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Aramis

As queixas de um ator que fez até um teatro

Embora não seja homem de carregar mágoas, José Maria Santos lamenta um fato: o pouquíssimo aproveitamento que os artistas paranaenses têm por parte das agências de publicidade. Especialmente em relação a propaganda oficial, acredita que poderia haver a maior presença dos nossos artistas. - "Forma-se aquele círculo vicioso: são prestigiados artistas globais, do momento, porque são conhecidos. Mas como nossos artistas nunca aparecem - ou raramente são chamados - continuam a ser desconhecidos". Ironicamente, lembra José Maria, no início dos anos 50, quando inexistia qualquer profissionalismo em nosso teatro, existia até uma associação de críticos de teatro, das quais faziam parte o hoje todo poderoso senhor secretário da Cultura (René Dotti), então escrevendo no "Diário do Paraná"; Nelson Faria de Barros de "O Estado do Paraná"; P. A. Nascimento, do "Diário da Tarde" e Rogério Dellê, da "Gazeta do Povo", entre outros. A cobertura era intensa e havia nomes populares, conhecidos junto ao público (é bem verdade que inexistia a televisão), capazes de atrair centenas de espectadores a montagens amadoras que aconteciam em improvisados palcos da cidade - antes da inauguração do Auditório Salvador de Ferrante, em dezembro de 1954. Hoje, raciocina José Maria, mesmo com toda generosidade da imprensa em relação aos eventos teatrais, não existem artistas locais conhecidos do grande público. São nomes e rostos anônimos, justamente por uma ausência de maior mídia junto a televisão - o que poderia, em seu entender, ser obtido se houvesse um maior prestigiamento ao menos dos homens de publicidade, valorizando nossos profissionais, "ao invés de pagarem fortunas para trazerem estrelas globais, de efêmera popularidade obtida através das telenovelas". xxx José Maria Santos tem muita moral para falar, sempre corajosamente, das dificuldades de nosso teatro. Afinal, são três décadas e meia de atividades e de uma participação efetiva. Foi ele que, quando presidente da associação dos produtores de teatro lutou e trabalhou, até braçalmente, carregando pedras, tijolos e telhas, para que fosse inaugurado o Teatro da Classe, aberto em 30 de abril de 1981 com a comédia "A Reputação dos 4 Bicos", de Luís Groff. Agora, quando a Secretaria da Cultura, com recursos da Loteria Estadual, anuncia a implantação definitiva do teatro - totalmente reformado - José Maria nem é lembrado em seus esforços. Mas foi ele - e isto deve ser dito em alto e bom tom - quem primeiro lutou para que a antiga malharia não fosse transformada num estacionamento e ganhasse sua função cultural. Outras pessoas integraram-se a luta posteriormente e quando a cidade ganhar o novo teatro muitos serão os que deverão ser lembrados, mas José Maria, com seu pioneirismo, merece um espaço a parte. xxx Quando o Teatro da Classe ficou pronto, há oito anos passados, José Maria esperou que colegas produtores se animassem a produzir um espetáculo inaugural. Ninguém se acorajou e o próprio Zé bancou a produção da comédia de Luís Groff que ficou seis meses em cartaz, com ótimo público. Posteriormente, no restaurante que funcionava nos fundos do teatro, Zé Maria aproveitou o momento político - quando da vitória de José Richa e a chamada ascensão dos "pés roxos" no poder estadual - para a comédia "Nem Gay nem Bicha". A fórmula do humor político prosseguiria com "Zé Maria Procura Sarney para se Coçar", outro de seus grandes sucessos. Em compensação, a produção de "Alegre Desbum", de Oduvaldo Vianna Filho, representou prejuízos imensos - recuperados, mais uma vez, com uma nova temporada de "Lá", a exemplo do que faz agora. Com sua experiência teatral, Zé diz: - "Sempre que eu escolho um espetáculo a coisa dá certo. Mas quando vou atrás de sugestões, acabo tendo prejuízos...".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
14/07/1989

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