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Aramis

Pressa danosa

Embora na teoria e na prática, muitas vezes, a pressa não seja inimiga da perfeição "Vitória em Entebbe" ( Cine Vitória, hoje, último dia de exibição) é uma prova de que a vontade de faturar em cima de um dos mais dramáticos episódios do terrorismo internacional, em busca de aparente atualidade, pode conduzir a resultados desastrosos. Pois, na corrida que se seguiu aos episódios de 28 de junho de 1976, quando um "irbus" da Air France, foi seqüestrado por terroristas para o aeroporto de Entebbe, na Uganda, a Warner Brothers conseguiu ser a primeira produtora a aprontar o filme (há dois outros em fase de lançamento, um deles produção israelense). Entretanto, a pressa e a improvisação comprometeram irremediavelmente um tema fascinante que, por sua atualidade e sentido de documentação, poderia resultar num filme importante, servindo inclusive para esclarecer milhões de espectadores, ainda atônitos perante o que sucedeu há apenas sete meses - e em cujos episódios estiveram envolvidos brasileiros, uma das quais uma senhora de ligações familiares curitibanas (parente próxima do arquiteto Jaime Lerner). Entretanto, tudo parece ter contribuído para fazer de "Victoryy at Entebbe" um filme falso, mal estruturado, sem unidade e que cansa o espectador mais exigente após os 30 primeiros minutos. Mesmo considerando-se que o roteirista Ernest Kinoy não teve condições de pesquisar com maior profundidade os fatos reais, principalmente aqueles ocorridos no QG em Tel Aviv (no final, um letreiro, lembra que "muitos fatos ainda permanecem em segredo") não se justifica uma visão tão primária, uma apresentação elementar dos personagens e diálogos desinteressantes. Rodado quase que exclusivamente em estúdios, sem conseguir transmitir nas imagens a dramaticidade dos momentos vividos pelos reféns, "Vitória em Entebbe" parece muito mais um medíocre filme de aventuras, do que um semi-documentário, amparado em acontecimento recente. Seqüestros aéreos entraram em moda também no cinema e até agora não houve nenhum filme significativo, mas, em termos de vazio, de incompetência cinematográfica, esta produção da Warner, com direção entregue ao novato Marvin Chomsky leva a palma. Mesmo atores experientes têm atuações medíocres (Helmut Berger, Burt Lancaster, Kirk Douglas, Elisabeth Taylor), e só mesmo a veterana (e admirável) Helen Hayes consegue sobreviver artisticamente - ironicamente, no papel de uma das reféns que não sobreviveu a operação pois, adoentada, estava internada num hospital de Entebbe, quando os comandos israelenses fizeram a operação-resgate. "Vitória em Entebbe" foi realizado com fins específicos de faturar bastante em pouco tempo, sensibilizando principalmente a sempre fiel platéia israelita. Mas mesmo essa emoção a parte, não se entusiasma com o filme - tão vazio e mal acabado, como é apresentado. Perante este, as duas outras versões já são, antecipadamente, melhores.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
4
04/02/1977

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