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Aramis

Presença feminina

A proporção de discos de mulheres - cantoras, compositores, vocalistas - nacionais e estrangeiras que aparecem a cada mês no Brasil fará com que, em breve, se justifique um espaço exclusivo para o << som feminino >>. E o mais importante é que qualidade está aumentando, tantos dos nomes já conhecidos como por parte das inúmeras revelações - ou estreantes - que temos a cada suplemento. Hoje, mais uma vez, vamos ao registro, mesmo que sucinto, de mais um grupo desta presença feminina na MPB - desde cantores que estão explodindo em remos de Ibope, como Joana, até uma dupla feminina, de raízes rurais (<< As Primas >>, << Sonae & Lucimar >>), sem esquecer - ora porque - Cláudia Barroso, que no seu gênero, e para seu público, tem seu direito ao espaço onde Leci Brandão mantém a sua presença de compositora-intérprete, e que Cristina Camargo, Fabíola e Rosana, são presenças. Isto sem falar em cantoras como Joyce, com << Feminina >> (Odeon, abril/80) ou Nara Caymmi, em seu elepê ainda não colocado nas lojas, mas já convimos numa prova-de-artista, e que, sem favor nenhum, estará entre os melhores do ano. Ou seja, felizmente na música brasileira as feministas que me perdoem, mas não há mais porco chauvinismo. Ao contrário, assim como teatro, estamos é caminhando para um matriarcado musical. Contra o que aliás não temos, absolutamente, nada. Muito pelo contrário! xxx Entre cinqüenta e poucas novas presenças femininas na MPB, em 1979, Joana foi uma que deu certo: seu << Nascente >> ficou entre os discos mais vendidos e ela começou a lotar auditórios. Por isso, é natural que << Estrela-guia >> (RCA, abril/80), produzido novamente por Arthur Laranjeira, mereça um atendimento especial. Afinal, a gravadora sabe o quanto significa ter uma nova surperstar em seu elenco e Joana reúne méritos para tanto. Um disco bem acabado, com um repertório insinuante, muitas vezes quase excitante, quando em << Momentos >>, dela e Sarah Benchimol, mostra uma postura recentemente adotada pela mulher, em função de sua progressiva liberação. << Estrela-Guia >> também de Joana/Sarah, tem também versos insinuantes: << Você chegou tão diferente/ Desconcertou meu coração/Depois do amor não vale a pena/Desapegar, desesperar >>. De Gonzaguinha é << Quarto de Hotel >>, outra canção das mais importantes em termos de sugestões, enquanto << Costumes >> (Roberto-Erasmo Carlos), garante a aceitação do disco junto a outra faixa de público. Mas a grande música do LP é << Labaretas >>, parceria do Divino cartola e poeta Hermínio Bello de carvalho, onde a harmonia e a poesia se completam a voz perfeita, o sentimento de Joana. Com Sarah Benchimold e Tony Bahia, Joana é ainda autora de << Coração cadeado >> , << Desengano >> e << Pecado Venial >>, enquanto só com Sarah temos << Bibelo >>. Cada faixa merece uma audição atenciosa e Joana tem tudo para ocupar o espaço entre as superstar feminista de nossa música popular. Basta ouvir o seu disco para se ter esta certeza. LECI BRANDÃO (da Silva), carioca, 36 anos, ex-operário, hoje formada em Direito, é antes de tudo uma compositora. Começou a fazer música em 1963, mas só 10 anos depois, com << Quero Sim >>(com Darci da Mangueira), na interpretação de Renata Lu, vencia o II Encontro nacional do Compositor de Samba. Pelas mãos de Sérgio Cabral, em 74 fazia seu primeiro disco, um compacto duplo, na Marcus Pereira (com << Benedito de Lima >>, << Deixa prá Lá >>, << Preferência >> << Quero Sim >>). Logo vinha o convite para ser a primeira mulher a participar da ala de compositores da mangueira e um primeiro elepê, ainda na Marcus Pereira, com o título de << Antes que eu volte a ser nada >>, samba que defendeu na Abertura (Rede Globo, 75). O sucesso já a levava a passar pela Polygram, onde se sucederam os elepês. Agora, classificando << Essa Tal Criatura >> no Festival MPB-80, este samba bem estruturado dá título ao seu novo LP (Polygram, 2451146, abril/80). Seis das 12 faixas são exclusivamente de Leci: a que dá título ao disco, << Lugar Garantido >>, << Sem Vingança >>, << Nas Águas do Rio Negro >>, << Chantagem >>, e << Não Cala o Cantor >>. Da dupla Marino Pinto-Mário Rossi, regravou o belíssimo << Que Será >>; dos baianos Paulinho Diniz/Edil Pacheco é << Cantarerê >>; de Zé Maurício/Antônio Cláudio, o << Fim de Festa >>. Com novos parceiros, completa o disco: João Nepomuceno (<< Prece a seu João >>), Ivor Lancelotti (<< Dobrando as Cobertas >>) e Rosinha de valença (<< Fim de Festa >>). Pessoalmente preferimos Leci como compositora do que intérprete, mas, de qualquer forma, seus discos são válidos, fortes e bem produzidos, como este, que teve em << Fim de Festa >>, a participação de outra cantora em escala ascendente: a maranhense Alcione. FABÍOLA, pernambucana de Recife-mas no Rio desde os 7 anos, só agora chega ao LP (CBS, 138181, maio/80), mas é uma cantora experiente: desde os 18 anos vem cantando em alguns programas de televisão e, principalmente, clubes noturnos (no << Pujol >>, ficou 8 meses) com grupos como o de Osmar Milito e Azimuth. No ano passado, com Celso Viáfora dividiu uma temporada na Sala Funarte e, com Fátima Regina, outra no Teatro Dulcina. Por isso, estréia no LP com o pé direito, escolhendo um repertório brasileiro, de bom gosto, alternando compositores conhecidos a gente nova. Assim, gravou Ivan Lins/Ronaldo Monteiro (<< Essa Maré >>). Djavan (<< Como Posso Saber >>) , Dedé da Portela (<< Contrato de Risco>, parceria com Sérgio Fonseca), Cláudio Jorge/Roberto Nascimento (, nesta com a participação de Edil Pacheco; << Palavras da Noite >>). Outros compositores mais jovens, mas igualmente inspirados, também mereceram inclusão neste seu elepê, onde entre vários instrumentistas, destaca-se o maestro Copinha, na flauta: << Nunca se Esquece >> (Barbosa da Silva/Salvador Fernandes), Neoci/Alcir Capia (<< Malhas do Tempo >>), Daniel Santos (<< Todinho Saudade >>), Reinaldo Arias/ Paulo Gyrão (<< Só Uma Mulher >>). Destaque especial para Nei Lopes (parceiro habitual de Wilson Moreira), que aqui fazendo letra e música, tem seu << Escravo do Amor >> interpretado com muito balanço por Fabíola. Ao contrário de Fabíola, Cristina Camargo chega ao elepê quase que por acaso. Aos 24 anos, filha de classe média, sempre gostou de cantar e compor, tendo em Vânia Andrade, estimuladora. Trabalhou 3 anos num banco e depois numa galeria de arte em Ipanema. O convite para fazer um disco surgiu por acaso e ela nem mais esperava que o mesmo se concretizasse quando o produtor Márcio Moura a levou ao Estúdio. O resultado é que mais uma bela voz está na praça, revelando-a como compositora em seis faixas: << natureza Morta >>, << Cara Metade >>, << Encarcerado Coração >>, << Nau da Lucidez >> e << Corda bamba >>, onde acumula letra/música, e, com parcerias - Mara (<< Estado de Graça >>) e Wania Andrade (<< Poço Sem Fundo >>). De Marcos/Paulo Sérgio Valle, << Moral Tem Hora >> e de Yavito/Mariozinho Rocha/Paulo Sérgio Valle, << Romance de Jornal >>. Na última faixa, acoplada a << Poço sem Fundo >>, Cristina incluiu << Apesar de Você >>, de Chico Buarque. Bonita, jovem, Cristina Camargo é mais um lançamento da CBS no mercado musical. E por coincidência ela tem uma homônima curitibana: a Tina (Cristina), também Camargo de sobrenome, belíssima voz, e que também mereceria uma chance profissional. Lançando tantas vozes femininas novas, a CBS aproveita para beliscar a faixa sertaneja: e com << As Primas >> (Rosane e Lucimar), selo Uirapuru, apresenta duas morenas que interpretam um repertório para chegar a uma outra faixa de público, com músicas românticas como << Dorzinha Gostosa >>, << A Estátua >> - mas principalmente amorosamente dramática (<< Lar Destruído >>, << Esperança Perdida >>, << Falso Juramento >>, << Súplica de Amor >> e << Desprezo de Amor >>). Cláudia Barroso começou como crooner da orquestra de Coppia (ou seja, o querido Copinha), no Copacabana Palace, nos anos 50, mas só no final dos anos 60, através do programa de televisão Silvio Santos é que passou a ser notada: substituindo ao jornalista Nelson Motta no << juri >>, criticou uma caloura, atribuindo-lhe uma nota que provocou polêmica. Desafiada pelo animador a interpretar a música - um bolero de Dolores Duron - Cláudia subiu ao palco e deu o recado. O resultado é que da jurada passou a cantora e Waldick Soriano, ali presente, prometeu lhe gravar uma de suas músicas. E catapulteada pelo prestigio de Waldick - com a qual teve tórrido romance - Cláudia despontava numa carreira de boleiristas, estourando nacionalmente com << Você mudou demais? >>. Nestes últimos anos. Cláudia acumulou uma apreciável fortuna e seus discos garantem expressivo faturamento da Continental, através de 15 elepês. Fazendo shows de Norte a Sul, experiências diversas (inclusive como atriz em << Bandeira 2 >>), Claudia se mantém na sua linha de intérprete que busca boleros mais identificados com o público simples, que aprecia seu estilo - e curte sua imagem de << coroa >> sofisticada e atraente, como demonstra ainda agora, na foto de Oswaldo Micheloni, na capa e contracapa de seu novo lp (Continental, 101404219, maio/80). Novamente Claudia fala de casamentos frustados (<< A Fase >>, Elizabeth/Sérgio Bittencourt), Infidelidade (<< A Outra >>, Geraldo Cunha; << Eu Te Perdi >>, Umberto Silva/Motta Vieira/Ozires de Mello), inclui duas versões - << O Silêncio >> (II Silênzio / Brezza-Rosso; << Pra Você, Para Mim/e << foi Uma Vez >>, ambas de Armando Manzanero) e lembra que Fernando Cesar foi um bom compositor (<< Tudo ou Nada >> e << Haja O que Houver >>, este segundo em parceria com Nazareno de Brito). Claudia não interpreta nenhuma composição própria, mas incluiu duas canções da talentosa Anastácio: << Amor na Tarde >> e << Tire o Seu Galo da Rinha >>, de certa forma a música mais bem humorada do disco. FOTO LEGENDA1- As Primas FOTO LEGENDA2- Joanna estrela-guia FOTO LEGENDA3- Leci Brandão essa tal criatura FOTO LEGENDA4- Claudia Barroso
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Jornal da Música
1
15/06/1980

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