundo à Parte"), quando esteve no Pantanal Matogrossense - então de dificílimo acesso e se apaixonando pela região. Em seus filmes e reportagens em jornais e revistas, começou a denunciar a destruição da fauna, editando um livro de fotografias, "Pantanal: um paraíso ameaçado?" (publicado pela Fundação Roberto Marinho) e que teve edições na Suécia onde vendeu mais de 100 mil exemplares. Quando estiveram no Brasil, os reis da Suécia - Carlos XVI e Sílvia Renata, lhe concederam uma comenda especial em reconhecimento ao seu trabalho, não só como cineasta, mas ecologista. Agora, Joel Pizzini - após revelar em "Caramujo-Flor" a poesia e o universo de Manoel de Barros, poeta injustamente esquecido no Brasil - vai fazer com que se (re)conheça mais um dos grandes documentaristas do século - e sobre quem poucos ouviram falar.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
04/02/1989

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