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Quando Sartre quase veio visitar Curitiba

Há 20 anos, quando esteve no Brasil, ciceroneado por Jorge Amado, o filósofo e escritor existencialista Jean-Paul Sartre, que morreu terça-feira, 15, em Paris, aos 74 anos, iria estender sua visita a Curitiba. Na época, o jornalista e professor Hélio de Freitas Publielli, então subsecretário da redação de O ESTADO, era um dos maiores entusiastas da obra de Sartre e convenceu o empresário Aristides Mehry, fundador e então proprietário da Editora "O Estado do Paraná S/A", a patrocinar a vinda de Sartre e sua esposa, a escritora Simone de Beauvoir, a Curitiba - que vivia um momento de efervescência cultural, com jovens intelectuais discutindo a sua obra, polemizando em longos artigos nos extensos suplementos literários, na época risonha e franca em que o custo do papel permitia espaços para verdadeiros ensaios filosófico-literários. Há 20 anos inexistiam as múltiplas instituições culturais que hoje dispõem de bons orçamentos para promoções (nem sempre das mais justificáveis) e, para que um intelectual da importância de Sartre viesse a Curitiba, foi necessária a iniciativa de um grupo de intelectuais e jornalistas - que após contatos telefônicos e conseguir recursos para cobrir as despesas, ficou frustrado pelo cancelamento da visita. As razões detalhadas porque Sartre e Simone acabaram não vindo ao Paraná. Hélio e seus companheiros de geração poderão contar, agora, quando com a morte do autor de "Entre Quatro Paredes" sua personalidade e obra voltam a motivar reportagens. xxx Se, por um lado, intelectuais como Puglieli, Walmor Marcelino, Ernani Reichmann e outros, no final dos anos 50 e até 1962/3, preocupavam-se muito com as idéias, as posições e o teatro político de Sartre, coube a um homem de teatro que apesar de desenvolver um trabalho muitas vezes criticado e subestimado, mas persistente e idealista, Armando Maranhão, até hoje dirigindo o Teatro do Estudante do Paraná (ao menos como entidade jurídica, sem fins lucrativos) ter feito várias temporadas de "Entre Quatro Paredes", onde Sartre cunhou uma frase célebre: "O inferno são os outros". Em várias temporadas - a última das quais no antigo Teatro de Bolso, na Praça Rui Barbosa, em produção de Paulo Sá (hoje próspero publicitário), também um dos intérpretes, Maranhão levou a um grande público esta peça de Sartre, tendo sempre em Rosinha Azevedo (hoje afastadas dos palcos) e a admirável e competente Lala Schneider atrizes constantes. A primeira montagem de "Entre Quatro Paredes" (Huis Clos. 44), no Brasil, foi feita pelo TBC, em 1949, com direção de Adolfo Celi - hoje famoso ator do cinema europeu, que seria remontada, entre outras vezes, já nos anos 70, por Luís Sergio Percon (1936-1976) e Sergio Brito. "Mortos Sem Sepultura" (1946), foi encenada em São Paulo pelo TBC (1954) remontada, há poucos anos, por Fernando Peixoto, o ator-diretor gaúcho, ex-Oficina, que atualmente começa a dirigir "Santa Joana dos Matadouros", de Bertolt Brecht, produção e interpretação de Ítala Nandi no papel título, que terá sua estréia nacional no Guaíra, em agosto próximo. Outra das peças mais famosas de Sartre, "A Prostituta Respeitosa" (1946), teve uma montagem em Curitiba, em 1963, no Teatro Guaíra, com direção de Walmor Marcelino. Mas a maior parte de suas peças continua inédita no Brasil, como lembrou o crítico Yan Michalski, do "Jornal do Brasil", citando especialmente as duas que considera mais densas e complexas: "O Diabo e o Bom Deus" (1961) e "Os Seqüestrados de Altona" 1960), acrescentando "nunca foram e tudo leva a crer que nunca serão montadas entre nós: o tempo em que sua encenação seria viável já passo, e há muito". "Os Condenados de Altona" foi filmado em 1970 por Vittorio De Sica (1920-1974) com Sophia Loren, Frederich March e Maximilian Schell, mas o filme passou despercebido: ficou apenas 5 dias em exibição no Cine Glória e nunca reprisado.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
6
18/04/1980

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