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Aramis

A próxima safra de filmes sobre Chico e a Amazônia

A imprensa internacional abriu espaços para o julgamento da década - dos assassinos do sindicalista Chico Mendes, em Xapuri, no Acre - mas a transposição de sua vida ao cinema continua a ocupar generosos espaços nas publicações americanas. Em 23 de novembro, em sua edição dominical, o "Boston Globe" dedicou uma página para analisar não apenas os diversos projetos existentes para fazer com a vida (e morte) de Chico Mendes um filme na mesma linha ecológico-denúncia de "A Montanha dos Gorilas", mas questionando, inclusive, se há público para vários outros filmes que se baseiam na Amazônia e na ecologia. Em artigo de James Ryan, enviado de Los Angeles, a matéria começa registrando que dois filmes realizados com capitais europeus fazem abordagens diferentes de ações ecológicas na floresta brasileira: "The Fifth Monkey" (O Quinto Macaco), escrito e dirigido pelo francês Eric Rochet, com Ben Kingsley (Oscar 1982 de melhor ator por "Gandhi") e "Amazon", do finlandês Mika Kaurismaski, que embora já tenha vindo ao Brasil por ocasião do V FestRio e anunciado projetos de aqui rodar um filme, continua com sua obra inédita comercialmente entre nós. "O Quinto Macaco", uma produção que se arrastou por alguns meses e que foi rodado mais nas matas próximas ao Rio de Janeiro do que na Amazônia - fracassou em seu lançamento em Nova Iorque, segundo diz Ryan, que mostra-se também cético em relação a "Amazon" - que só agora está estreando na Finlândia. Em seguida, o articulista do "Globe" comenta os projetos de filmagem da vida de Chico Mendes, assassinado há dois anos: "O de David Puttman está engatinhando enquanto Robert Redford, que perdeu para a dupla John Peters e Peter Guber ("Batman") os direitos do filme, vai levar adiante um projeto independente - com uma história semelhante, mas que não pretende biografar Mendes, mas sim focalizar uma saga pela defesa da mata. O filme se chamará "Rain Florest". Além da superprodução "At Play in the Fields of the Lord", que Hector Babenco acabou de rodar na Amazônia, baseado no livro de Peter Matthiessen, existem dois outros projetos que também se voltam para aquela região: "Green Fire", de Nelson Entertainment e "Fern Gully: The Last Rain Florest". Existe espaço no mercado para todos esses filmes? Indagou James Ryan a alguns dos produtores envolvidos. Surpreendentemente o executivo da Nelson Entertainment, Barry Spikings - "que como os outros produtores está mantendo os detalhes do filme muito bem escondidos" - a questão é delicada: - "Não há. Mas não é como fazer um filme de gangsters. Eu não acho que se possa fazer muitos filmes sobre Chico Mendes e o Amazonas. Mas haverá espaço para um ótimo filme que atraia muita atenção, positiva para o problema". O jornalista Andrew Revkin, do "Los Angeles Times", que escreveu um dos três livros lançados nos últimos 60 dias nos EUA sobre Mendes ("The Burning Season"), também se questiona a respeito: - "É uma situação muito irônica. Há toda uma propaganda e euforia em torno de Chico Mendes, mas não apareceram tantos leitores para os livros publicados. Portanto, eu não sei se isso é um bom sinal para os filmes que estão sendo anunciados". xxx No Brasil, após a briga de foice que a viúva de Chico Mendes, Ilzamar Gadelha e entidades de seringueiros provocaram ao leiloar os direitos de adaptação - e com os direitos vendidos a Jofre Rodrigues, a questão não evoluiu. É que uma advogada curitibana, Zélia Gianello Oliveira, numa mostra de grande habilidade jurídica, provou a existência de uma primeira esposa de Chico Mendes, Eunice Feitosa Mendes, e sua filha, Angela Maria, 21 anos - que, para qualquer utilização da imagem de seu marido e pai, terão que ser consultadas. Assim, em seu confortável escritório, Zélia mantém-se tranqüila: mesmo Robert De Niro, que também andou se interessando pelo personagem, já lhe telefonou fazendo uma proposta envolvendo muitos mil dólares. Até agora, Zélia não deu a menor sinalização a respeito e garante que qualquer projeto - no Brasil ou Estados Unidos - que envolva Chico Mendes será por ela interditado se não houver prévio acordo.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
24
28/12/1990

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